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Ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu com representantes da Federação das Indústrias do Paraná em 13 de fevereiro. | Gelson Bampi/ Fiep
Ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu com representantes da Federação das Indústrias do Paraná em 13 de fevereiro.| Foto: Gelson Bampi/ Fiep

Depois de duras críticas ao setor industrial no fim do ano passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estendeu bandeira branca aos industriais. Ele se reuniu com representantes da indústria paranaense e dos setores têxtil, siderúrgico e de construção civil nacional nestes dois primeiros meses de governo. O objetivo foi ouvir as demandas dos empresários e discutir ideias para melhorar o ambiente de negócios e fazer uma abertura comercial que não mate as empresas instaladas no país.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, afirmou que o ministro e sua equipe procuraram saber quais são os principais entraves à produtividade do setor industrial. A equipe econômica também se comprometeu, após a aprovação da reforma da Previdência, a colocar em pauta a reforma tributária e medidas microeconômicas para reduzir o chamado Custo Brasil e desburocratizar a economia. 

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“Ele [Paulo Guedes] foi muito claro: O que está dificultando para que vocês melhorem seus ambientes de negócio? O que está faltando para que vocês conquistem mercado? O que está faltando para vocês terem competitividade em relação a outros países?”, relatou Campagnolo.

“Eles [equipe econômica do governo] querem dar agilidade na resposta. O ministro disse assim: nós vamos orientar a política econômica, mas quem vai dar a saída são vocês empreendedores. O papel do Estado, ele repetiu várias vezes, é de servidor”, afirmou o presidente da Fiep, que esteve reunido com o ministro no último dia 13. 

O principal responsável por dar prosseguimento a essa interlocução entre o governo e as demandas da indústria é o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do ministério, Carlos Alexandre da Costa. O secretário, inclusive, também já vem recebendo diversos empresários do setor industrial desde o começo do ano e afirma que uma das missões de sua secretaria é “destruir barreiras à competitividade”.

O que querem os industriais 

Em linhas gerais, os industriais que estiveram reunidos com o ministro da Economia levaram uma agenda muito parecida: menos burocracia, menos impostos, simplificação tributária, redução do chamado Custo Brasil e mais segurança jurídica. Alguns setores também levaram demandas específicas. 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, levou três principais pontos para a reunião. A primeira foi a necessidade de uma reforma tributária. “Não se pode mais criar tantas normas sem que se elimine as normas que já ficaram obsoletas”, disse.

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A segunda foi o alongamento do prazo de pagamento dos impostos. “As empresas vendem a 80, 90, 120, 150 dias para seus clientes e pagam os impostos, de modo geral, depois de 30 e 40 dias da realização da operação. Ou seja, financia o cliente e financia o Estado. O que é um dreno de capital absurdo.” 

Ele também diz que as adequações ao e-Social estão sendo pedidas em um momento inadequado. “Ninguém é contra um governo digital, mas num momento que as empresas estão absolutamente sufocadas, investir nessa questão é algo que não tem razoabilidade. Você tem uma drenagem enorme de recursos para softwares e outros materiais para algo que não vai trazer um real de competitividade”, afirmou Pimentel. 

Subsídios não entraram na mesa 

Novos subsídios, porém, não entraram na mesa de discussão, afirmam os industriais. Tanto o ministro Paulo Guedes quanto o secretário Carlos da Costa são contra a política de incentivo fiscal. Em 2017, por exemplo, o Brasil deixou de arrecadar R$ 270,4 bilhões, ou 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), dando subsídios a determinados setores. Muitos dos incentivos são dados sem controle, sem prazo para acabar e sem monitoramento do resultado. 

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Na prática, porém, o governo Bolsonaro ainda não cumpriu a promessa de reduzir subsídios para não se indispor com setores e prejudicar o andamento da reforma da Previdência. O governo, inclusive, logo na primeira semana estendeu o prazo dos benefícios fiscais dados para empresas situadas na Amazônia (região da Sudam) e no Nordeste (Sudene). 

O governo também voltou atrás da decisão de colocar fim às taxas de antidumping contra leite em pó importado. 

Abertura comercial 

A abertura comercial, um tema muito sensível à indústria, foi um tema que esteve em pauta nos encontros. Segundo Campagnolo e Pimentel, Guedes se comprometeu a fazer uma abertura comercial sem “matar a indústria”. A abertura deve ser gradual e  feita somente após a implementação de medidas que retirem as barreiras à competitividade. 

“Ele [Guedes] disse: ‘nós não vamos deixar vocês em uma circunstância que vocês vão ser engolidos ou mortos pelos competidores de outro mercado’. Eles [governo] vão tornar o ambiente [de negócios] favorável e vão dar tempo para que as empresas ganhem competitividade. Depois, vão fazer a abertura comercial, num prazo que ele ainda não estabeleceu”, disse Campagnolo.

“O ministro falou: ‘queremos reindustrializar o país. Não podemos perder o que temos, temos que fortalecer o que temos’”, contou Pimentel. 

Rusgas ficam no passado 

As críticas que Guedes fez ao setor industrial já ficaram no passado, afirmou Pimentel. “O que tinha que ser falado foi falado. Agora nós viramos a página. Não adianta ficar olhando para o retrovisor, ficar guardando rusga de A ou B ou C. Isso não reconstrói o Brasil”, disse o presidente da Abit. 

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Logo após a eleição, Guedes defendeu o fim do Ministério da Indústria e Comércio Exterior. Ele disse, no fim de outubro, que a pasta havia se transformado um uma "trincheira da primeira guerra mundial" na defesa de protecionismo. Também afirmou que ia “salvar a indústria”, apesar dos “industriais” e criticou as políticas de subsídio e protecionismo dadas ao setor. 

Em evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) em dezembro, falou que ia “meter a faca no Sistema S”, cortando de 30% a 40% do orçamento do sistema. O sistema foi criado na época do governo Getúlio Vargas para estimular a capacitação de mão de obra para o setor industrial, entre outras coisas. Atualmente, é composto por nove organizações com arrecadação bilionária.

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