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Na Bahia, maior estado do Nordeste e quarto maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro tem  Lula bem à frente e Marina Silva encostada | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Na Bahia, maior estado do Nordeste e quarto maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro tem Lula bem à frente e Marina Silva encostada| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O Nordeste continua um desafio para dois nomes importantes na corrida pelo Palácio do Planalto, a ser decidida em outubro. Os pré-candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) não terão vida fácil se quiserem conquistar os eleitores da região, que representa hoje, segundo números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 26,5% dos 147,3 milhões de eleitores brasileiros. A agenda defendida por ambos, que encontra mais eco entre as classes média e alta, e o mapa dos programas sociais implementados pelos governos federais do PT sustentam a resistência.

Se em algumas regiões do país Bolsonaro briga com Lula pela preferência do eleitor e se vê distante de outros pré-candidatos, no Nordeste a luta por votos promete ser mais acirrada.

Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas* realizado em maio deste ano na Bahia, maior estado do nordeste e quarto maior colégio eleitoral do país, aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril em Curitiba, com 43,4% das intenções de voto; Bolsonaro aparece em segundo, com 16,8%. Ex-governador de São Paulo, Alckmin aparece atrás do pré-candidato Alvaro Dias (Podemos), com 3% da preferência do eleitor baiano.

Como comparação, entre o eleitorado paulista, Alckmin empata tecnicamente com Bolsonaro em uma simulação sem Lula, com 18,4% da preferência do eleitor, e fica encostado no petista, no terceiro lugar, com 16,7%.

Já em um cenário paulista sem Lula, com Haddad como presidenciável do PT, Bolsonaro e Marina Silva (Rede) surgem tecnicamente empatados no gosto do eleitor baiano, com respectivos 19,7% e 18,6%; o tucano sinaliza 5%, atrás de Ciro Gomes (PDT), com 14%.

Corte social

“O corte não é regional, ele é em nível social. Onde há maiores índices socioeconômicos, aumenta a preferência por Bolsonaro e Alckmin. Onde é menor o nível socioeconômico, aumenta a preferência pelo pré-candidato do PT”, avalia Malco Camargos, doutor em ciência política e professor da PUC-MG.

Ele avalia que o discurso de propostas adotado tanto por Bolsonaro quanto por Alckmin ressoa mais entre as camadas mais favorecidas economicamente do que as populações mais simples. E isso provoca um descolamento entre essas candidaturas e uma região como o nordeste, por exemplo.

Em discursos proferidos na Câmara dos Deputados nos últimos 25 anos, Bolsonaro defendeu, entre outras coisas, um programa rígido de controle de natalidade com foco nos pobres. Esse seria, segundo o pensamento manifestado no período, o caminho para reduzir a miséria e a criminalidade. Ele também afirmou no passado que o Bolsa Escola e o Bolsa Família serviriam apenas para incentivar os pobres a ter mais filhos e, com isso, aumentar a fatia que recebem de benefícios

“A pauta do Bolsonaro agrada muito mais, por exemplo, aos donos das propriedades rurais do que aos trabalhadores em si. Esse tipo de discurso faz com que haja um afastamento das pessoas de classe mais baixa em relação a esse candidato”, entende. Já do ponto de vista do PSDB, para o cientista político, o foco nas privatizações afasta os mais pobres, que necessitam mais de políticas públicas.

“Enquanto a defesa do estado menor tem a ver com as classes mais altas, o estado maior e mais protetor é uma demanda das classes mais baixas”, entende.

Melhor desempenho de Alckmin nas pesquisas de intenções de voto é registrado em São Paulo

MAURO PIMENTEL/AFP

Programas sociais pesam na decisão

A participação da região em programas sociais também pesa na decisão do eleitor na busca por uma candidatura que entenda lhe representar melhor. E nesse sentido, os programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa. Minha Vida, vitrines dos governos do PT.

Levantamento da Gazeta do Povo de agosto de 2017, com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou a lista dos 15 estados que mais dependem do Bolsa Família no país. Todos estão localizados nas regiões Norte e Nordeste, com valor médio de benefício de cada família sendo de R$ 199,09, acima da média nacional, que é de R$ 181,39.

O estado que mais depende do Bolsa Família, proporcionalmente, é o Maranhão: o gasto per capita médio ali é de R$ 27,95. No estado, são 920,9 mil famílias cadastradas no programa e o total gasto é de R$ 194,4 milhões por mês – o benefício médio é de R$ 211,06. Além do Maranhão, outros oito estados têm gasto per capita superior a R$ 20.

“Penso que [a rejeição das candidaturas mais ao centro e à direita] tem esses elementos relacionados a questões socioeconômicas, e também pelos mapas que a gente vê de distribuição do Bolsa Família”, pondera Maria do Socorro Braga, cientista política e professora da Ufscar.

A especialista vê o eleitorado como bastante estratificado socialmente, e que os benefícios sociais recebidos sobretudo nos dois mandatos do ex-presidente Lula, reduzidos nos governos Dilma e Temer diante da crise econômica, fazem com que o brasileiro beneficiado pelos programas deseje o retorno do período em que teve mais acesso a eles.

Entre 2015 e 2017, o Minha Casa, Minha Vida sofreu um corte real de 83,5%. Também tiveram queda real de gastos, mas num patamar não tão elevado, os programas Brasil Sem Miséria (10,7%), o Farmácia Popular (10,7%), a Rede Cegonha (9,8%) e as ações destinadas às creches (9%).

“Não se esquece isso fácil”, salienta Maria do Socorro. “Não são 30, 40 anos, estamos falando de no máximo dez anos [atrás]. É a geraçao que está tendo filhos e que não consegue ter um plano de saúde melhor, [tem] uma escola pública mais precária. São ganhos que as pessoas não esquecem fácil”, acredita. E mesmo com todo o desgaste do PT com a prisão de Lula e o envolvimento de nomes importantes do partido em escândalos recentes, são os programas sociais desenvolvidos pelas gestões da sigla no Executivo federal que mantêm firme a musculatura da sigla na região.

Imagem vai ter de mudar

Camargos entende que tal posicionamento dos pré-candidatos, que demonstram maior alinhamento a temas ligados às classes mais favorecidas economicamente, é algo deste período pré-campanha. Para o cientista político, essa imagem vai ter que mudar, sob o risco de perderem parte significativa do eleitorado brasileiro.

Assim, ele acredita que as campanhas terão, caso queiram ampliar o alcance junto aos eleitor do nordeste, que trabalhar pela imagem de Bolsonaro e Alckmin com objetivo de aproximá-los de pautas mais sociais. O que vale também para o PT: seja qual for o candidato, a sigla vai precisar não só do voto dos mais pobres caso queira voltar ao Palácio do Planalto, mas também da classe média.

“É mais fácil ganhar uma eleição agradando aos segmentos mais baixos de nossa pirâmide do que os do topo por uma questão numérica: há mais gente na base do que no topo”, sintetiza.

*Metodologia

Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas com eleitores da Bahia. Número de registro no TSE: BR-09710/2018. Amostra: 1.540 eleitores em 68 municípios. Faixa etária: 16 anos ou mais. Período: 23 a 28 de maio de 2018. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2,5%.

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