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| Foto: Eduardo Saraiva/A2img

Duas vitrines nacionais, principalmente em época de eleições, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro vivem situações bem diferentes em relação à segurança pública. O tema deve ser um dos mais debatidos nas eleições desse ano, que vão escolher em outubro um novo presidente da República e governadores de estado para os próximos quatro anos, além de parlamentares dos legislativos federal e estadual. O presidente Michel Temer (PMDB), que era dado como carta fora do baralho nas eleições, se apropriou do tema da segurança ao decretar uma intervenção federal no Rio de Janeiro.

A estratégia pode beneficiar Temer e colocá-lo no páreo para tentar a reeleição. Em sondagens encomendadas pelo governo federal para identificar as principais preocupações do brasileiro, a segurança pública aparece no topo da lista. Se a intervenção no Rio de Janeiro for bem sucedida, o presidente terá um legado para usar como capital político nas urnas.

Outro candidato que se beneficia da pauta de segurança pública é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O estado governado pelo tucano tem bons números para mostrar ao país. Dados do Datasus relativos a 2016, por exemplo, mostram que São Paulo teve o melhor resultado do país no combate a homicídios.

O índice paulista, de 9,5 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, é 2,7% menor do que o registrado em 2015 e fica bem abaixo do valor registrado para o Brasil todo, de 28,1 homicídios por 100 mil habitantes. São Paulo vem apresentando queda no indicador nos últimos anos: entre 2007 e 2016, a queda foi de 33,9%.

O Datasus é um banco de dados do Ministério da Saúde e uma das fontes de informação sobre homicídios mais confiáveis do país. Ainda não há números fechados sobre 2017.

Sensação de insegurança no Rio de Janeiro

Apesar de a situação parecer caótica no Rio de Janeiro, estudos sobre segurança pública mostram que o estado não está tão fora de controle quanto parece. O Datasus relativo a 2016 mostrou, por exemplo, que dois a cada três estados brasileiros tiveram um aumento de homicídios naquele ano e o Rio não está entre eles.

O Rio teve queda de 22,7% no número de assassinatos, segundo o levantamento. O estado está entre os que têm menos homicídios a cada 100 mil habitantes – o índice fluminense é de 23,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Em Sergipe, por exemplo, esse índice é de 64,8.

Para o membro do Fórum Brasileiro de Segurança, Renato Lima, no Rio de Janeiro a sensação de insegurança é maior por causa da falta de resposta do poder público na resolução de crimes. “Pode não ser o mais violento, mas o estado não está conseguindo dar uma resposta mínima para o problema”, explica.

Para o professor da Fundação Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, o fato de o Rio ter uma exposição maior na mídia também contribui para essa percepção. “O que acontece no Rio acaba ganhando proporções nacionais. É diferente do que acontece em Pernambuco, no Recife, onde as proporções nacionais não se dão”, diz.

Os dois especialistas concordam que um dos problemas da segurança pública no Rio é a falta de organização das polícias. “Não é só que o crime organizado perdeu o controle. Na verdade, o Estado perdeu o controle quando deixou de investir nas suas polícias. E os dados disponíveis mostram esse quadro”, diz Lima.

“O problema do Rio de Janeiro é que o Rio de Janeiro não tem governo”, opina Alcadipani. “A polícia carioca tem mais sargento do que soldado. É uma polícia que foi destruída ao longo do tempo”, completa.

Lições de São Paulo

Para Alcadipani, não seria necessária uma intervenção federal no Rio de Janeiro para solucionar a crise na segurança. A solução pode vir, inclusive, do estado vizinho. “A Polícia Militar e a Polícia Civil em São Paulo estão entre as melhores polícias do Brasil. São polícias bem equipadas, bem estruturadas, bem aparelhadas, não é a mesma coisa que o Rio de Janeiro”, diz.

Lima também aposta no exemplo paulista para melhorar a segurança no Rio de Janeiro. “A polícia no estado de São Paulo tem uma estrutura de cargos fixa, tem investimento permanente. Ou seja, o Estado tem garantido que a sua força policial tenha condições mínimas de fazer frente à realidade. O Rio de Janeiro, ao contrário, mesmo gastando o orçamento muito grande com segurança não tem conseguido dar uma resposta adequada. Isso é incompetência administrativa, descaso do governo com a segurança pública. O governo dá peso demais ao crime organizado para esconder o descaso com a área de segurança pública”, acusa o especialista.

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