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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A colaboração premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores do grupo JBS, não tem precedente na trajetória de três anos da Operação Lava Jato. Pela primeira vez foram feitas “ações controladas”, num total de sete. Ou seja, um meio de obtenção de prova em flagrante, mas em que a ação da polícia é adiada para o momento mais oportuno para a investigação.

Significa que as entregas de malas (ou mochilas) com dinheiro e as conversas ligadas a isso foram filmadas pela Polícia Federal. As cédulas tinham seus números de série informados aos procuradores da força-tarefa. Como se fosse pouco, as malas ou mochilas estavam com chips para que se pudesse rastrear o caminho dos reais. Nessas ações controladas foram distribuídos cerca de R$ 3 milhões em propinas carimbadas durante todo o mês de abril.

Foi a partir dessa delação, que o presidente Michel Temer foi gravado em um diálogo embaraçoso. Diante de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: “Tem que manter isso, viu?”.

Aécio Neves também foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro foi entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).

Joesley relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT. Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS no BNDES.

Joesley revelou também que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após sua prisão, valor referente a um saldo de propina que o peemedebista tinha com ele. Disse ainda que devia R$ 20 milhões pela tramitação de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.

Delação à jato

Se a delação da Odebrecht foi negociada durante dez meses e a da OAS se arrasta por mais de um ano, a da JBS foi feita em tempo recorde. No final de março, depois das gravações feitas por Joesley com Temer e Aécio, começaram as conversas. Os depoimentos foram iniciados em abril e na primeira semana de maio já haviam terminado. As tratativas foram feitas pelo diretor jurídico da JBS, Francisco Assis e Silva. Num caso único, aliás, Assis e Silva acabou virando também delator. Nunca antes na história das colaborações um negociador virara delator.

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A velocidade supersônica para que a Procuradoria Geral da República (PGR) tenha topado a delação tem uma explicação cristalina. O que a turma da JBS tinha nas mãos era algo nunca visto pelos procuradores: conversas comprometedoras gravadas pelo próprio Joesley com Temer e Aécio – além de todo um histórico de propinas distribuídas a políticos nos últimos dez anos.

Em duas oportunidades em março, o dono da JBS conversou com o presidente e com o senador tucano levando um gravador escondido – arma que já se revelara certeira sob o bolso do paletó de Sérgio Machado, delator que inaugurou a leva de áudios comprometedores. Ressalte-se que as conversas, delicadas em qualquer época, ocorreram no período mais agudo da Lava Jato. Nem que fosse por medo, é de perguntar: como alguém ainda tinha coragem de tratar disso de forma tão descarada?

Para que as negociações não vazassem, a PGR adotou um procedimento incomum. Joesley, por exemplo, entrava na garagem da sede da Procuradoria dirigindo o próprio carro e subia sem ser identificado. Assim como os outros delatores.

Ao mesmo tempo em que delatava no Brasil, a JBS designou o escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe para tentar um acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos EUA. Fechá-lo é fundamental para o futuro do grupo dos irmãos Batista. A JBS tem 56 fábricas nos EUA, onde lidera o mercado de suínos, frangos e bovinos. Precisa também fazer um IPO (abertura de capital) da JBS Foods na Bolsa de Nova York.

Aval do relator da Lava jato

Na tarde de quarta-feira retrasada(10), Joesley Batista e o seu irmão Wesley entraram apressados no Supremo Tribunal Federal (STF) e seguiram direto para o gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Lava jato. Os donos da JBS, a maior produtora de proteína animal do planeta, estavam acompanhados de mais cinco pessoas, todas da empresa. Foram lá para o ato final de uma bomba atômica que explodiria sobre o país – a delação premiada que fizeram, com poder de destruição igual ou maior que a da Odebrecht. Diante de Fachin, a quem cabe homologar a delação, os sete presentes ao encontro confirmaram: tudo o que contaram à PGR em abril foi por livre e espontânea vontade, sem coação.

Pelo que foi homologado por Fachin, os sete delatores não serão presos e nem usarão tornozeleiras eletrônicas. Será paga uma multa de R$ 225 milhões para livrá-los das operações Greenfield e Lava Jato que investigam a JBS há dois anos. Essa conta pode aumentar quando (e se) a leniência com o Departamento de Justiça dos EUA for assinada.

Outro lado

O Planalto se manifestou via nota oficial: “O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.

O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República.

O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.”

A Gazeta do Povo tentou contato com o deputado Rocha Loures, mas ele se manifestou apenas via assessoria, que enviou uma nota à redação: “Com relação às notícias divulgadas nesta quarta-feira, envolvendo a empresa JBS, informamos que o empresário e deputado federal Rodrigo Rocha Loures está em Nova York, onde proferiu palestra sobre a política brasileira a um grupo de investidores internacionais. Rocha Loures tem retorno programado para amanhã. Em seu retorno, o deputado deverá se inteirar e esclarecer os fatos divulgado.”

Também procurada, a defesa do ex-deputado Eduardo Cunha informou que não irá se manifestar. A assessoria da JBS também disse que a empresa não vai se pronunciar sobre as delações.

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