• Carregando...
 | Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo
| Foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo

A juíza Gabriela Hardt interrogou nesta segunda-feira (12) três réus no processo referente ao sítio em Atibaia, atribuído pelo Ministério Público Federal ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos acusados, o proprietário formal do imóvel, Fernando Bittar, disse à juíza que deu carta branca à ex-primeira dama Marisa Leticia para a realização das obras na propriedade e acreditava que o casal Lula da Silva pagava pelas melhorias. Ele também disse que as obras realizadas foram “superdimensionadas”.

“Elas foram colocadas de um jeito que parecem que são muito maiores do que são”, disse Bittar, que garantiu que o imóvel foi comprado por ele com recursos de seu pai, Jacó Bittar. “São quartos muito simples, feitos com material de segunda. Até a água tem queda errada, não cai para o ralo. A adega não é adega, é um quarto improvisado que colocaram todos os vinhos que vieram de Brasília. A guarita não é guarita, é um quarto”, disse Bittar à juíza.

LEIA TAMBÉM: Lula terá que devolver R$ 20 milhões ao Fundo Eleitoral

Segundo Bittar, devido à relação de amizade entre as famílias, Lula e Marisa frequentavam o sítio com frequência. A família Bittar, inclusive, deu carta branca à Marisa e Lula para a construção de um depósito para guardar o acervo presidencial de Lula.

“No primeiro ano a frequência maior era da minha família, e eles sempre indo. Quando chegou o acervo e quando começou a frequência nossa no sítio, meu pai deixou bem claro para a tia Marisa, ‘a chave do sítio está aqui, é sua, se você quiser vir, pode vir sempre que você quiser’. Só que eles sempre respeitaram nesse primeiro momento e me comunicavam”, contou Bittar.

Lula passou a frequentar o sítio com mais intensidade depois de adoecer, em 2012, segundo Bittar. “Em 2012 o presidente Lula foi diagnosticado com câncer e aí sim ele começou a frequentar muito, totalmente, inclusive com autorização do meu pai”, contou Bittar. “Eu ficava com ele, dormia perto dele porque ele sofria, chorava, tinha frio, tinha fome e não tinha gente que fazia, era a gente”, completou.

Uma perícia da Polícia Federal no local, realizada depois da deflagração da 24.ª fase da Lava Jato, só encontrou no sítio pertences de Lula e sua família. Bittar disse que sua família retirou os pertences do imóvel para dar mais espaço para Lula tratar o câncer.

Bittar disse que, com o tempo, o interesse de sua família no sítio começou a diminuir e havia a intenção de vender a propriedade para Lula, que tinha interesse na compra. Por isso, Bittar disse não se preocupar em relação às obras realizadas por Marisa no imóvel.

LEIA TAMBÉM: Justiça manda soltar Joesley Batista e outros presos da Operação Capitu

Hardt perguntou se ele não estranhou o fato de grandes empreiteiras, como a OAS e a Odebrecht, estarem realizando obras em um sítio – atividade que as empresas não realizam normalmente. “Eu imaginei que eles [Lula e Marisa] estavam pagando [as obras]. Na minha cabeça não tinha nada ilícito”, disse Bittar.

A juíza também perguntou se Bittar não teve receio de ter problemas com a Receita Federal, por realizar obras incompatíveis com sua situação financeira no imóvel em seu nome. “Receio eu não tive. Teve um descaso da minha parte por não ter tido, aprendi. Nas duras penas, estou aprendendo. Hoje já não faço com esse coração aberto que eu fazia antigamente, porque a gente viu as consequências disso”, disse o dono do imóvel.

Bittar garantiu que ainda é o responsável por pagar as despesas mensais do sítio, como energia, luz e internet. Ele estima gastar entre R$ 4 mil e R$ 6 mil por mês na manutenção da propriedade.

Marisa resolvia as questões da obra

Também réu no processo, o ex-assessor especial de Lula, Rogério Aurélio Pimentel, foio primeiro interrogado nesta segunda-feira (12). Ele contou à Hardt que fiscalizava o andamento da obra a pedido de Marisa.

Ele contou que era responsável por auxiliar no pagamento de despesas de Marisa, mas nunca pagou nada relacionado ao sítio. “A dona Marisa não tinha muita intimidade com questões de computador e questões de tratamento com banco. Eu cheguei a fazer uma planilha com todas as contas dela -- água, luz, telefone, IPTU, condomínio, tudo -- e chegava na data ela me fazia um cheque, eu ia no banco e pagava”, contou.

Pimentel também disse que nunca tratou sobre o sítio e as obras com Lula. “Dona Marisa, pelo fato de ser tão dura e tão direta em relação a isso, ela era muito possessiva. Por questão da parte feminina dela, era muito possessiva em relação ao presidente. Ela não queria muito contato. Inclusive, quando a gente chegava muito perto ela já fazia ‘o que você quer aqui? Depois a gente conversa’. E ela me proibiu terminantemente de conversar com o presidente a respeito disso”, disse o ex-assessor.

Entenda o caso

A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) aponta que Lula é o dono de um sítio em Atibaia, que teria sido reformado pela Odebrecht e pela OAS como forma de pagamento de propina ao ex-presidente. O imóvel está em nome de Fernando Bittar, que segundo os procuradores agiu como laranja do petista.

Hardt começou a ouvir os réus do processo na última segunda-feira (05). Nesta quarta-feira (14), serão interrogados o pecuarista José Carlos Bumlai e o ex-presidente Lula.

Ela assumiu o caso depois que o juiz federal Sergio Moro pediu férias. Ele vai pedir exoneração em janeiro para assumir o cargo de ministro da Justiça no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]