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Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo: repercussão das ideias do ministro das Relações Exteriores não foi positiva lá fora. | Alan Santos/PR
Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo: repercussão das ideias do ministro das Relações Exteriores não foi positiva lá fora.| Foto: Alan Santos/PR

Ao fazer sua estreia internacional, na semana que vem, no Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro defenderá a aprovação rápida da reforma da Previdência, o ajuste das contas públicas, a autonomia do Banco Central e a abertura da economia brasileira.

O rascunho do discurso, que deve ter meia hora, já está pronto, mas a versão final do texto será discutida nesta sexta (18) e no fim de semana, com a ajuda do ministro da Economia, Paulo Guedes. O presidente deixará para seu “posto Ipiranga” detalhar as questões econômicas aos investidores internacionais e se limitará a ser mais genérico e político.

À elite financeira mundial, Bolsonaro afirmará que o Brasil quer fazer negócios com todos os países, mas voltará a defender que os parceiros sejam tratados sem “viés ideológico”. Também vai dizer que não há tabus para acordos bilaterais, desde que tragam resultados concretos para o país.

Caberá a Paulo Guedes fazer uma apresentação global da reforma da Previdência e defendê-la como essencial para a “oxigenação” da economia brasileira nos próximos anos. Ele dirá que a proposta será voltada não somente para o enfrentamento do problema demográfico de envelhecimento dos brasileiros e equilíbrio das contas públicas, mas também para a modernização do sistema previdenciário e combate aos privilégios.

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Guedes teria uma reunião com o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, mas ontem, por conta da paralisação do governo dos EUA, o presidente Donald Trump cancelou a participação da delegação do país em Davos.

Depois de fazer um histórico das razões que levaram o Brasil a cair na “armadilha do baixo crescimento”, Guedes vai centrar seu discurso no que vem chamando de “terraplenagem” – uma agenda corretiva para colocar a economia no rumo de uma expansão mais rápida e sólida. Essa agenda, dirá o ministro, está sustentada em três pilares: reforma da Previdência, privatizações e concessões e enxugamento e maior eficiência da máquina pública.

Também serão apresentadas metas para os próximos anos, como a de aumentar a corrente de comércio de 22% do PIB para 30% do PIB até 2020 e dobrar, em quatro anos, o porcentual que o país investe em ciência e tecnologia, hoje em 1% do PIB. A redução de impostos também está entre as metas.

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Parte da mensagem de Guedes é explicar como está a economia brasileira e reforçar que o governo quer fazer a lição de casa e “igualar o jogo”. “Davos será muito importante para a atualização da imagem do Brasil. Vamos deixar a visão de que não apenas estamos dispostos a fazer a lição de casa, mas também a construir uma economia moderna”, afirmou uma fonte da equipe econômica que também participará do evento em Davos. “Os investidores vão ouvir a mensagem de que o governo quer tirar o Estado do cangote do brasileiro”.

Fórum será decisivo para Bolsonaro

O Fórum Econômico Mundial, que vai reunir chefes de Estado e a elite financeira do planeta na semana que vem, em Davos, terá seus holofotes direcionados para a figura de Bolsonaro. Sem a presença de Donald Trump, Emmanuel Macron, Maurício Macri ou Xi Jinping, o presidente brasileiro terá um espaço privilegiado no evento. Davos será um “teste” para medir a aceitação do novo governo.

“Ele pode ser bem-sucedido, já que a proposta de seu governo para a economia é extremamente ‘friendly’ para o mercado e investidores internacionais”, disse, antes de embarcar para a Suíça, um executivo brasileiro do setor financeiro. “Mas também pode ser um fiasco se o Brasil entrar em temas como clima e ecologia, ou insistir em uma relação belicosa com a China.”

A organização do evento, que reúne 3,5 mil participantes, reservou a Bolsonaro um discurso de 30 a 45 minutos na sessão inaugural do fórum, na terça-feira (22). “Todos estarão acompanhando cada passo, cada declaração dada”, disse um dos organizadores. “Um passo em falso vai custar muito caro.”

Membros do governo que ajudaram a preparar a primeira viagem ao exterior de Bolsonaro sabem que ele chega ao evento com uma imagem negativa, que precisa ser revertida. Os comentários nos principais jornais do mundo em relação às ideias do chanceler Ernesto Araujo, que relacionou mudanças climáticas a um complô “marxista”, não foram positivos. A decisão do Brasil de sair do Pacto de Migração, o relaxamento das leis sobre armas e comentários sobre minorias também têm contribuído para um isolamento.

Para reverter tais sinais, o governo montou uma “operação de sedução” em Davos, que inclui o discurso no principal palco do fórum, encontro com líderes internacionais para desfazer parte de sua imagem negativa e um amplo engajamento da equipe econômica em encontros com presidentes das maiores empresas do mundo.

Outro foco será reforçar a ideia de que o combate à corrupção, que afetou de forma profunda a imagem do país no exterior nos últimos anos, também será prioridade. A participação de Sérgio Moro será uma espécie de “garantia internacional”.

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Os estrangeiros veem Bolsonaro com apreensão e curiosidade. Mas também depositam nele as expectativas de mudanças para uma maior abertura do país, a adoção de reformas e um novo ciclo de crescimento. Se seu discurso no setor financeiro e econômico atrai investidores, muitos querem saber o que ele fará para reduzir a tensão política no país e voltar a criar condições para que uma das maiores economias do mundo volte a ser atraente.

“Será a primeira exposição internacional de Bolsonaro, em uma conjuntura de muita expectativa em relação ao Brasil, sobretudo a respeito das reformas”, disse outra fonte do mercado financeiro que estará em Davos.

Um banqueiro brasileiro disse que Bolsonaro não pode correr o risco de seguir a mesma trajetória do presidente argentino, Maurício Macri, que quando eleito foi recebido como “proposta revolucionária de modernidade” em sua estreia em Davos. “Macri errou ao acreditar que era possível fazer ajustes com inflação acima de 20%, 25%. Hoje, ninguém mais está interessado nele.”

Não é a primeira vez que Davos será o campo de testes para um presidente brasileiro. Em 2003, o local foi o palco da estreia internacional de Lula. Naquele momento, os mercados temiam um governo que pudesse se afastar do mundo financeiro. Em seu primeiro discurso, Lula estendeu a mão aos investidores e virou o “queridinho” do fórum e ganhou, em 2010, o prêmio de estadista do ano.

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