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 | Marcos Oliveira/Agência Senado
| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A tentativa mais recente de o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) formar uma chapa para concorrer à presidência durou pouco mais de 12 horas. Ainda na noite desta terça-feira (17), a aliança entre o capitão da reserva e o general Augusto Heleno (PRP) foi para o brejo e ilustra bem o emaranhado político que envolve a formação de coligações para a disputa em 2018. Com o prazo para definições partidárias batendo à porta, as legendas correm para fechar acordos e encorpar as chapas dos pré-candidatos que pretendem disputar o pleito. O período para realização das convenções partidárias, que vão determinar o rumo que cada partido vai seguir nas eleições, vai de 20 de julho até 5 de agosto. As tratativas, porém, mostram como, apesar do desejo do eleitor por mudança, o Brasil continua sendo a República dos Conchavos.

As coligações para as eleições majoritárias são importantes porque garantem mais dinheiro e mais tempo de TV para os candidatos à presidência, o que pode ser imprescindível neste ano, em que a campanha é mais curta e não pode ser financiada com dinheiro de empresas. Além disso, as alianças garantem que os candidatos tenham mais cabos eleitorais espalhados pelo país, o que também é uma vantagem considerando o dinheiro escasso e o pouco tempo para rodar o Brasil nos 45 dias de campanha. Esses fatores, no final das contas, acabam pesando mais que o posicionamento ideológico das legendas e é comum um mesmo partido negociar apoio tanto com a esquerda, quanto com a direita. A busca dos presidenciáveis por apoio acaba transformando legendas médias do centrão em partidos-chave para a disputa pelo Palácio do Planalto.

O papel dos diretórios estaduais

A eleição presidencial é importante para os partidos, mas as legendas não deixam de lado as discussões sobre alianças regionais, nos estados. A última tentativa de Bolsonaro em fechar uma parceria com o PRP é um exemplo claro. Os acordos regionais do PRP impediram a formação de chapa com o PSL para a disputa presidencial. O PRP na Bahia, por exemplo, apoia o PT. E no Rio, a legenda é comandada pelo ex-governador Anthony Garotinho.

Outro flerte de Bolsonaro também corre risco de não vingar. O PR, que chegou a cogitar uma aliança com o senador Magno Malta (PR-ES) como vice de Bolsonaro, quer emplacar uma aliança com o PSL também nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Distrito Federal. Assim como no caso do PRP, o diretório do PR da Bahia tem sido um empecilho à aliança com o capitão da reserva. Já no Pará, o diretório do PSL avisou que vai se aliar ao MDB. No Rio de Janeiro, o entrave é causado pelo pré-candidato ao Senado, Flávio Bolsonaro (PSL) – filho do presidenciável. Flávio não quer o PR na coligação no estado. Em São Paulo, PSL também não quer saber de se coligar com o PR.

O PSB, que tentou lançar Joaquim Barbosa à presidência, também vive um dilema nessa eleição. O partido não bateu o martelo em favor do pré-candidato Ciro Gomes (PDT) porque os diretórios de São Paulo e de Pernambuco pediram mais tempo para articular as alianças locais. Em São Paulo, a chance de a legenda se coligar com o PDT aumentou depois que o PP pendeu para o lado de João Dória na disputa pelo governo do Estado. Candidato à reeleição, Marcio França (PSB) precisa de apoio para ter mais chances de vencer o tucano. Para tentar fisgar o PSB, Ciro Gomes prometeu alianças com a legenda no Espírito Santo, Sergipe, São Paulo e Distrito Federal.

Uma aliança com o PSB também é cobiçada pelo presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Em São Paulo, Alckmin renunciou ao governo do estado e deixou Marcio França (PSB) no comando, mas o PSDB vai lançar João Dória como candidato e abandonar o antigo aliado, que tenta reeleição. Mesmo assim, Alckmin tenta fisgar a legenda, prometendo uma aliança com o PSDB no Espírito Santo, para eleger Renato Casagrande (PSB) governador. Já em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) já disse que quer apoiar o ex-presidente Lula (PT) na eleição.

E por falar em Alckmin, o pré-candidato também tenta uma aliança com o DEM. Lideranças da legenda em São Paulo e em Pernambuco querem que o DEM feche apoio ao tucano. Já Ciro Gomes (PDT) prometeu uma aliança com o DEM no Rio de Janeiro.

O fator Alckmin

Além das discussões em torno das coligações nos estados, a expectativa em torno de uma melhora nas intenções de voto em Geraldo Alckmin (PSDB) também trava algumas discussões. O ex-governador de São Paulo chegou a negociar com o PRB, mas a legenda tenta ganhar tempo para monitorar o desempenho do tucano, que ainda não decolou nas pesquisas. Alckmin também chegou a oferecer a vice-presidência ao ex-tucano Álvaro Dias, que é pré-candidato à presidência pelo Podemos.

Enquanto tenta subir nas pesquisas, Alckmin também tenta minar acordos do adversário Ciro Gomes (PDT). O tucano tenta manter o PSB neutro na disputa presidencial para evitar que a legenda se alie à Ciro. Alckmin também tenta garantir que o presidente Michel Temer (MDB) retalie o PP, caso o partido vá com Ciro Gomes para a disputa.

Outro partido que está avaliando o desempenho de Alckmin para decidir se entra para a coligação é o PPS. A sigla também tem conversado com a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o presidente nacional, Roberto Freire, estaria descontente com a estagnação de Alckmin nas pesquisas. O tucano, porém, conta como certa a aliança com o PPS e garante que também já tem o apoio do PTB, PSD e PV.

Tamanho das bancadas

Para os partidos médios e pequenos, mais importante do que disputar a presidência é garantir uma bancada significativa no Congresso e nas Assembleias Legislativas. Assim, as legendas não podem ser ignoradas na hora da formação dos governos dos estados e do governo federal, por terem um bom número de cadeiras no Legislativo.

Nesse sentido, o PSB chega a estudar a possibilidade de lançar uma candidatura própria, com Júlio Delgado, para usar o tempo de TV da legenda para garantir a eleição de deputados. Em São Paulo, o presidente estadual do PSL, Major Olímpio, diz que o partido de Bolsonaro tem 105 nomes para disputar vagas na Câmara dos Deputados. Com uma coligação com o PR, a legenda seria prejudicada na hora de dividir os votos proporcionais para o Legislativo.

Alguns políticos também têm resistido a trocar eleições praticamente garantidas para o Senado para tentar a sorte na disputa presidencial. É o caso do senador Magno Malta (PR-ES), que tem dado sinais de que prefere tentar a reeleição à ser vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL). Outro que não quer abrir mão de disputar uma vaga ao Senado é Jaques Wagner (PT-BA), cotado para ser plano b do PT, no lugar de Lula.

Com quem vai o centrão?

Os partidos de centro, que chegaram a cogitar a possibilidade de se aliar em torno de uma única candidatura, ainda não definiram para que lado vão e isso também pode influenciar a composição de forças para a eleição presidencial.

O PR negocia, ao mesmo tempo, com Bolsonaro (PSL) - tendo Magno Malta como possível vice na chapa -, com Lula (PT) - com Josué Alencar como possível vice- , com Ciro Gomes (PDT) e com o Podemos. O Podemos, por sua vez, pode insistir na candidatura de Álvaro Dias ou fechar uma aliança com o PSDB. Ciro Gomes (PDT) ainda tenta atrair partidos como o PP, Solidariedade e DEM.

E a esquerda?

A esquerda não está mais organizada que o centrão na composição de alianças. A insistência do PT em lançar a candidatura de Lula à presidência acaba travando uma série de alianças e pode prejudicar o partido. O PCdoB, aliado do PT, pode acabar fechando uma aliança com Ciro Gomes (PDT). O ex-governador do Rio Grande Do Sul, Tarso Genro (PT), já deu a entender que pode apoiar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL).

O PSB, partido de centro-esquerda, ainda não decidiu se lança candidatura própria, se apoia Ciro ou fecha uma aliança com o PT. Já a pré-candidata Marina Silva (Rede) ainda negocia uma aliança com o PPS - o presidente nacional da sigla, o ex-ministro e ex-deputado Roberto Freire, chegou a ser cotado para ser o vice. Também foi cogitada uma – improvável, mas não impossível - coligação com o PSDB, tento Marina como cabeça de chapa e um tucano como vice.

E o MDB?

Maior partido do Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o MDB do presidente Michel Temer parece estar isolado na disputa. Com a baixa popularidade de Temer, nenhum pré-candidato parece estar disposto a se associar à legenda. O ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o pré-candidato pela legenda, mas ainda não viu sua candidatura decolar. O MDB tenta atrair o apoio do PRB, mas pode acabar indo para a disputa sozinho – ou acabar se coligando com outro candidato.

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