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| Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

“As pessoas dizem que quem inaugurou as fake news foi o [Donald] Trump. Quem inaugurou as fake news foram a Dilma e o João Santana”. A afirmação é da pré-candidata à presidência da República pela Rede, Marina Silva. Em entrevista ao vivo transmitida pelo site e as redes sociais da Gazeta do Povo na manhã desta quinta-feira (17), a ex-ministra do Meio Ambiente afirmou que, durante a campanha de 2014, a ex-presidente e seu marqueteiro João Santana mentiram sobre sua campanha tendo suporte de dinheiro público.

“Sou agredida desde 2014”, disse. “Como eu era evangélica, [a campanha de Dilma Rousseff] dizia que eu ia acabar com o Círio de Nazaré, que como eu era amiga de uma educadora, a Neca [Maria Alice Setubal, coordenadora da campanha de Marina em 2014 e herdeira do Banco Itaú], que eu ia tirar o Bolsa Família das pessoas, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec”, reclamou. “Era como se eu fosse uma exterminadora do futuro, mentiras ditas por um marqueteiro mentiroso pago a peso de ouro com dinheiro pela Petrobras, com dinheiro da Caixa Econômica Federal e dos fundos de pensão”, apontou.

Ainda nesta quinta-feira, Marina cumpre agenda em Curitiba, em debate na Casa do Estudante Universitário do Paraná (CEUPR), e participa à noite de encontro com membros do partido.

ASSISTA: entrevista completa com Marina Silva

Para Marina, a lição aprendida em sua última candidatura à presidência da República é a de que o pleito de 2014 foi “fraudado”, verdade que segundo ela foi trazida à tona pela operação Lava Jato. “Eu estava participando de uma eleição que não era republicana. A Lava Jato mostrou que foi uma eleição fraudada. A fraude era o abuso do poder econômico, a mentira, a desconstrução feita pelas duas candidaturas, porque tanto o Aécio [Neves, candidato do PSDB] quanto a Dilma estão envolvidos em casos gravíssimos de corrupção, assim como seu vice-presidente, [Michel] Temer.”

Davi x Golias

A ex-senadora vê o momento como um cenário de fragmentação de candidaturas e partidos e defende que, se eleita, mesmo com uma base pequena de deputados, terá condições de governar, algo que promete fazer deixando para trás o conceito de presidencialismo de coalizão.

“Não pode ser na base do ‘toma lá, dá cá’, como as pessoas compõem o governo [atualmente]. Se eu ganhar, vai ser de uma forma em que a sociedade já estará dizendo qual a maioria que ela quer no Congresso: deputados e senadores que não se vendam, que ajudem o país a crescer e a recuperar os milhões de empregos, e que não tolerem a violência no país, em que 66 mil pessoas são assassinadas por ano”, disse.

“As pessoas deviam perguntar quem tem muitos deputados e senadores e não conseguiram governar. A Dilma conseguiu governar? O Temer tem conseguido governar na base do ‘toma lá, dá cá’? Vamos formar uma maioria e quem vai formar se chama sociedade brasileira”, apontou.

Tomando emprestada uma figura bíblica, comparou seus 10 segundos a que terá direito na propaganda eleitoral gratuita na TV e sua pouca base de apoio no congresso à ideia de Davi ao enfrentar Golias. “Essa vai ser uma luta de Davi contra Golias, e a minha pedrinha se chama consciência do povo brasileiro”.

Propostas

Ao falar sobre economia, Marina informou que seu programa de governo inclui a recuperação do tripé da economia macroeconômica, com câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário. E tratou do seu projeto de Reforma Tributária que tem como objetivo reduzir os impostos dos mais pobres e retirando, por exemplo, tributos da cesta básica.

Ao afirmar que vai manter o que há de positivo, construído em governos anteriores e no atual e rever o que entende ser necessário passar por reavaliações, garantiu a manutenção de programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. E que tem como meta institucionalizar as conquistas obtidas na operação Lava Jato.

Sem mergulhar em detalhes relativos às reformas propostas pelo governo de Temer— Previdência e Trabalhista —, reclamou do que chamou de falta de debate com a sociedade visto em ambos os projetos, e de que Temer inviabilizou o debate.

“[A reforma trabalhista] precisa de correções. Foram feitas correções por meio de Medida Provisória”, avaliou. “No debate da reforma trabalhista, levantamos todas as injustiças que estavam nela, como uma mulher grávida trabalhar em situação de risco apenas com o laudo do médico da empresa, a questão do trabalho intermitente, com o empregado à disposição do empregador, mas sem saber se será chamado. A gente queria corrigir isso no Congresso mas o governo não quis”, apontou.

Sobre a Reforma Tributária, defendeu princípios da descentralização, da simplificação e da justiça dos tributos. “A Reforma Tributária é muito importante porque vai criar novos equilíbrios entre união, estados e municípios”, comenta. “Uma Reforma Tributária tem que ter o princípio da descentralização, para que os prefeitos tenham os recursos necessários para a saúde, educação e para os serviços exigidos pela população”.

A ideia de simplificação, detalha Marina, passa pela proposta de se estabelecer um imposto único. Já a de justiça implica no pagamento de mais impostos pelas camadas mais privilegiadas economicamente da população.

Meio ambiente

Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina disse que não vê a bancada ruralista, com mais de 200 parlamentares entre os deputados federais, e o agronegócio necessariamente como inimigos da ideia de sustentabilidade. E que já vê vozes no segmento entendendo que a ação exploratória aos recursos naturais se transformou em um problema para toda a sociedade.

“Essas pessoas, espero que possam eleger novos representantes para substituir aqueles que não foram capazes de entender que economia e ecologia podem e devem andar juntos. Não tenho posição de hostilidade à agricultura. A agricultura brasileira é responsável por não estarmos hoje na bancarrota. Um governo responsável ajuda os agricultores a recuperar uma reserva legal, a [trabalhar por] uma produção cada vez mais adequada com os padrões de exportação”, afirmou.

Não às armas

“Não se resolve o problema da segurança pública distribuindo arma para a população. Isso é uma insanidade”, pontuou ao falar sobre a proposta de outros pré-candidatos, como Alvaro Dias, do Podemos, e João Amoedo, do Novo, que defendem a ideia do cidadão ter direito a ter porte de armas. “O porte de arma legal já é permitido por lei, mas a segurança é problema do estado”. Marina defende a criação de um plano nacional de segurança que contemple a integração das polícias civil, federal e militar, com inteligência e tecnologia aplicadas na atuação contra o tráfico de drogas e de armas.

“Vamos ter que fazer um plano nacional de segurança para treinar os policiais, valoriza-los economicamente, simbolicamente, e entender que segurança não é só questão de polícia”, avaliou. “Se não levar alternativas para as comunidades pobres, vai enxugar gelo. Que futuro tem um pobre que não tem perspectiva de emprego?”, questionou. A pré-candidata defendeu que é importante um programa que leve educação e entretenimento às crianças e jovens das regiões mais carentes, assim como crédito para permitir que nesses locais sejam desenvolvidos projetos que gerem emprego e renda, como pequenos comércios, por exemplo.

“Precisa levantar alternativas para essa população, principalmente às mulheres jovens que estão batalhando e às vezes veem os filhos serem perdidos para a violência. Não venha me dizer que isso se resolve distribuindo armas para a população”.

Plebiscito sobre o aborto

Contrária ao aborto, mas pontuando que já existe algo estabelecido por lei — resultado de estupro, risco de morte para a mãe ou em casos de feto anencéfalo —, Marina entende que o melhor combate às mortes de mulheres ocorridas em clínicas clandestinas é a orientação e o planejamento familiar, o que é possível via educação. E propõe um plebiscito como a melhor maneira de abordar e discutir o tema com a sociedade.

“Ter uma posição contrária [ao aborto] não quer dizer que passe por isso tenha que ir para a cadeia. Ela precisa de médico, de psicólogo. O que queremos é que ninguém tenha que lançar mão desses recursos. E aqueles que defendem não podem ser rotulados como os que querem acabar com a sociedade. Defendo um plebiscito debatendo ideias: o que é melhor para alcançarmos o objetivo de não ter uma mulher passando pelo aborto, ou que uma menina não tenha sua juventude interrompida por uma gravidez precoce”, sustenta.

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