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Renan Calheiros no plenário do Senado: esquerda ou direita não importa, desde que continue no poder. | Jonas Pereira/Agência Senado
Renan Calheiros no plenário do Senado: esquerda ou direita não importa, desde que continue no poder.| Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

“Já tentaram me matar muitas vezes, mas eu não sou morredor”, costuma dizer Renan Calheiros (MDB-AL). A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) e a onda de rejeição da velha política colocam o senador alagoano em seu mais difícil teste de sobrevivência política em décadas. Em campanha para presidir o Senado pela quinta vez, Renan tenta se realinhar ao novo eixo de poder e faz um esforço para se aproximar de Bolsonaro.

Pode até não dar certo. Mas não chega a ser uma novidade para um político que, apenas nos últimos anos, deixou de ser aliado do PT para defender o impeachment de Dilma Rousseff (PT), fez parte da base de Michel Temer (MDB) e pulou fora do barco do colega de partido para subir no palanque de Lula – muito popular em Alagoas num momento em que Renan corria o risco de não se reeleger ao Senado.

Renan e Dilma: apoio ao PT vinha desde o mandato de Lula.Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Renan ensaia discurso pró-reformas liberais e a favor do conservadorismo

“O sentimento do MDB é de ajudar o governo e fazer as mudanças de que o país precisa. Eu só posso ser produto da indicação da minha bancada se concordar com isso”, diz Renan. Ele passou a usar as redes sociais para se adaptar aos novos tempos, fez ataques a indicações políticas para cargos públicos (compromisso de campanha de Bolsonaro) e até flexibilizou sua visão sobre pautas sociais.“Quando a sociedade muda os costumes, o Parlamento tem que atualizar as leis. Muitos itens da pauta de costumes do Bolsonaro eu vou ajudar”, afirmou.

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Crítico mordaz das reformas econômicas do governo Michel Temer durante o período em que havia se reaproximado de Lula, Renan também tenta amenizar suas críticas à pauta liberal para se alinhar ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Renan se aproximou de Guedes no fim de novembro. Seu objetivo era derrubar um possível veto da equipe econômica a seu nome.“Como eu, muitos senadores não são tão liberais. Mas nós achamos que a economia vive um estágio que precisa de mudanças”, diz o senador.

Renan e Temer: senador apoiou e depois virou oposição ao ex-presidente.Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Então líder do MDB, o senador trabalhou em 2017 contra a aprovação da reforma trabalhista de Temer e disse que sua proposta de mudança na Previdência era “exagerada”. Agora, diz que fazia críticas “específicas” . A reforma da Previdência de Bolsonaro, ao menos no discurso do governo, será mais “profunda” que a de Temer. E o atual presidente também promete aprofundar a flexibilização da legislação trabalhista aprovada por seu antecessor.

O senador alagoano busca mostrar que não é um antibolsonarista. Cita os pacotes de corte de gastos que propôs em seu segundo ciclo na presidência do Senado, de 2013 a 2016. “Nossa convergência é a faca”, afirma, tentando se aproximar da promessa de Bolsonaro de reduzir o tamanho do Estado.

Renan representa a velha política? Ele responde: “Deixem eu fazer a transição entre o velho e o novo”

Enquanto o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) conseguiu a adesão do PSL de Bolsonaro à sua candidatura a presidente da Câmara, Renan ainda conta com a antipatia de integrantes do governo. O senador alagoano quer derrubar essas resistências e, principalmente, convencer seus pares de que não será um elemento de conflito com o Planalto caso se eleja para comandar o Senado.

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Mas o desafio que ele enfrenta agora é incomum: o grupo de Bolsonaro demonstra hostilidade aberta a seu nome, pois ele simboliza a “velha política” rejeitada na eleição. O alagoano já foi alvo de 18 inquéritos (9 deles arquivados) no Supremo Tribunal Federal (STF). E é um personagem recorrente em delações premiadas da Lava Jato, a operação deflagrada pelo hoje superministro da Justiça, Sergio Moro. E coleciona um histórico de casos suspeitos.

Renan, Lula e o governador de Alagoas Renan Filho, em 2017: apoio ao petista para surfar na sua popularidade em Alagoas.Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

“As pessoas só lembram que eu sou velho. Pelo menos deixem eu fazer uma transição entre o velho e o novo. Vou me esforçar para cumprir esse papel”, diz. Ainda assim, não admite publicamente sua candidatura. Mas está em campanha: em 18 de dezembro, véspera do recesso parlamentar, entrou sorridente no plenário e apertou a mão dos colegas, um a um – até de senadores em fim de mandato, que não votarão em 1.º de fevereiro. Embora muitos senadores acreditem que o vento sopra contra, Renan espera atravessar a tempestade. “O meu couro já ficou grosso”, disse.

Para aliados, Renan só conseguirá conquistar votos para se eleger presidente do Senado se mostrar que não será fonte de conflitos com o governo. Mas, em conversas internas, o alagoano promete aos colegas que, se eleito, trabalhará pela independência do Congresso em relação ao Planalto. Esse ponto é considerado um aceno à oposição, que teme medidas do novo governo. “Eu sou um batedor de continência. Eu só não bato continência quando estou na presidência do Senado. Ali, você tem que defender o seu território institucional”, diz Renan.

Nesta quarta-feira (9), Renan ganhou uma ajuda em sua tentativa de voltar ao comando do Senado. O presidente do STF, Dias Toffoli, determinou que a eleição interna da Casa seja com votação fechada. A decisão de Toffoli cassou a liminar do também ministro do Supremo Marco Aurélio Mello que, em dezembro, havia determinado que a eleição no Senado fosse aberta.

Renan aposta suas fichas numa eleição secreta – como costuma ocorrer. Isso porque ele acredita que muitos senadores não votariam nele, com voto aberto, em função das muitas denúncias a que responde. Pegaria mal. Mas, numa votação sigilosa, esse entrava seria removido.

De Collor a Bolsonaro, as muitas metamorfoses de Renan

Renan tem vasta experiência em metamorfoses políticas. Em 1989, articulou a eleição de Fernando Collor a presidente. No ano seguinte, rompeu com o governo e chegou a depor contra o presidente na CPI que investigou o esquema PC Farias.

Na eleição presidencial de 2002, apostou em José Serra (PSDB) contra Lula (PT). Depois, apoiou a adesão do então PMDB ao governo petista e acumulou poder para se eleger presidente do Senado em 2005. Durante a era petista no Planalto, Renan foi um aliado do PT até a véspera do impeachment de Dilma Rousseff – quando pulou para o barco de Michel Temer.

Mas senador alagoano também rompeu com Temer, em 2017. Aliou-se ao PT para se reeleger num Nordeste afinado com o lulismo. Passada a campanha, reatou com Temer. “Não imaginava que pisaria de novo nesse palácio com você no poder”, disse, segundo um auxiliar.

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