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A senadora Gleisi Hoffman discursa para manifestantes pró-Lula em Curitiba. | Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A senadora Gleisi Hoffman discursa para manifestantes pró-Lula em Curitiba.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Foi com um pão com manteiga e café preto que Lula começou a sua primeira manhã na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba. O ex-presidente, preso na noite anterior, dormiu em uma sala especial de 15 metros quadrados, sem grades, no último piso do prédio da PF.

Em nota, o PT afirmou que Lula “dormiu tranquilamente e não foi maltratado pelos agentes do local”. Do lado de fora, um grupo de manifestantes favoráveis a Lula seguia a vigília permanente convocada pelo PT. O grupo anti-Lula desapareceu.

Por determinação judicial expedida na noite anterior, foi criado um perímetro de 100 metros a partir do portão do prédio da PF no qual está proibida a presença de manifestantes. O PT estaria tentando derrubar o interdito proibitório, por meio de um habeas corpus preventivo coletivo, concedido em caráter liminar, já que a medida deve ser estendida para todo o entorno da sede da Polícia Federal.

O acampamento, montado na Rua Doutor Barreto Coutinho, é organizado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e tem a participação de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da Via Campesina. A expectativa era de que ele recebesse até 1500 manifestantes.

Entre as várias barraquinhas de comida que foram erguidas nas proximidades, uma chamou a atenção: tinha um cartaz que dizia “cartas ao companheiro Lula”. A ideia da organização é que as pessoas deixem suas mensagens ali para que sejam entregues ao ex-presidente preso.

Na página oficial de Lula no Facebook, um vídeo gravado na sexta (6), um dia antes da sua prisão, foi divulgado no fim da manhã deste domingo (8). Nele, Lula diz que o juiz federal Sergio Moro “é uma mente doentia” e que espera ser solto através de alguma decisão jurídica favorável.

No final da tarde, a senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann discursou em frente à Polícia Federal em meio a um show da cantora Ana Cañas, de passagem por Curitiba. Ela afirmou que “a mobilização da militância trará Lula de volta e fará dele presidente novamente”, disse que dezenas de ônibus de vários estados estariam a caminho de Curitiba, pediu desculpas aos moradores das proximidades da PF pelas movimentações e cobrou um posicionamento da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber.

Para ela, Lula seria o primeiro preso político desde a Constituição de 1988 - o que, mais do que uma convicção partidária, justificaria, segundo a senadora, a presença dos manifestantes em torno da Polícia Federal.

Aliás, o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin, disse que Lula se considera um preso político. Depois de visitar o petista, ele conversou brevemente com jornalistas e afirmou acreditar em uma reversão da prisão do petista no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Nós vamos reverter essa decisão porque nem a condenação nem a prisão para cumprimento antecipado da pena são compatíveis com a lei”, comentou, sem dar informações sobre a estratégia jurídica que vai adotar para tirar o ex-presidente da prisão. Apesar do silêncio do advogado, Gleisi falou que existe a expectativa de recursos em cortes internacionais, como a Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Zanin também contou que Lula passou o dia bem. De sua cela especial, assistiu à vitória do seu time, o Corinthians, que se consagrou como campeão do Paulista em um clássico contra o Palmeiras na tarde de domingo (8). À noite, jantou a mesma refeição que foi servida aos demais presos: carne assada, arroz, feijão, chuchu, macarrão e suco de laranja.

Enquanto isso, do lado de fora, os manifestantes gritavam palavras de ordem: “Lula livre”, “Lula inocente”. O clima estava bem mais tranquilo do que na noite anterior, quando houve um confronto entre a polícia e manifestantes pró-Lula - apesar de alguns militantes terem sido hostis com a imprensa. O bloqueio feito pela Polícia Militar no entorno da PF foi respeitado.

Sobre os atos da polícia no sábado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados recebeu denúncia e formalizou pedidos de investigação a autoridades estaduais e federais.

Com o cair da noite e o encerramento dos atos políticos do domingo, os organizadores orientaram os manifestantes para que deixassem o local, se possível. Muitos ainda ficaram por lá, acampados. Nesta segunda (9), as mobilizações devem ser retomadas pela manhã, por volta das 9h, segundo informou a organização dos atos pró-Lula em Curitiba.

Repercussão internacional

A repercussão da prisão de Lula extrapolou as fronteiras do Brasil. Um ato de apoio ao ex-presidente ocorreu em Paris e foram programados outros em Madrid (Espanha) e Lisboa (Portugal).

A ex-presidente Dilma Rousseff, convidada a falar em universidades nos Estados Unidos e na Europa do processo de impeachment que sofreu em 2016, avisou em nota que aproveitará a oportunidade para “denunciar a perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

Na Espanha, Dilma vai fazer conferências na Casa de América em Madri, na terça-feira, 10, e no Colégio de Advogados, em Barcelona, na quinta-feira, 12. Lá, ela deve receber uma investidura de honra e Medalha do Centenário da Real Academia Europeia de Doutores.

Nos Estados Unidos, a ex-presidente vai discursar em universidades da Califórnia. Dilma vai passar por Berkeley, no dia 16, por Stanford, no dia 17, e pela Universidade Estadual de San Diego, no dia 18.

A prisão de Lula será tema de debate também na América do Sul. A deputada estadual do Rio Grande do Sul e pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, Manuela d’Ávila, disse que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será denunciada como perseguição política em países da América Latina. “Estamos organizando uma agenda no Uruguai e na Argentina para denunciar o que está acontecendo”, afirmou, em entrevista à rádio Brasil Atual.

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