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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A “tensão pré-eleitoral”, momento em que os mercados ficam nervosos com as incertezas provocadas pelas eleições presidenciais, já começou, antecipando a corrida de 2018. Esse é um movimento comum no Brasil, mas estamos diante de algo potencialmente mais agudo do que em todas as eleições entre 2006 e 2014.

A última grande tensão de mercado por causa da corrida eleitoral foi em 2014. Foi o ano em que o acidente que matou o então candidato Eduardo Campos quase tirou o tucano Aécio Neves do segundo turno. Aécio, representado no campo econômico por Armínio Fraga, era certamente o preferido pelos mercados. Concorrendo à reeleição, Dilma Rousseff era um problema conhecido e que precisava mudar de rumo. Marina Silva corria por fora, com um grande ponto de interrogação sobre sua capacidade de governar.

Era um período em que o dólar oscilava em torno de R$ 2,20 e só foi bater em R$ 2,40 nas vésperas do primeiro turno. A bolsa passou por uma gangorra. Começou o ano com 48 mil pontos, chegou a 60 mil nos piores dias de Dilma na campanha, e voltou aos 52 mil no fim do ano. A grande questão na época era como o governo do PT lidaria com seus próprios legados tóxicos: inflação em alta, preços controlados, orçamento público maquiado e economia andando de lado.

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Se 2014 foi um ano difícil por causa do cenário eleitoral, os espinhos de 2018 já começam a espetar o mercado em 2017. Em outubro, o real teve a maior desvalorização desde outubro de 2008, o auge da crise internacional que está prestes a completar uma década. A bolsa perdeu seu fôlego, que vinha sendo retomado depois do esfriamento da crise política do governo Temer. E os juros de médio e longo prazo teimam em não cair, mesmo com a taxa básica atualmente caminhar para sua menor marca histórica.

O Ibovespa, o principal índice da B3, perdeu 4 mil pontos nos últimos 30 dias. A cotação do dólar passou de R$ 3,15 para perto de R$ 3,30. E os juros para 2021 estão em 9,5%, enquanto o mercado espera que eles caiam a 7% em dezembro deste ano – ou seja, o mercado espera que os juros vão subir. Há alguma descrença no ar e ela tem a ver com dois fatores: a inabilidade do governo Temer para fazer reformas e encaminhar um orçamento decente para 2019; a incerteza sobre a capacidade de seu sucessor, seja lá quem for, de fazer o que o atual governo não conseguir.

O diagnóstico sobre os problemas econômicos do Brasil é bastante direto. Há uma crise fiscal ainda em curso e não resolvida, que é composta por uma combinação de aumento estrutural de gastos (Previdência, em especial) e um engessamento na correção da conta na base da tesourada. Aumentos de impostos, como já disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não passam. Teremos o terceiro déficit seguido acima de R$ 100 bilhões e já há quem preveja que a dívida vai beirar os 100% do PIB em seis ou sete anos.

Ao mesmo tempo em que a crise fiscal perdura, o Brasil está atolado em sua baixa produtividade, provocada por investimento insuficiente, educação pobre e custos peculiares. Entram na conta do “custo Brasil” sua liderança em burocracia para o pagamento de impostos, o tempo exigido para se abrir uma empresa, o protecionismo e até a morte precoce de jovens em crimes e acidentes de trânsito – o Retrato da Segurança Viária calculou que os acidentes de trânsito custam R$ 19 bilhões ao ano para o país.

Essa desconfiança, é bom frisar, acontece no exato momento em que a economia internacional cresce no melhor ritmo desde a crise de 2008. Os riscos no radar dos investidores, como a alta nos juros dos Estados Unidos, ainda não fizeram estragos evidentes. E há muito dinheiro ainda no mundo em busca de risco, embora com menos apetite do que um ou dois anos atrás.

A tensão pré-eleitoral, portanto, parece ter chegado um pouco mais cedo do que de costume. Com o Congresso já de olho em 2018, pouca gente acredita em reformas muito profundas nos próximos meses. E o cenário eleitoral está mais aberto do que de costume. Lula pode não ser candidato, Bolsonaro diz não entender nada de economia e a ala mais liberal do espectro político ainda não tem um nome de consenso. Para o mercado, o tucano Geraldo Alckmin já soa como uma jogada de sorte. Até outubro do ano que vem, devemos estar preparados para alguns soluços na economia.

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