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| Foto: Miguel Schincariol/AFP

Vídeo do pré-candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB) cita o troca-troca de partidos de outros postulantes ao cargo para sustentar a ideia de que mudanças de partidos demonstram a incoerência de seus concorrentes. O tucano, porém, omite que ele mesmo trocou uma vez de sigla, do PMDB (atual MDB) pelo PSDB, em 1988. E também oculta as trocas partidárias do senador e também pré-candidato Alvaro Dias (Podemos) – com quem o PSDB teria interesse de estabelecer uma aliança.

Assista ao vídeo da campanha de Alckmin

O vídeo, cujo tema é “coerência na política”, não cita que o próprio Alckmin já mudou de partido uma vez. Antes de o PSDB ser criado, em junho de 1988, o ex-governador era filiado ao PMDB (hoje MDB), informação omitida na propaganda feita para as redes sociais. “Veja o Geraldo Alckmin, há 30 anos no mesmo partido, o PSDB. Se você cobra coerência, seja coerente”, diz a mensagem.

A gravação cita os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL) como políticos com várias mudanças de sigla.

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Os campeões do troca-troca partidário

O vídeo destaca Bolsonaro como recordista em trocas de partido – de fato, o deputado já passou por PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP e PSC, além de ter firmado compromisso com o Patriotas (PEN) antes de se filiar à atual legenda, o PSL.

Atrás dele está Alvaro Dias (Podemos), com oito trocas: o senador já integrou o PMDB (atual MDB), duas vezes o PSDB, mais PST, PP, PDT, PV antes de se filiar ao Podemos. Mas o troca-troca de Alvaro foi omitido. De acordo com a assessoria de Alckmin, a estratégia foi revelar a trajetória partidária dos pré-candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, além de Meirelles, classificado como o candidato do governo Michel Temer (MDB). Essa seria a justificativa para Alvaro Dias não ter sido citado, apesar de o senador paranaense estar à frente de Meirelles nas pesquisas.

O ex-presidente Fernando Collor (PTC) e também pré-candidato está em seu sétimo partido. Estreou na antiga Arena, passou pelo PDS, PMDB, PRN (rebatizado como PTC em 2000), PRTB e PTB.

Já Ciro Gomes esteve no PMDB, PSDB, PPS, PSDB e Pros. Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina foi do PT, depois passou por PV e PSB até se filiar à Rede. Meirelles tem passagens pelo PSDB e pelo PSD antes de ingressar no MDB.

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Eleitor pouco se importa com o partido do candidato, diz cientista político

Professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer considera que a estratégia tucana é inútil – pois, para o eleitor brasileiro de modo geral, o partido do candidato, seja ele quem for, é o que menos importa. Além disso, Fleischer diz que o vídeo revela desespero de Alckmin. O candidato do PSDB está atrás de Bolsonaro mesmo em São Paulo, estado que governou, de acordo com pesquisas recentes.

“Alckmin está desesperado, jogando coisas insignificantes”, analisa Fleischer. “Está mais perdido do que em 2006”, acrescenta, ao lembrar que, naquele ano, o tucano teve menos votos no segundo turno do que no primeiro nas eleições presidenciais, quando foi batido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O eleitor não está nem aí para isso [fidelidade partidária]. Ele não quer saber de partido, ele olha apenas o candidato, a pessoa. Nossos partidos são muito fracos”, aponta.

Para o cientista político, a estratégia revela a preocupação do tucano com o desempenho atual de sua pré-candidatura, que não engrenou. “O PSDB, se fosse um partido mais cabeça fria, já teria trocado o candidato”, diz Fleischer.

“Ele [Alckmin] surpreendeu a todo mundo perdendo a esportiva com os líderes do PSDB e falando com raiva. Ele tem essa coisa de ser comedido. Nunca ninguém o tinha visto nesse estado de desespero”, afirmou. O cientista político se refere ao episódio, ocorrido em um jantar com a cúpula da sigla no começo de junho, quando, incomodado com as queixas relativas à organização de sua pré-campanha, teria elevado o tom de voz e dito que, se quisesse, o PSDB poderia substituí-lo.

16% dos deputados foram “infiéis” para as eleições

De olho nas eleições de outubro, mais de 16% dos deputados federais mudaram de partido dentro do período conhecido como janela partidária. Segundo dados da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara Federal, pelo menos 85 dos 513 parlamentares da casa trocaram de legenda.

O DEM foi a sigla que mais recebeu novos nomes – 14 deputados e apenas duas baixas. Já a bancada do MDB perdeu sete deputados, chegando a 53. Ainda assim, segue como a segunda maior da Câmara, atrás apenas da do PT, com 60 parlamentares.

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