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| Foto: Rafael Ribeiro/Instituto Lula

“Eles não percebem que tudo é combinado diretamente com o Lula?”, desabafou Gleisi Hoffmann, há pouco mais de duas semanas, em conversa com um aliado.

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Sob ataque de colegas que querem acelerar as discussões sobre a substituição da candidatura do ex-presidente, a senadora paranaense tenta conter um levante às vésperas de seu primeiro aniversário no comando nacional do PT.

O vigor com que Gleisi defende a manutenção do nome de Lula na corrida presidencial rendeu um embate com governadores petistas.

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Os líderes locais querem que o PT negocie apoio ao candidato de outro partido ou aponte de uma vez o nome que será lançado na disputa no lugar do ex-presidente preso. A presidente do PT desautorizou essas cobranças em mais de uma ocasião.

“Os governadores têm uma preocupação natural, mas o PT só tem a perder se substituir Lula ou apoiar outro candidato agora”, disse Gleisi à reportagem. “Teríamos uma dispersão da base e uma crise sem precedentes, porque hoje não temos um nome com capacidade de unificar o partido.”

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A senadora completará um ano à frente do partido no dia 3 de junho, na fase mais dramática da história da sigla e de sua própria vida política. Além das questões internas, Gleisi prepara sua defesa na Lava Jato e refaz cálculos eleitorais.

Antes considerada um nome improvável para dirigir o PT, a senadora se alimenta da força de Lula. Faz visitas à sede da Polícia Federal em Curitiba, às quintas-feiras, e deixa claro aos petistas que suas decisões são tomadas em acordo com o ex-presidente.

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“Nem tudo é discutido com o [ex-]presidente, mas a tática eleitoral e a estratégia política são conversadas com ele e com a direção partidária. Não é da minha cabeça. Não sou iluminada, assim”, ironizou.

Lula confiou a Gleisi a função de porta-voz ao ser preso, em abril, por acreditar que a senadora seria capaz de fazer enfrentamentos e levar ao limite a tarefa de manter vivo o projeto de sua candidatura.

O plano vem sendo seguido ao custo de conflitos. A ausência de uma figura conciliadora como Lula obrigou a senadora a adotar um pulso firme que contrariou alguns colegas.

A rebelião dos governadores do PT, nas últimas semanas, foi o auge da tensão. Eles desviaram da linha definida por Gleisi. Sugeriram que o partido desistisse de Lula e apoiasse um candidato de outra sigla, como Ciro Gomes (PDT).

No início de maio, a senadora reagiu duramente a uma declaração do ex-governador da Bahia Jaques Wagner sobre a possibilidade de o PT indicar o vice de Ciro. “Ele não sabe que o Ciro não passa no PT nem com reza brava?”, disse.

Depois, os governadores Rui Costa (Bahia) e Camilo Santana (Ceará) se manifestaram, acirrando a divisão. Lula precisou intervir: alinhou-se a Gleisi e disse que a senadora estava certa ao desestimular discussões sobre um plano B, mas recomendou uma trégua.

A presidente do PT se reuniu na semana passada com quatro dos cinco governadores do partido. Ela diz que a conversa “foi boa” e que apresentou aos colegas argumentos jurídicos pela manutenção da candidatura de Lula.

Dirigentes regionais reclamam que a postura “inflexível” de Gleisi impede a costura de coligações estaduais porque os partidos aliados não sabem quem será o candidato petista à Presidência.

A senadora é considerada um entrave, por exemplo, a acordos com o PSB em Pernambuco e na Bahia, e com o MDB no Ceará. Gleisi insiste que Lula é prioridade.

“Com a Lei da Ficha Limpa, a candidatura será questionada. Até setembro, a questão se resolve e definiremos se vamos disputar com Lula mesmo com uma eventual suspensão da candidatura ou se faremos a substituição. Isso não está dado”, argumentou.

Gleisi insiste que qualquer discussão sobre o apoio do PT a outro partido se dará apenas no segundo turno. “Uma aliança no primeiro turno tem que ter Lula na cabeça da chapa. Mesmo que existam vários candidatos de esquerda, quem for para o segundo turno tem condições de conformar esse campo.”

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