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| Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

Já ouviu falar da “onda laranja”? Se ouviu, provavelmente foi pela internet, pois o candidato à presidência da República João Amoêdo (Novo) ficou com apenas cinco segundos de programa para fazer campanha pela televisão e radio, mas encontrou nos meios on-line uma estratégia para sair do quase anonimato para os eleitores. Esse pouco tempo se justifica pela opção do partido de não ter feito coligações e não ter membros suficientes no Congresso Nacional para que sua participação em debate seja obrigatória.

Um dos fundadores do partido Novo, deixou a presidência da legenda para poder concorrer ao pleito e é um dos candidatos com maior crescimento de popularidade nas pesquisas de intenção de votos. Seus seguidores em redes sociais estão se multiplicando e o colocam como opção para quem está cansado de políticos. Em contrapartida, ele se posiciona como político e menciona em entrevistas que pretende mudar a ideia pejorativa que a população faz do termo.

Gazeta do Povo resgatou alguns pontos de seu plano de governo e de suas declarações em entrevistas para tentar projetar a administração do candidato com maior patrimônio declarado.

1.Partido sem políticos

O presidenciável João Amoedo (Novo) se apresenta como alternativa dos eleitores que querem fugir dos velhos nomes da nossa política. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, começou sua trajetória profissional como estagiário do Citibank e cresceu profissionalmente na Fináustria, a financeira do BBA, do qual chegou a ser sócio. Foi também conselheiro e vice-presidente do Unibanco. Hoje é sócio da Casa das Garças, um centro de estudos de tendência liberal no Rio de Janeiro.

Ele defende que a criação de seu partido foi fruto da indignação de algumas pessoas que decidiram parar de reclamar e agir em prol do país. Ainda fala em seu plano de governo que sua candidatura não se trata de um projeto pessoal, mas sim parte de um esforço para mudar como a política é feita no Brasil.

Entre as propostas de estrutura de governo, Amoêdo propõe a diminuição do Estado. Isso se fará em um primeiro momento com a extinção da metade dos Ministérios, que passariam a ser 12, segundo o presidenciável. Outra promessa é que cada pasta será chefiada por pessoas técnicas, sem a interferência de indicações políticas e que cada servidor terá que responder positivamente a avaliação de produtividade e cumprimento de metas.

DESEJOS PARA O BRASIL: Democracia aprofundada

O presidenciável tem estreita relação com economistas que atuaram em governos do PSDB sendo que um deles, Gustavo Franco, se desfiliou do PSDB para integrar o partido Novo e está à frente da Fundação Novo, inclusive dando palestras em nome da legenda.

2.Prisões privadas

Amoêdo não se incomoda em falar de seu intuito de privatizar todas as Estatais brasileiras. Em entrevista à Gazeta do Povo, em abril, ele disse que o estado não deve atuar como empresário e que as empresas públicas só servem para atender aos interesses de políticos que negociam cargos.

“É muito simples, na verdade os políticos não querem abrir mão do poder, de uma hora para outra não poder mais indicar os diretores da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica. Vimos há pouco o presidente da Caixa sair para ser ministro da Saúde e o presidente Temer sentar com líder político para decidir quem ficaria em seu lugar, quando na verdade deveria ter consultado um headhunter, que faz a seleção de bons executivos, para dizer quem é o bom executivo para gerir aquilo ali”, disse o candidato.

DESEJOS PARA O BRASIL: Mais espaço para a iniciativa privada

Na mesma linha, ele acredita que parcerias público-privadas seriam a solução para resolver a precariedade do sistema prisional do Brasil. Hoje, a população carcerária brasileira é a quarta maior do mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. Os norte-americanos tiveram uma experiência não muito feliz com a privatização de penitenciárias federais. Em 2016 foi anunciado o rompimento de contratos e retomada da administração dos presídios pelo Estado. 

A iniciativa privada entrou no sistema prisional americano na década de 80, quando se apertou o cerco aos traficantes de drogas e as unidades prisionais do país ficaram superlotadas. Várias novas unidades foram construídas e outras reformadas e aumentadas, o que deu fôlego para que presos pudessem cumprir penas de forma digna. No entanto, vinte anos mais tarde, constatou-se que os motins e problemas eram muito mais frequentes em penitenciárias de administração privada, o que fez com que o governo voltasse atrás e retomasse o controle dos presídios. O líder em população carcerária no mundo, em 2016, contava com cerca de 2,2 milhões de presos. 

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Se o projeto de Amoedo de endurecer as penas e os regimes de progressão, realmente, só com verba do governo ficaria impossível criar tantas vagas em presídios, que atualmente, já apresentam um déficit de vagas. Segundo o último relatório do Conselho Nacional de Justiça, relativo a agosto, a população brasileira encarcerada, sem contar os menores de idade, é de 602,2 mil pessoas. Há mais presos do que vagas no sistema. São 368 mil vagas em 1,4 mil unidades penais em todo o território nacional: a maioria são penitenciárias, casas de custódia e unidades de semiliberdade administradas pelos governos estaduais. 

3.Investimento ensino básico

Privatizações em todas estatais e também no ensino superior. Essa ideia assusta a centro-esquerda e esquerda do país. Durante muitos anos, as empresas nacionais foram motivo de orgulho. Campanhas como “O Petróleo é Nosso” ainda permeiam mentes e corações de muitos brasileiros. Para Amoêdo, tudo isso foi imposto e vai em direção oposta ao direito de liberdade do cidadão. “Ninguém, nunca perguntou se eu queria ser sócio da Petrobras, ou do Banco do Brasil”, declarou em entrevista para Gazeta do Povo.

Segundo o seu plano de governo, o país investe três vezes mais em ensino superior do que em ensino básico, e essa falta de base educacional compromete o acesso dos brasileiros às universidades, pois quem consegue passar em universidades públicas é quem teve melhor formação básica – em grande parte dos casos, quem teve o privilégio de estudar em uma escola particular. Por isso, o candidato defende um modelo de educação em que o governo concentre esforços na educação básica. E deixe o investimento no ensino superior para a iniciativa privada.

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Mas não se trata de construir novas escolas, aumentar o tempo que o aluno passa na escola e melhorar a produtividade, o salário e a capacidade dos mestres. Sua intenção é entregar um valor representativo aos pais dos alunos, uma espécie de “voucher”, para que eles próprios decidam em qual colégio privado matricular seu filho.

Países em desenvolvimento que atentaram para a importância do investimento no ensino básico hoje colhem frutos muito bons. Um exemplo é a Coreia do Sul. Há 35 anos, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros. O Produto Interno Bruto (PIB) per capital do país asiático era inferior ao do Brasil. Hoje, não há comparação possível e os números da Coreia do Sul são três vezes mais altos: em torno de US$ 27,2 mil contra US$ 8,6 mil do Brasil, segundo o Banco Mundial. Lá, os professores com maior prestígio estão na rede fundamental de ensino, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde os professores mais preparados lecionam no ensino superior.

A principal dissonância entre a proposta de Amoêdo com a realidade coreana é que no país estrangeiro 90% do ensino fundamental é estruturado por escolas públicas e gratuitas. No ensino médio, a proporção entre escolas particulares e públicas se mantém, com o diferencial de que 20% dos custos da escola são cobrados dos pais dos alunos. Já o ensino superior é dominado pela iniciativa privada e o governo disponibiliza programas de bolsas para alunos de baixa renda, assim como também ocorre no ensino médio.

4.Manutenção dos programas sociais

Outra curiosidade no plano de governo do presidenciável é o fato de citar que cada cidadão deve fazer o bem ao próximo e não esperar que o Estado o faça. “Vamos entender que não precisamos do Estado para ajudar o próximo. Só depende de nós mesmos fazer algo de importante por aqueles que mais necessitam”, diz o texto. 

Mas, no mesmo documento, o presidenciável prevê que o estado manterá os programas sociais. “O Brasil ainda precisa de um eficiente programa de proteção social para atender aos que mais necessitam e funcionar como uma ponte para a cidadania plena”, defende Amoêdo. 

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O candidato também elogia programas como o Bolsa Família, implantado pelo presidente Lula e que prevê que a assiduidade das crianças na escola é requisito para continuar a ter acesso ao benefício. Sua crítica vai ao âmbito de o programa não proporcionar portas de saída aos beneficiários.

Como descreve no plano de governo, “é preciso criar alternativas para que cada vez mais pessoas deixem os programas assistenciais e passem a conseguir manter sua vida e sua família sem a dependência do Estado”. Ele defende que essa saída deve se dar através de capacitação profissional e da geração de empregos.

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