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Primeiro turno foi marcado por, pelo menos, 46 pesquisas de intenção de voto para presidente de abrangência nacional | Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
Primeiro turno foi marcado por, pelo menos, 46 pesquisas de intenção de voto para presidente de abrangência nacional| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo

Em uma eleição atípica, marcada pelo número recorde de debates, troca de candidato do PT e um atentado contra a vida de Jair Bolsonaro (PSL), houve também uma “chuva” de pesquisas. Diferentemente do que aconteceu em grandes estados, elas acertaram o resultado – o segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) –, mas não cravaram os percentuais dos dois candidatos , mesmo levando em conta a margem de erro.

O primeiro turno foi marcado por, pelo menos, 47 pesquisas de intenção de voto para presidente de abrangência nacional, considerando os levantamentos dos principais institutos divulgados da data limite para o registro das candidaturas até o sábado anterior ao primeiro turno.

Isso representa quase uma pesquisa por dia no período analisado, quantidade superior à registrada na eleição de 2014, quando o tempo de campanha foi mais longo e, mesmo assim, somente 36 pesquisas nacionais foram publicadas da oficialização das candidaturas até a primeira etapa de votação.

Novidade: pesquisas públicas de instituições financeiras

O grande diferencial deste ano foram as pesquisas contratadas por instituições financeiras e divulgadas publicamente. Os bancos e corretoras, tradicionalmente, fazem os seus monitoramentos internos, conhecidos como tracking, mas o eleitor não tinha acesso em eleições anteriores, pois os resultados não eram tornados públicos. Agora, a semana começou e terminou com pesquisa.

PESQUISAS: Veja os resultados de todas as pesquisas para presidente feitas até agora

A XP Investimentos, uma das maiores corretoras do país, contratou o instituto Ipespe e divulgou pesquisas semanais, sempre às sextas-feiras. De 15 de agosto (data limite para registro das candidaturas) até este sábado, 6 de outubro, foram oito levantamentos. O banco BTG Pactual também começou a divulgar pesquisas semanais, feitas pelo Instituto FSB, a partir da última de agosto, sempre nas segundas-feiras. Ao todo, foram seis simulações de intenção de voto.

Os institutos tradicionais – Ibope e Datafolha – não ficaram atrás e trouxeram, respectivamente, nove e oito pesquisas para presidente no período analisado (de 15 de agosto a 6 de outubro). Eles, porém, intensificaram as divulgações a partir de setembro e, principalmente, na reta final do primeiro turno. Tanto o Ibope quanto o Datafolha divulgaram três pesquisas cada nesta semana, antes do primeiro turno.

Houve, ainda, pesquisas feitas pelo instituto MDA, contratado pela Confederação Nacional dos Transportes; pelo Paraná Pesquisas, contratado posteriormente pela Empiricus e revista Crusoé; pelo DataPoder360, do portal Poder360; pelo RealTime Big Data, usado pela rede Record; pelo Sensus, divulgado pelo Istoé; e pelo Vox Populi, publicado pela revista Carta Capital.

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Isso para citar os principais levantamentos tornados públicos de abrangência nacional. Diversas pesquisas internas, como as contratadas por partidos, sindicatos e empresas, foram cadastradas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já outras centenas de simulações para presidente foram feitas em nível estadual, principalmente pelo Ibope.

Pesquisa em excesso?

Com tanta pesquisa em pouco tempo, foi comum o eleitor se perguntar por que elas traziam, em alguns casos, números diferentes, fora da margem de erro.

No início da semana depois do atentado a faca sofrido por Bolsonaro, por exemplo, foram divulgadas quatro pesquisas de intenções de voto para presidente com abrangência nacional: BTG/FSB* e Datafolha** na segunda dia 10 de setembro; Ibope*** na terça; e Paraná Pesquisas/Empiricus/Crusoé*** na quarta.

Em todas essas pesquisas os resultados foram similares: Bolsonaro líder e até quatro candidatos empatados em segundo lugar. O que variou foi o percentual de intenção de voto. No caso de Bolsonaro, os percentuais variaram de 24% a 30%, o que abriu margem para questionamentos sobre qual instituto estaria medindo corretamente o humor do eleitorado naquele momento (pós-atentado).

O que observar numa pesquisa, além do resultado

As divergências, contudo, eram esperadas, já que as pesquisas, apesar de divulgadas quase que todas juntas, foram feitas em dias diferentes – e uma pesquisa é sempre o retrato do momento de coleta.

Por isso, é sempre importante observar a data em que foram feitas as entrevistas, já que não há um padrão estabelecido por lei. Há, por exemplo, pesquisas que são feitas e divulgadas no mesmo dia e há levantamentos que são realizados durante mais de um dia e a divulgação acontece em uma data posterior ao término da coleta.

GUIA DE ELEIÇÕES: Como confiar nas pesquisas eleitorais e por que elas são importantes

É importante observar, ainda, os fatos que antecederam e os que aconteceram nos dias das entrevistas. Como a eleição é dinâmica, fatos novos acontecem com frequência e fazem o eleitor mudar de opinião com rapidez. O interesse pelas eleições também cresce com o passar das semanas e, quanto mais perto do primeiro turno, menor devem ser os votos brancos/nulos/indecisos e maior os percentuais obtidos pelos candidatos.

Além da data das entrevistas e dos fatos do momentos, há outros três itens que podem influenciar no resultado. São eles: o método utilizado (pesquisa presencial na casa das pessoas, presencial em pontos de aglomeração, por telefone com entrevistador humano ou por telefone por telemensagem); a estratificação da amostra de eleitores (grupo de pessoas que serão entrevistadas e que vai representar todo o eleitorado brasileiro); e a margem de erro (normalmente de 2 a 3 pontos para mais ou para menos).

Ibope e Datafolha, por exemplo, fazem pesquisas presenciais e com margem de erro de 2 pontos (no caso para presidente em todo o Brasil). A diferença é que o Ibope entrevista os participantes em suas residências. Já o Datafolha aplica os questionários em pontos de concentração, como praças e paradas de ônibus.

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Já a XP/Ipespe e o BTG/FSB realizam as pesquisas por telefone, com entrevistador humano. Esse método não é uma unanimidade, pois os críticos dizem que as entrevistas por telefone só atingem a parcela da população com acesso a aparelho fixo e móvel, além de apresentar os candidatos em uma ordem, normalmente alfabética, o que pode influenciar o resultado. Na pesquisa presencial, o entrevistador dá um disco dividido em partes iguais com os nomes de todos os candidatos.

Por outro lado, há quem diga que a pesquisa por telefone pega o voto do eleitor envergonhado, aquele que deseja votar em um candidato mais “odiado” ou “polêmico”, mas evita dizer isso publicamente com medo de rejeição de amigos e familiares.

Dois cenários e transferência de votos: as novidades deste ano

Fato é que, com poucas exceções, as pesquisas do primeiro turno trouxeram resultado bem similares, normalmente batendo considerando a margem de erro. Os levantamentos mostraram Jair Bolsonaro sempre na liderança, excluindo o cenário com o ex-presidente Lula, que teve sua candidatura barrada pela Justiça Eleitoral somente na madrugada de 1.º de setembro e, por isso, constava em uma simulações feitas pelos institutos até lá.

Os percentuais do líder, porém, variaram de semana para semana, o que é esperado, devido a fatos novos e a maior quantidade de pessoas que vai definindo o voto mais perto da eleição. No Ibope e Datafolha, por exemplo, a intenção de voto total em Bolsonaro variou, respectivamente, de 20% a 36% e de 22% a 36% nas pesquisas de 15 de agosto até 6 de outubro. Na última semana, o candidato teve viés de alta, rompeu a barreira dos 30% nos dois institutos e abriu a possibilidade, ainda remota, de vitória no 1.º turno (o que não foi confirmado).

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Já sobre o segundo colocado, as pesquisas captaram uma peculiaridade desta eleição: a transferência de votos. Até ter seu nome oficializado pelo PT, em 11 de setembro, Fernando Haddad (PT) tinha desempenho fraco nas pesquisas e, por diversas vezes, ficou empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).

Isso aconteceu porque o partido dava o ex-presidente Lula como o candidato oficial. Lula foi, inclusive, registrado como candidato. Então, as pesquisas mediram a intenção de voto em dois cenários até o fim de agosto: um contendo o nome de Lula e outro com o nome de Haddad, o que prejudicou o desempenho do ex-prefeito de São Paulo durante o período.

Depois, Haddad foi oficializado e as pesquisas passaram a trazer somente o cenário oficial. Rapidamente, o petista começou a crescer nas pesquisas ao herdar votos que, antes, eram apontados para Lula. Com isso, conseguiu ainda em setembro ficar isolado na segunda colocação. Nesta semana, contudo, ficou estável, apenas oscilando dentro da margem, o que abriu a cogitação sobre um nome de terceira via “roubar” a vaga de Haddad no segundo turno – o que também não aconteceu.

Pesquisas acertam ao apontar Bolsonaro e Haddad no 2.º turno

As pesquisas da última semana, principalmente as divulgadas no sábado (6), véspera da eleição, acertaram o resultado para presidente: segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Elas não cravaram, porém, o percentual de votos válidos.

O Ibope***** deu que Bolsonaro alcançaria 41% dos votos válidos e Haddad, 25%. O Datafolha****** projetou 40% para o candidato do PSL e 25% para o petista. A margem de erro dos dois levantamentos foi de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para eleição de um candidato, o TSE considera os votos válidos, ou seja, exclui brancos, nulos e indecisos.

Já as urnas deram um resultado um pouco diferente. Com 99% de apuração completa, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos e Haddad, 29,3%.

Possibilidade de erro existe – e acontece com certa frequência

Em geral, o nível de confiança de um levantamento é de 95%, ou seja, há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral e 5% de chances de errar. O próprio Ibope ao divulgar os resultados esclarece que o objetivo não é antecipar os resultados da eleição, mas sim mostrar o cenário no momento em que foi realizada. “A pesquisa é uma fotografia do momento e não tem o poder e nem a intenção de prever o resultado de uma eleição. Por isso, seus resultados não podem ser usados para prever o resultado das urnas”, diz o instituto.

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E há casos recentes de resultados diferentes dos apontados pelas pesquisas – isso sem citar os desta eleição. Em 2014, Ibope e Datafolha só captaram na última pesquisa, a divulgada no sábado antes da eleição, Aécio Neves (PSDB) numericamente à frente de Marina Silva (PSB) na disputa por uma vaga no segundo turno. Os levantamentos anteriores apontavam para Dilma Rousseff (PT) e Marina no 2.º turno. Nas urnas, Aécio ultrapassou Marina com larga vantagem: 33,55% dos votos válidos para o tucano e 21,32% para a candidata do PSB. Dilma passou em primeiro lugar com 41,59% dos votos.

Nas eleições municipais em 2016, os institutos também demoraram para captar a tendência de alta de João Doria, candidato do PSDB a prefeito de São Paulo eleito ainda no primeiro turno. No início, Ibope e Datafolha davam Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB) no segundo turno. Depois, mais próximos da eleição, conseguiram captar o crescimento do tucano, mas, mesmo na pesquisa divulgada um dia antes da votação, apontavam Doria e Russomanno no 2.º turno.

Outro caso emblemático é de Donald Trump. A candidata democrata Hillary Clinton liderava as pesquisas e aparecia com 90% de chances de ganhar em alguns institutos, o que não aconteceu. Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos.

Então, só resta esperar por este domingo (7) para saber se os institutos vão acertar ou errar.

Confira a evolução dos candidatos a presidente nos dois institutos mais tradicionais do país - Ibope e Datafolha (votos totais)

Confira a evolução dos candidatos a presidente nos dois institutos que mais deram pesquisa, além de Datafolha e Ibope: XP/Ipespe e BTG/FSB (votos totais)

Metodologia das pesquisas citadas no texto

*Pesquisa realizada pelo BTG/FSB de 8/set a 9/set/2018 com 2.000 entrevistados (Brasil, por telefone). Contratada por: BTG. Registro no TSE: BR-01522/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%. *

** Pesquisa realizada pelo Datafolha no dia 10 de setembro com 2.820 entrevistados (Brasil). Contratada por: GLOBO E FOLHA DE SÃO PAULO. Registro no TSE: BR-02376/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%. 

*** Pesquisa realizada pelo Ibope com 2.002 entrevistados entre os dias 8 e 10 de setembro (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E O ESTADO DE SÃO PAULO. Registro no TSE: BR-05221/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

**** Pesquisa realizada pelo Paraná Pesquisas de 7/set a 11/set/2018 com 2.010 entrevistados (Brasil). Contratada por: EMPIRICUS RESEARCH e Revista Crusoé. Registro no TSE: BR-02410/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

***** Pesquisa realizada pelo Ibope de 4/out a 6/out/2018 com 3.010 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E O O ESTADO DE S.PAULO . Registro no TSE: BR-01537/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

****** Pesquisa realizada pelo Datafolha de 5/out a 6/out/2018 com 17.056 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: BR-01584/2018 . Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

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