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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Com um poder de mobilização que parece cada vez menor, o Partido dos Trabalhadores vai lançar novamente a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República neste domingo (27), em todo o Brasil. A estratégia foi determinada pelo próprio ex-presidente, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde o dia 7 de abril para cumprir sua pena na Lava Jato.

O ato de lançamento foi anunciado pelo deputado federal Wadih Damous depois de visitar Lula na prisão, nesta semana. O parlamentar conseguiu uma liminar para atuar como advogado do ex-presidente e, assim, ter livre acesso a ele na prisão. Ao anunciar o lançamento da pré-candidatura aos militantes em Curitiba, o próprio deputado deu a entender que o partido não espera uma grande mobilização em torno do tema.

“Ele pediu que enfatizasse a todos que no dia 27 de maio, em todo o Brasil, em cada cidade brasileira onde o PT está organizado se faça o lançamento da sua pré-candidatura. Pouco importa se em cada ato tenha 10 pessoas, tenha 5 pessoas, tenha 500 pessoas. O importante é o somatório em todo o Brasil de cada um desses atos, para deixar claro que o presidente Lula é o nosso candidato a presidente da República”, disse Damous à militância.

Aliados do ex-presidente já começaram a admitir que a mobilização em defesa de Lula está ficando mais complicada com o passar do tempo. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, já admitiu, em um evento com apoiadores do partido em São Paulo, dificuldades para mobilizar militantes em defesa do petista. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que coordena o programa de governo do ex-presidente, citou, no mesmo evento, que há um “momento de desmobilização” da militância, mas minimizou o problema, alegando que isso é passageiro.

A menor mobilização em torno do partido ficou ainda mais evidente no 1.º de maio deste ano. Pela primeira vez, centrais sindicais marcaram um ato unificado em Curitiba. O evento reuniu cerca de 5 mil pessoas no centro da cidade, segundo estimativa da Polícia Militar, e foi encerrado com a leitura de uma carta enviada pelo petista.

No mesmo dia, líderes do PT admitiram pela primeira vez a possibilidade de que Lula não seja o candidato do partido na corrida presidencial. Dois nomes cotados como alternativas do partido à ausência de Lula na corrida eleitoral, os ex-ministros Jaques Wagner e Fernando Haddad, falaram abertamente sobre alianças.

Lançamento... de novo?

Desde o ano passado o PT trabalha com vários cenários em que Lula pode ser o candidato do partido e disputar as eleições de outubro, mesmo preso. Em 2018, o PT lançou a pré-candidatura do ex-presidente pelo menos uma vez por mês em diferentes eventos e situações. O primeiro lançamento do ano foi em janeiro, um dia depois da condenação de Lula a 12 anos e um mês de prisão em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). O anúncio foi feito em uma reunião do Diretório Nacional do partido, depois de uma votação unânime entre a executiva da legenda.

Em fevereiro, Lula viajou para Minas Gerais para lançar novamente sua pré-candidatura. O evento aconteceu em Belo Horizonte, na Expominas. Segundo nota do PT, o lançamento em Minas Gerais foi o primeiro de vários atos pelo país e o estado foi escolhido por ser governado por um petista: o governador Fernando Pimentel (PT).

Em março, o palco de mais um lançamento de Lula como pré-candidato foi a cidade de Belém. O PT aproveitou um evento no auditório do Sindicato dos Bancários para lançar também as pré-candidaturas do senador Paulo Rocha ao governo paraense e do deputado Zé Geraldo ao Senado.

Insistência depois da prisão

Depois da prisão do ex-presidente, no início de abril, o PT passou a insistir ainda mais no nome de Lula como o pré-candidato do partido à presidência. Alguns dias depois da prisão, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad – cotado como um possível plano b do partido para a eleição nacional -, concedeu uma coletiva de imprensa em Curitiba reafirmando a opção do partido pelo nome de Lula.

“O PT só aposta em Lula, não há outra discussão do partido. Isso não é uma visita protocolar, a decisão está tomada. Dia 15 de agosto o partido vai registrar a candidatura do ex-presidente Lula, não há debate”, disse Haddad.

Uma semana depois da divulgação de uma pesquisa do Datafolha na qual Lula aparece com 30% ou 31% das intenções de voto nos três cenários em que seu nome foi testado, o PT decidiu formalizar a candidatura dele à Presidência da República e dar início à pré-campanha eleitoral mesmo com o petista preso.

Dois dias depois, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também afirmou que Lula é a escolha da legenda para as eleições em outubro. Ela esteve em Curitiba para participar do ato de implementação do Conselho do Plano de Governo, que vai estabelecer a metodologia e calendário do documento que irá nortear candidatura de Lula.

Entrevista da prisão?

O novo lançamento de Lula como pré-candidato faz parte de uma estratégia do PT para dar ares de normalidade à candidatura. Desde que o STF negou mais um recurso da defesa de Lula o partido percebeu que a estratégia de mobilização popular para pressionar o Judiciário não funcionou.

Para evitar uma desmobilização ainda maior, o PT tenta garantir a participação de um representante da legenda em sabatinas com pré-candidatos. A legenda chegou a recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ter representantes de Lula nas sabatinas com presidenciáveis. A insistência do partido pode levar a uma situação inusitada de um candidato a presidente ser entrevistado de dentro da prisão. Um grupo formado pela Folha de S. Paulo, SBT e Uol já pediu autorização à juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal de Lula, para entrevistar o ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

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