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| Foto: Ricardo Stuckert/ Fotos Públicas

“Sou o segundo poste de Lula”, disse Fernando Haddad no fim da noite do dia 28 de outubro de 2012, quando venceu o segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo. Em 2018, a frase ganhou nova roupagem: "Volto ao cargo de poste", ironizou ele em uma conversa com amigos em julho, quando seu nome começou a ganhar força para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas em outubro. Desde 11 de setembro, ele é o candidato do PT à Presidência da República.

Foi em 2012 que Haddad subiu pela primeira vez em um trio elétrico para discursar como candidato. Depois de enfrentar alguns metros no tumulto da militância, sorrindo, tirando fotos e retribuindo apertos de mão e abraços, fez um discurso ainda tímido. Mas logo foi socorrido por Lula, que inflamou o público. E assim seguiu a campanha à Prefeitura de São Paulo em 2012: Haddad falava, Lula emendava.

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Seis anos mais tarde, Fernando Haddad volta a enfrentar as multidões, os discursos, debates e entrevistas – coisa que já vinha colocando em prática antes de assumir a cabeça de chapa, quando esteve na posição de coordenador do programa de governo do PT à Presidência da República.

Agora, porém, não é o maior líder petista quem vai lhe dar a mão e batalhar por sua vitória. Ao contrário, é Haddad quem está “dando uma mão” a Lula, ao substituí-lo na corrida eleitoral após o indeferimento da candidatura do ex-presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Como foi a trajetória de Haddad

Embora a disputa de 2012 em São Paulo tenha sido sua estreia nas eleições, a vida pública de Haddad começou bem antes. Foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças da capital paulista na gestão de Marta Suplicy de 2001 a 2003, quando passou a assessor especial do Ministério do Planejamento. Começou a se tornar conhecido mesmo como ministro da Educação, cargo que ocupou nos governos Lula e Dilma Rousseff, entre 2005 e janeiro de 2012.

Como ministro, se aproximou de Lula e de Dilma. Com o ex-presidente rodou o país em inaugurações de obras da área de educação e dava palpites sobre o setor. Mas o assunto predileto dos dois nas horas de voo que faziam juntos era política econômica. “Mas nesses casos, Haddad só falava quando perguntado”, conta um ex-assessor de Lula.

Com Dilma não foi diferente. O assessor que permaneceu no Planalto após a eleição da petista conta que, na primeira reunião como ministro dilmista, Haddad estendeu a mão para cumprimentá-la. Ela o puxou para abraçá-lo e beijá-lo. E foi assim sempre que se viam, muitas vezes, até quatro vezes na semana. 

À frente do MEC, Haddad conseguiu a adesão de todos os 27 governadores e mais de 5,5 mil prefeitos às metas básicas da educação. E na época repetia constantemente no ministério: "É proibido ter partido aqui. Educação é uma política de estado".

Os vexames no Enem 

Também nesse período, enfrentou crises, como uma série de falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em outubro de 2009, a prova foi roubada da gráfica. Em dezembro, houve a divulgação errada de um gabarito. No ano seguinte, os cartões de resposta apresentaram erro de impressão no cabeçalho e houve questão duplicada e folha repetida.

Ele chegou a tentar a reeleição em 2016, mas com uma gestão super mal avaliada, o petista acabou sofrendo uma derrota acachapante para João Doria, eleito no primeiro turno. 

De onde vem Haddad?

Prefeito, ministro, professor universitário, doutor em Filosofia, mestre em Economia, presidente de Centro Acadêmico, vendedor de tecidos. 

Fernando Haddad nasceu em 25 de janeiro de 1963 na Vila Mariana, São Paulo. Desde cedo precisou ajudar na loja de tecidos da família, na Rua Comendador Abdo Schain, paralela à 25 de Março, conciliando os estudos na Faculdade de Direito da USP com o trabalho. 

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Foi no terceiro ano da faculdade que ingressou na militância política, assumindo a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto em 1984. Com os colegas de então, participou dos comícios pelas Diretas Já. 

Até 1996, manteve vida ativa na universidade. Fez mestrado em Economia e doutorado em Filosofia. Em 97 começou a dar aulas no departamento de Ciência Política da USP, pra onde voltou após a derrota na reeleição como prefeito de São Paulo. 

5 livros socialistas

Fã da academia, escreveu cinco livros, todos de cunho socialista, base na qual firmou sua formação: "O Sistema Soviético", "Em Defesa do Socialismo", "Desorganizando o consenso", "Sindicatos, cooperativas e socialismo" e "Trabalho e linguagem." 

O "Dandão" da juventude se casou com a dentista Ana Estela Haddad em 1988 e teve dois filhos: Frederico e Ana Carolina. 30 anos depois, ainda mantém algumas mesmas manias: não gosta de atrasos, não se senta à mesa, não gosta de dormir fora de casa, mesmo que tenha que pegar vôos de madrugada.

Tomou gosto pelo tae kwon do, mas vai e volta à atividade por causa de uma lesão no joelho. Todos os dias faz uma oração antes de dormir, mas diz que não é religioso. "A mãe dele, espírita, foi quem ensinou e ele nunca parou. Está funcionando", brincou um assessor que o acompanha nas frequentes viagens que tem feito desde que tomou para si o papel de possível substituto de Lula.

Avô libanês

Quando conta de sua vida a amigos e conhecidos, sempre começa pelo avô, Cury Habib Haddad. O candidato a presidente não o conheceu, mas leva uma foto dele na carteira. "Nas horas de dificuldade, ele sempre brinca: o que meu avô faria?", relatou um amigo dos tempos de USP.

O pai, o libanês Khalil Haddad, migrou para o Brasil em 1947 e aqui se casou com Norma Thereza Goussain Haddad, filha de libaneses.

Aos 55 anos, cabelos já grisalhos, 1,83 metros e uma personalidade que lhe obriga a andar com uma aparência impecável, Haddad pode terminar 2018 no cargo eletivo mais alto do país. Para isso, vai abusar da dialética que aprendeu na filosofia e dos dados que leva consigo da economia.

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