• Carregando...
 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil

Eleição no Brasil custa caro. Para os candidatos à Presidência da República, então, os valores são astronômicos. O dinheiro é usado para pagar marqueteiro, propaganda, distribuição de santinho, viagens pelo país em busca de votos, entre outras coisas. Para ser notado pelo eleitorado, o candidato precisa ainda ter tempo para divulgar suas propostas no horário eleitoral em rádio e TV. Sob essa lógica, os partidos maiores saem na frente na disputa, pelo menos em relação aos recursos à sua disposição.

Nesse sentido, causa estranheza o fato de um dos principais pré-candidatos à Presidência em 2018 estar de saída para um partido nanico a fim de disputar o cargo no ano que vem. O deputado federal Jair Bolsonaro, atualmente no PSC, deve deixar o partido para disputar a presidência em 2018 pelo PEN, que vai mudar de nome e virar Patriotas. Bolsonaro já até apareceu na propaganda partidária do Patriotas na TV, na semana passada.

SAIBA MAIS:Notícias sobre as Eleições 2018

A propaganda em TV, inclusive, é um fator importante para a campanha eleitoral. Em 2014, o PEN tinha direito a 1 minuto e 95 segundos no programa eleitoral gratuito no rádio e na TV. O partido acabou se coligando com o PSDB de Aécio Neves e a coligação ficou com 4 minutos e 35 segundos no total para a propaganda.

A coligação vencedora tinha mais que o dobro de tempo em TV: foram 11 minutos e 24 segundos para a coligação encabeçada pelo PT de Dilma Rousseff. O PT, sozinho, tinha direito a 2 minutos e 45 segundos de propaganda gratuita.

LEIA TAMBÉM: 6 coisas que o presidente da República não consegue resolver sozinho

Sem uma coligação que garanta maior visibilidade, Bolsonaro pode ter dificuldade de chegar ao eleitor em 2018. “Quando a pessoa é detentora de carisma pessoal, habilidade de falar e propostas, nesse aspecto o carisma supera a questão do tempo”, avalia o cientista político da PUC-PR, Masimo Della Justina.

O problema, segundo Justina, é que o deputado federal não é necessariamente carismático. Para ele, Bolsonaro está mais para uma figura controversa, o que pode interferir na qualidade do debate durante a campanha.

“Uma figura controversa faz uso da força da linguagem. A pessoa, pelo pouco tempo que tem, vai criar frases bombásticas e de efeito para impor sua própria agenda. Porque mesmo quando ele não estiver ocupando um tempo em que ele esteja falando, pode ser que outro candidato comente dele e vá fazer referência as propostas dele, então esse tempo que lhe falta é compensado porque a agenda dele vai aparecer na agenda dos outros”, explica.

LEIA TAMBÉM: Há chance real de uma intervenção militar no Brasil?

Justina alerta para o perigo de usar a estratégia da controvérsia. “O brasileiro comum não gosta de ter figuras controversas. Nesse exato momento o eleitor espera uma agenda econômica mais acertada e um pouco de postura ética individual”, opina o cientista político.

Já para o cientista político Marcio Coimbra, o pouco tempo de TV pode ser um aliado de Bolsonaro em 2018. “Como a campanha do Bolsonaro vai ser mais midiática do que de conteúdo, o pouco tempo de TV pode ser mais um aliado dele. Muito tempo de TV tem que ser muito bem usado”, explica.

Procurado pela reportagem, Bolsonaro afirmou que estar num partido grande, do jeito que estas legendas estão manchadas por acusações de corrupção, só para ter tempo de rádio e TV não vale a pena. “Não faço pacto com o diabo, como disse a Dilma Rousseff. Eleição para mim não é isso. Quem disse que terei mais condições de ganhar se tiver num partido grande?”, disse.

LEIA TAMBÉM: 43% dos brasileiros defendem intervenção militar. Apoio é maior entre os jovens

Sobre o tempo reduzido de rádio e TV, por concorrer por um partido nanico, Bolsonaro minimizou. “E com todo respeito a jornalistas e emissoras de TV, as redes sociais tomaram conta”, disse o deputado, que utiliza muito o contato com seus seguidores no Twitter e outras plataformas digitais.

Campanha sem dinheiro

Além do tempo de TV, as legendas precisam de dinheiro para fazer campanha. O PEN atualmente tem três deputados federais em exercício e nenhum senador, o que coloca a legenda no fim da fila da distribuição de recursos do Fundo Partidário.

Em 2016, o partido recebeu R$ 5,8 milhões do fundo, o que corresponde a 0,79% do total dividido entre todas as legendas. Enquanto isso, os partidos maiores, como PT e PSDB, receberam, respectivamente, R$ 89 milhões e R$ 80,8 milhões do fundo.

Mesmo que a forma de financiamento partidário seja alterada, o cenário não deve ser muito diferente para o PEN no ano que vem. Se a forma de divisão do Fundo Especial de Financiamento da Democracia, em discussão no Congresso na reforma política, for aprovada, a futura legenda de Bolsonaro vai ficar com apenas 0,59% do total dos recursos rateados – porcentual ainda menor que o recebido no ano passado.

LEIA TAMBÉM: Lula ou Bolsonaro? Nova sondagem de votos mostra quem leva a melhor em 2018

Nesse sentido, pode faltar dinheiro para se defender de ataques e da tentativa da desconstrução de sua imagem bancados pelos opositores. Um exemplo claro disso é a candidatura de Marina Silva (Rede) em 2014. A candidata estava indo bem nas pesquisas, mas depois de uma campanha de desconstrução patrocinada pelo PT, acabou nem chegando ao segundo turno.

“Só quem faz a desconstrução é quem tem mais dinheiro para pagar as melhores técnicas e os melhores profissionais”, diz Justina.

Coimbra, porém, faz um alerta. “O leitorado do Bolsonaro é um eleitorado que, quanto mais bate, mais cresce. Tem que ter muito cuidado para quem for atacá-lo saber como atacá-lo”, diz o cientista político.

Comparação com Trump

Os dois especialistas fazem comparações com o caso da eleição norte-americana, em que Donald Trump acabou eleito depois de uma campanha truculenta. “Podemos estar diante de um fenômeno como o de Trump. É preciso ter cautela em relação aos ataques”, diz Coimbra.

O cientista político também destaca o fator de Bolsonaro contar com o “voto de rejeição” do eleitorado. “Ele encarna um sentimento de revolta de parte da população, mas não encarna nenhum projeto. O Bolsonaro é simplesmente uma rejeição ao resto, não é um projeto no qual as pessoas acreditam”, completa.

Outro fator que pode beneficiar o deputado federal na disputa é o chamado “voto silencioso”. “O voto silencioso é perigoso, é mais ou menos o q aconteceu com a eleição do Trump nos EUA. O eleitor não declara até o último momento o voto dele e daí ele migra para um voto porque foi atraído para aquela proposta ou o eleitor tem essa questão de vingança, já que está tudo ruim, votar em alguém com quem nem me identifico para mostrar para os outros que não têm qualidade”, diz Justina. “A história tem demonstrado que em períodos de vazio ideológico e vazio de liderança os extremos piores têm se aproveitado”, conclui.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]