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Gleisi e Lula: a presidente do PT fala em nome do principal líder do partido. | Nelson Almeida/AFP
Gleisi e Lula: a presidente do PT fala em nome do principal líder do partido.| Foto: Nelson Almeida/AFP

O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), marcado para a próxima terça-feira (19), terá consequências maiores do que a simples condenação ou absolvição da senadora. As implicações não serão apenas judiciais; mas também políticas.

Condenada, Gleisi e o próprio Lula tendem a perder força dentro do PT – o que aumentará a divisão do partido. Além disso, é possível que cresça a pressão interna para que o ex-presidente desista o quanto antes de sua candidatura ao Planalto para apoiar um aliado.

Por outro lado, se Gleisi for absolvida, a estratégia de manter Lula na disputa presidencial seguirá firme. E o grupo lulista continuará dando as cartas no partido ainda que o ex-presidente não seja candidato.

Gleisi será julgada no STF pela acusação da Lava Jato de ter recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras para sua campanha ao Senado em 2010. A senadora nega.

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Gleisi foi escolhida a dedo por Lula para comandar o PT

“A condenação enfraquece o Lula porque Gleisi é o nome dele no comando do partido”, diz o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR. A senadora paranaense foi escolhida a dedo por Lula para comandar o PT no ano passado, numa eleição interna em que pela primeira vez o poder absoluto do ex-presidente sobre a sigla esteve ameaçado.

Após ser preso, em março, Lula também indicou Gleisi como sua porta-voz pessoal. E, nessa condição, ela tem cumprido à risca o que ele pede: impedir qualquer discussão pública sobre um plano B do PT para a disputa presidencial ou sobre o apoio a um candidato de outra sigla – ainda que essas hipóteses sejam cogitadas pelo partido. Nesse papel, ela vem provocando atritos com outras lideranças partidárias.

Lepre lembra que a condenação de Gleisi abre a perspectiva de que ela venha a ser presa e, consequentemente, deixe de ser a interlocutora direta de Lula. Segundo o cientista político, isso tende a tornar mais visíveis as alas do PT que não concordam com os rumos do partido.

Governadores do partido que vão tentar a reeleição, por exemplo, não escondem a insatisfação com a manutenção da candidatura de Lula – que tende a ser barrada pela Justiça Eleitoral, o que forçaria o PT a ter de ir para a disputa com outro candidato. A indefinição sobre quem será de fato o candidato petista à Presidência (ou apoiado pelo partido) vem impedindo a articulação de alianças com outras siglas – o que prejudica as pretensões eleitorais dos governadores petistas.

Os governadores do Ceará (Camilo Santana) e da Bahia (Rui Costa) chegaram a defender publicamente que o PT apoie Ciro Gomes (PDT) na eleição a presidente. Gleisi se reuniu com eles para reforçar: quem manda no no partido é Lula e ele não quer ouvir falar em plano B.

“Nem tudo é discutido com o presidente, mas a tática eleitoral e a estratégia política são conversadas com ele e com a direção partidária. Não é da minha cabeça. Não sou iluminada, assim”, disse Gleisi recentemente, reagindo às reclamações em relação à forma como vem conduzindo os rumos eleitorais do partido.

Condenação teria efeitos no PT depois das eleições

Uma eventual prisão de Gleisi, mesmo que ela venha a ser condenada pelo STF, pode não ocorrer até a eleição, em outubro. Isso porque a defesa dela ainda teria recursos a apresentar. E o Supremo costuma ser lento nos julgamentos.

Ainda assim, se tiver de cumprir pena de prisão, dificilmente a senadora encerraria sua gestão na presidência do PT, em junho de 2019. Esse vácuo de poder tenderia a enfraquecer o grupo de Lula e também acirraria as divisões internas do partido no pós-eleições, especialmente se o PT não eleger o próximo presidente e ficar evidente que a estratégia deu errado.

Absolvição fortalece Lula e o discurso anti-Lava Jato

As divisões do PT, contudo, possivelmente ficarão menos evidentes se Gleisi for absolvida pelo Supremo. “A Gleisi se fortalece na presidência do PT. E consequentemente se fortalece a tese da candidatura de Lula”, diz o cientista político Mário Sérgio Lepre.

Além disso, Gleisi e o PT ganharão um forte argumento em seu discurso contra a Lava Jato. Caso ela seja absolvida, o partido a rforçar a tese de que há uma perseguição da Justiça do eixo Curitiba-Porto Alegre contra os petistas e que o STF viu os abusos que foram cometidos pela Lava Jato.

Lepre destaca que, se Gleisi for absolvida, é porque o Supremo entendeu não haver provas contra ela. E que isso não tem relação alguma com as provas que levaram à condenação de Lula. “Mas uma absolvição de Gleisi possivelmente vai ser usada pelo PT contra a Lava Jato.”

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