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Ciro Gomes (PDT) se encontrou com Rodrigo Maia (DEM) na última terça-feira para uma conversa sobre uma eventual composição | Mauro Pimentel/AFP
Ciro Gomes (PDT) se encontrou com Rodrigo Maia (DEM) na última terça-feira para uma conversa sobre uma eventual composição| Foto: Mauro Pimentel/AFP

Encontro realizado entre os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) na noite de terça-feira (19) na casa de um empresário em Brasília , cujo nome foi mantido em sigilo, teve como um dos objetivos reduzir as resistências ao nome de Ciro dentro de legendas do centro, como PP e PRB, além do próprio Democratas. Foi uma tentativa de reverter o mal-estar dos últimos dias, quando o ex-governador do Ceará disse que sua prioridade era fechar primeiro aliança com o PSB e com o PCdoB, garantindo uma “hegemonia moral e intelectual”. Um outro assunto, que coube ao deputado Paulinho da Força (Solidariedade) abordar, foi o pavio curto e estilo verborrágico de Ciro, receio generalizado de quem tenta se aproximar do presidenciável.

Segundo interlocutores, Ciro ressaltou suas passagens pelo Ministério da Fazenda e pelo governo do Ceará, e afirmou que sempre teve tranquilidade quando esteve em cargos públicos. Afirmou ainda que hoje está sozinho mas, ao compor com um grupo, sua campanha deixaria de ser apenas para fazer número e passaria a ser, de fato, para tentar ganhar a eleição. E que estaria aberto a fazer ajustes em seu programa se houver uma aliança entre PDT e DEM.

O medo que cerca a figura do candidato não é em vão. Em alguns episódios, Ciro deixou claro que não pensa duas vezes antes de falar o que tem vontade, mesmo que isso signifique espantar possíveis aliados e até mesmo votos à sua candidatura.

Ainda que seja cedo para definir posições, o estilo agressivo, embora desperte atenção, não tem lhe rendido até o momento bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgada na quarta-feira (20) , que ouviu 2 mil pessoas em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, aponta o pedetista numericamente em quarto lugar na preferência do eleitor, com 8,3% das intenções de voto, em um cenário sem Lula e com Haddad. Já em uma simulação com o ex-presidente, Ciro aparece numericamente em quinto, com 5,6% das intenções de voto.

Já pesquisa Datafolha divulgada no dia 8 de junho apresenta Ciro empatado numericamente com Geraldo Alckmin (PSDB), ambos com 6% das intenções de voto, em um cenário com Lula. Em uma hipótese com Fernando Haddad no lugar do ex-presidente, Ciro fica numericamente em quarto lugar, com 10% das intenções de votos, mas atrás de Marina Silva (Rede), com 15%.

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A “língua afiada” de Ciro Gomes na última semana

Mais duas confusões se juntaram ao currículo de Ciro na última semana. Na terça-feira (19), o ex-governador do Ceará se irritou, foi vaiado e deixou o local onde acontecia o Congresso de Municípios em Belo Horizonte (MG).

Ao reclamar do que considerou pouco tempo para expor ideias no congresso no último dia 19, Ciro se irritou ao ser interrompido após a primeira pergunta. O formato é o mesmo para os sete pré-candidatos que foram convidados a participar do congresso. O pedetista perdeu a cabeça ao entender que a segunda pergunta era semelhante à primeira, na qual teve a fala interrompida.

“Eu estava respondendo e fui interrompido na resposta para em seguida me perguntarem a mesma coisa. Você acha isso razoável?”, disse, na ocasião.

Ciro seguiu nervoso, o que suscitou protestos da plateia. O pré-candidato não se conteve: “Eu sou convidado de vocês. Escuta, se não eu me retiro”. Ao ser avisado de que teria mais cinco minutos para as considerações finais, soltou “muito obrigado a todos” e saiu, sob vaias. Antes, porém, foi aplaudido ao questionar a ausência do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL). “Cadê o Bolsonaro? Por que ele não veio?”

Um dia antes, em entrevista à Rádio Jovem Pan, o pedetista chamou o vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM) de “capitãozinho do mato”. “Imagina, esse Fernando Holiday aqui. O capitãozinho do mato, porque a pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar, que era o capitão do mato do passado”, disparou Ciro, ao ser perguntado, em entrevista à Rádio Jovem Pan, sobre uma possível aliança com o DEM em torno da sua candidatura à presidência da República.

Questionado após a entrevista sobre a declaração, o pedetista se justificou lembrando que Holiday, negro e homossexual, é a favor do fim das cotas e quer acabar com o dia da consciência negra. “É uma metáfora segura que eu tenho que ele faz esse papel em pleno século 21.” O parlamentar utilizou as redes sociais para dizer que vai processar Ciro por injúria racial.

Outros casos de declarações polêmicas

Um entrevero com o blogueiro Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei” rendeu mais um episódio para alimentar a fama de brigão e língua afiada a Ciro. A conversa entre os dois foi tensa, e terminou com o pré-candidato chamando o blogueiro de bobão e batendo com a mão espalmada no pescoço dele. Pelo vídeo que circulou à época não há como mensurar a força aplicada pelo pedetista. “Tu acha que se eu tivesse batido, não tinha uma marquinha não? Do jeito que eu sou. Eu falei ‘deixa de ser um merda, rapaz’, e saí de perto”, disse Ciro na época. O caso aconteceu em abril.

O presidente Michel Temer (MDB) também é um dos alvos preferidos da língua ferina de Ciro. Em maio deste ano, em entrevista após debate com presidenciáveis promovido pela Unale (União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais), em Gramado (RS), o pedetista disse que gostaria de ver o emedebista na disputa pela reeleição “para ver o tamanho da repulsa que o povo brasileiro tem a um golpista salafrário que, na prática, é o que ele é”. A repulsa, defendeu Ciro, seria necessária para que “nunca mais ninguém faça o que ele fez (...) essa coisa mesquinha, anti-povo, anti-pobre, anti-nacional com que ele, usurpando o poder que não lhe pertencia, passou a praticar no país”.

Belo Horizonte já conhecia a língua afiada de Ciro antes mesmo do Congresso de Municípios. No ano passado, ao participar do ato Minas Pelas Diretas Já e do 55.º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), Ciro disparou contra o presidente Michel Temer (MDB), ao comentar que acreditava ser improvável que ele não concluísse o mandato.

“Ele representa organicamente o centro do poder real no Brasil, e ele está fazendo o que pode e o que não pode. Eu o conheço, ele não tem escrúpulos, ele é um grande canalha. Está espionando ministro do Supremo com a Abin, está perseguindo adversários e isso está funcionando”, arrematou.

Histórico de polêmicas vem de longe

Em abril de 2016, em evento na PUC-SP para discutir a crise e os desafios para o desenvolvimento do Brasil, Ciro já havia apontado sua metralhadora para Temer. Ao lembrar que o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (preso no Paraná por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e evasão de divisas), assumiria interinamente a presidência com a possível ida de Temer à Assembleia-Geral da ONU, não perdoou: “E Michel Temer, em sua vaidade de safado, não vai deixar... vocês não deviam rir não, isso é um salafrário dos grandes. Conspirador filho da puta”. A frase arrancou aplausos da plateia.

Já ao falar a empresários na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em outubro de 2017, Ciro chamou o senador tucano Aécio Neves de “cadáver político”. E ao comentar sobre a candidatura de Marina Silva (Rede), destacou que não via na rival energia suficiente para a disputa e que o momento, para ele, “é muito de testosterona”.

Em novembro de 2013, quando era secretário estadual de Saúde no Ceará, Ciro Gomes se viu frente a frente com um grupo de estudantes da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade Regional do Cariri (Urca), que estavam em greve. O grupo aguardava o então secretário no aeroporto da cidade de Iguatu (384 km de Fortaleza).

Um vídeo que circulou à época mostrava Ciro tentando conversar com os manifestantes. Quando o bate-papo se transformou em troca de acusações, o agora pré-candidato tirou um cartaz da mão de um dos estudantes e, depois de rasgá-lo, deixou o local.

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Três anos depois, Ciro enfrentou novamente um grupo de manifestantes, ao sair em defesa do irmão, o ex-ministro de Dilma e ex-governador do Ceará, Cid Gomes (PDT), em Fortaleza. O grupo protestava contra a possível nomeação do ex-presidente Lula (PT) à Casa Civil. Cid questionou, junto ao grupo, a gravação, divulgada em março de 2016, da conversa entre a então presidente e Lula.

Ao se envolver na discussão, Ciro, visivelmente irritado, mandou os manifestantes estudarem história e, ao responder a um dos participantes do protesto, xingou Lula. “O Lula não é inocente nada. O Lula é um merda e quando alguém é um merda a gente representa na polícia (...) Não vem de madrugada assustar uma pessoa indefesa porque vocês são covardes. Bando de fascistas. Pega teu caminho.” Em nota, após o ocorrido, Ciro afirmou que foi até os manifestantes para defender os direitos e a integridade do irmão.

Em 2002, então candidato ao Palácio do Planalto, a acidez de Ciro causou constrangimentos à então esposa, a atriz Patrícia Pilar. Questionado sobre o papel dela na corrida ao cargo de líder do executivo nacional, declarou que uma das funções mais importantes que ela desempenhava era dormir com ele: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”, disse.

Com Patrícia ao seu lado na ocasião, e ao perceber a gafe, o político afirmou aos jornalistas que o entrevistavam que estava brincando, e destacou habilidades da atriz no manejo de assuntos sociais, sua inteligência e sensibilidade.

Metodologias

A pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, que ouviu 2 mil eleitores de 16 anos ou mais em 82 cidades do estado de São Paulo entre os dias 13 e 18 de junho, foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-09235/2018, para o cargo de presidente. O grau de confiança é de 95% – o que significa que, se a pesquisa fosse realizada 100 vezes com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

Já a pesquisa do Datafolha foi realizada de 6 junho a 7 junho de 2018 com 2.824 entrevistados em 174 municípios brasileiros. O registro no TSE é BR-05110/2018. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

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