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 | Ricardo Stuckert /Fotos Publicas
| Foto: Ricardo Stuckert /Fotos Publicas

A repercussão do imbróglio jurídico sobre o “prende e solta” de Lula, que quase deixou a prisão no último domingo (8), reacendeu a militância e reforçou a estratégia do PT de manter a candidatura do ex-presidente até o último minuto. Preso e condenado na Lava Jato por um tribunal colegiado em janeiro deste ano, o petista deve ter o registro de candidato negado pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, após ser apresentada em 15 de agosto.

Apesar de saber que a tentativa de Lula de voltar ao Palácio do Planalto não passa de um conto de fadas, a ala lulista do PT ganha tempo e lucra politicamente com esse discurso, complicando o complexo cenário eleitoral deste ano e tornando-o ainda mais nebuloso e incerto. Para analistas políticos, quem mais perde com essa estratégia é o eleitor, que tem dificuldade em definir seu voto.

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Mesmo que tenha a candidatura impugnada, Lula e o PT prometem recorrer na Justiça e arrastar uma decisão final para depois das eleições de outubro. “Podemos chegar a esse imbróglio, de ter o nome de Lula na urna eletrônica. É a aposta no caos”, avalia André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa. “A insegurança sobre a participação de Lula ajuda a aumentar a instabilidade política e as repercussões de qualquer ação do ex-presidente”, avalia Juliano Griebeler, diretor de relações governamentais da Barral M Jorge Consultoria. 

Como discurso partidário, a tentativa de emplacar a chapa Lula presidente pode ter seu valor, mas eleitoralmente é questionada. “O que hoje Lula e o PT fazem é uma campanha de relações públicas. Não é uma campanha de candidatura”, avalia Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice e mestre em ciência política. 

Diante desse cenário, veja o que ganham e o que perdem os principais personagens da eleição presidencial mais importante desde a redemocratização do Brasil:

Lula e o PT 

Os analistas concordam que o PT ganha ao tentar manter viva a narrativa de perseguição política ao ex-presidente. Manter Lula como pré-candidato é também positivo ao dificultar o embate para seus oponentes. “Essa estratégia deixa os adversários de Lula sem saber quem é seu opositor”, avalia Silvio Cascione, analista político da Eurasia Group. 

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Ao insistir em Lula, o PT ainda protege de ataques um possível candidato viável do partido, que pode ser mantido incólume por mais tempo e ganha com uma possível maior atração de votos em torno do ex-presidente. “Se Lula sai, ele deixa esse candidato exposto a mais ataques e perde o discurso de que Lula é perseguido. O PT entende que para que a transferência de votos seja mais eficaz, Lula deve ficar mais tempo em campanha. Mesmo com ele preso, a imagem dele pode ser associada a esse novo candidato”, avalia Cascione. 

Por outro lado, reforçar a figura de Lula e do lulismo pode dificultar a tarefa do PT de formar alianças. “É uma estratégia arriscada, porque o PT precisa ser coeso de cima a baixo, diferente do MDB, que pode ter alianças estaduais diversas.  Cria-se uma situação para o PT, de ser obrigado a defender uma narrativa que eleitoralmente tem perdido força”, afirmou Lucas de Aragão. 

O enfraquecimento do partido fica claro na redução do número de prefeituras na última eleição e na dificuldade de reeleição dos quadros no Congresso nesta eleição, na opinião de Aragão. “É ruim para o partido. A narrativa do partido não é a mesma. Não mudou a marcha, e eleitoralmente não pega mais. Mas para o Lula é bom”, avalia. 

Jair Bolsonaro (PSL)

Preferido dos eleitores na corrida presidencial se Lula ficar fora do páreo, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) ganha mais do que perde com a manutenção da figura de Lula na pré-campanha, ao se livrar de um embate eleitoral com um pré-candidato que não esteja preso e possa atacá-lo em suas declarações e atos de pré-campanha.

Lula, apesar de opositor forte, é apenas um holograma e dispensa Bolsonaro de ter de travar um combate. “Para Bolsonaro a situação atual é ótima. Ele bate em um inimigo que nunca vai ter de enfrentar de fato. Quando o Tribunal Superior Eleitoral proibir a candidatura Lula, Bolsonaro terá de mostrar mais recheio, mais conteúdo”, avalia Aragão. 

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Bolsonaro também ganha ao se colocar como opositor da forte figura de Lula e não de algum nome do PT com menor peso. Com isso, ele angaria mais votos do eleitorado que não é bolsonarista, mas sim anti-esquerda, anti-PT e anti-Lula. “O Bolsonaro ganha com o fantasma do Lula estando aí. Isso mantém acesa a luz amarela para um eleitor que poderia até pensar em votar em outros grupos, mas teme a volta da esquerda”, analisa André Pereira César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa. 

O analista Juliano Griebeler também concorda com o benefício da polarização com Lula para Bolsonaro: “A manutenção da figura de Lula como pré-candidato polariza (a disputa), pois dá espaço para candidatos do espectro opostos crescerem com base na imagem do Lula. Isso beneficia candidatos tidos como mais radicais, tal como Jair Bolsonaro, e novamente, joga sombra sobre os candidatos que buscam se posicionar como centro”, avalia. 

Ciro Gomes (PDT)

O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, é quem mais ganha com a indefinição sobre Lula, e quem mais perderá com o anúncio do nome viável do PT nas eleições. Para André César, “Ciro é o Lula da vez. Se tiver Lula de verdade, Ciro perde”. 

“Hoje, Ciro pode ganhar com a indefinição sobre Lula, tentando cativar o petismo e inclusive o próprio Lula. Ele pode mostrar que o PT não tem condição [de eleger um candidato], e que [o ex-prefeito de São Paulo, o petista] Fernando Haddad não resolve, que ele Ciro seria a solução”, diz César. 

Enquanto a indefinição segue, Ciro aproveita para se colocar como opção viável para a esquerda em oposição a Bolsonaro e está fazendo alianças, que já podem incluir o PSB, o PP e até mesmo o DEM. Caso Lula realmente não se viabilize candidato, Ciro terá seu terreno montado. 

Mas, mesmo nesse cenário, a situação de Ciro ainda é precária. “Mesmo que ele consiga alianças, ele conseguiria a estrutura desses partidos, mas não muitos votos”, avalia Cascione. Ciro também teria dificuldade em trazer votos do PT caso Lula não concorra. Somente se Lula indicá-lo como seu candidato, o pedetista pode conseguir alguns desses votos. 

“Ciro tem maioria dos votos no Nordeste. Quando Lula indicar alguém, ele perde votos nessa região. Não acreditamos que Ciro venha a disputar como favorito. Ele está disputando entre os outros candidatos. Ciro pode ser voto útil, de alguns petistas até, mas só no último momento”, diz Cascione. 

Geraldo Alckmin (PSDB)

Tradicional força de oposição ao PT desde a redemocratização, o enfraquecido PSDB fica de fora da discussão que envolve Lula. Para Lucas de Aragão, o lulismo segue firme e atuante na atual eleição – mesmo que esteja indefinido quem vai ser o representante dessa linhagem. Por outro lado, está aberto o posto de oposição a essa vertente, sem estar garantida a posição do PSDB desse lado do jogo eleitoral. 

“Ainda existem as narrativas do lulismo e do anti-lulismo. A diferença é que quem vai se beneficiar dessas narrativas será diferente. Hoje está em aberto quem se beneficia do lulismo e mudou quem vai se beneficiar do outro lado. Até agora tinha sido sempre um tucano. Mas agora isso mudou completamente”, avalia o sócio da Arko Advice. 

Enfraquecido e com diversos problemas em ser partido, Geraldo Alckmin ainda tem outros problemas mais urgentes para se preocupar do que o holograma de Lula, na visão de André César.

“Alckmin tem questões como as operações da PF entre os tucanos. Ele também tem uma gestão com avaliação ruim no governo de São Paulo, e ainda tem fogo-amigo no PSDB, a começar pelos aliados do prefeito de São Paulo, João Doria. Nas convenções podemos ver um golpe e Doria pode ganhar para disputar as eleições pelo partido. Alckmin tem de atravessar um campo minado. Até poder pensar em ser o inimigo de Lula, ele tem muito a passar”, avalia.

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