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Haddad (foto) quer recuperar votos em nichos conquistados por Bolsonaro, como os evangélicos | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Haddad (foto) quer recuperar votos em nichos conquistados por Bolsonaro, como os evangélicos| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Desde que teve o nome oficializado na corrida eleitoral, há pouco mais de um mês, Fernando Haddad (PT) viu sua rejeição crescer 24 pontos percentuais: passou de 23% na pesquisa Ibope divulgada em 11 de setembro* para 47% no último levantamento** do instituto, publicado na segunda-feira(15).

Os números, somados aos ataques de Cid Gomes, irmão do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), deixaram o ex-prefeito de São Paulo abatido e levaram ele a convocar uma reunião de emergência. Entre as medidas, Haddad resolveu se dedicar, a partir de agora, a conquistar pessoalmente alguns nichos sociais perdidos pelo PT.

Primeiro, Haddad quer conquistar os votos dos evangélicos

Primeiro, Haddad quer se voltar aos evangélicos. A ideia de recuperar o apoio desse grupo religioso vem da percepção do PT de que, entre os evangélicos, há eleitores petistas tradicionais que migraram para Jair Bolsonaro (PSL) nesta eleição.

Para atrair votos dos evangélicos, Haddad vai se comprometer com o não envolvimento em temas morais. O seu adversário, Bolsonaro, é contumaz defensor de “valores da família”, termo que o petista pretende passar a usar.

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A decisão foi tomada na terça-feira (16), em reunião com a cúpula da campanha. Estiveram presentes o coordenador, Jaques Wagner, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e um dos mais próximos articuladores políticos de Haddad, Rui Falcão. Foi o ex-prefeito quem pediu que eles se reunissem no hotel em São Paulo em que funciona o QG petista.

A decisão de fazer a reunião aconteceu, principalmente, após os ataques de Cid Gomes na segunda-feira (15) à noite. O senador eleito pelo PDT do Ceará participou em Fortaleza (CE) de um evento em apoio a Haddad e, na ocasião, cobrou do PT um “mea culpa” e disse que os petistas mereciam perder a eleição presidencial. Vaiado por militantes do partido, partiu para o embate e os xingou de “babacas”. Nas redes sociais, no dia seguinte, colocou panos quentes, e afirmou que o candidato petista é o “menos pior”.

Haddad passou a terça-feira abatido

Segundo pessoas da campanha presidencial petista com quem a Gazeta do Povo conversou ao longo da tarde de terça, Haddad passou o dia abatido. “Ele chegou [ao hotel de São Paulo] calado, sem muito papo. Ficou bastante tempo fechado na sala em reunião. Parou para dar as entrevistas que estavam agendadas [para rádios, transmitidas pelas redes sociais do partido e do candidato]. Mas foi de poucas palavras, o que não é comum pra ele”, disse um dos integrantes da equipe que o acompanha dia e noite.

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Após o primeiro turno, o PDT de Cid e Ciro fechou um “apoio crítico” a Haddad. Entre petistas, contudo, acredita-se que os passos dos pedetistas foram articulados. “Primeiro o Ciro viaja para a Europa, o [Carlos] Lupi [presidente do PDT] some sempre que é chamado para nos apoiar publicamente, e depois essa do Cid”, desabafou um outro nome ligado à campanha presidencial.

Outros nichos perdidos que devem receber atenção de Haddad

Um outro núcleo que deve receber atenção especial de Haddad é de juristas e advogados. O petista é formado em direito e dá aulas na área. Um encontro deve ocorrer na quinta-feira (18) entre o ex-prefeito e juristas e advogados.

Em seguida, Haddad quer se voltar aos professores, intelectuais e reitores, classe também usualmente petista em que foi identificado pelo PT um movimento pró-bolsonarista.

DESEJOS PARA O BRASIL: Uma política moralmente exemplar

Na semana que vem, será a vez dos artistas. Uma reunião deve acontecer no Rio de Janeiro e poderá contar com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque.

Petista ficou ilhado

O Ibope de 15 de outubro mostrou uma distância de 18 pontos percentuais entre Haddad e Bolsonaro. Considerando a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, a diferença não mudou em relação ao resultado do primeiro turno, quando o petista teve 29,28% dos votos válidos e Bolsonaro, 46,03%, uma distância de 16,75 pontos percentuais.

O que assustou a campanha do PT foi Bolsonaro ter deixado Haddad praticamente ilhado no Nordeste e no Pará. O ex-prefeito de São Paulo só se saiu melhor nos estados da região, com exceção Ceará, onde Ciro teve melhor desempenho, e no estado do Pará. Nos demais estados, Bolsonaro liderou com folga. Mesmo em locais onde o PT estava acostumado a dominar, como nas periferias de grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.

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Últimas apostas

O partido ainda tenta entender o fenômeno. Mas, enquanto isso, vai apostando em estratégias. Uma delas foi colocar reforços para trabalhar. A nova coordenação de campanha ensaiou com os deputados federais e estaduais, senadores e governadores eleitos, cada um em seu reduto, discursos voltados para o público de cada um.

A ideia é fazer colar o novo Haddad, descolado de Lula, pai de família, casado há 30 anos, intelectual, formado em direito e filosofia, professor e capaz de “colocar o país nos eixos”. Além, claro, de modular o tom das críticas a Jair Bolsonaro que devem ser dirigidas a cada clã a que cada grupo se dirige.

As ordens dentro do PT são: não perder os votos conquistados no primeiro turno; reconquistar o eleitorado tradicional petista; convencer o eleitor que pretende votar nulo ou branco a escolher Haddad; e fazer migrar para o PT o eleitorado de centro e de centro-direita que pensa em digitar o número de Bolsonaro na urna por antipatia com o petismo, mas que não é um eleitor aguerrido do candidato do PSL.

Metodologias

*Na pesquisa divulgada em 11 de setembro, o Ibope ouviu 2.002 entrevistados entre 8 e 10 de setembro de 2018. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no TSE sob o n.º BR-05221/2018. Contratada por Rede Globo.

**Na primeira pesquisa do segundo turno para presidente, divulgada em 15 de outubro, o Ibope ouviu 2.506 eleitores nos dias 13 e 14 de outubro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. Isso significa que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo Nº BR-01112/2018. Os contratantes foram o jornal O Estado de S. Paulo e a TV Globo.

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