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Procuradores  da força-tarefa da Lava Jato afirmam que respaldo da sociedade é fundamental para a continuidade das investigações. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Procuradores da força-tarefa da Lava Jato afirmam que respaldo da sociedade é fundamental para a continuidade das investigações.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Só na semana passada, as forças-tarefas da Lava Jato no Ministério Público federal (MPF) pediram duas vezes o apoio da população no combate à corrupção. Na segunda-feira (27) os procuradores divulgaram a Carta do Rio de Janeiro e na quarta-feira (29) o coordenador da força-tarefa no Paraná, Deltan Dallganol, leu um manifesto com conteúdo semelhante. Não é de hoje que a Lava Jato conta com o apoio da sociedade para continuar em pé. As manifestações de 2014 podem servir de exemplo de como a população confia no trabalho desenvolvido pelos procuradores.

Para analistas, as manifestações mais recentes podem ter relação com projetos de lei sensíveis em discussão no Congresso. E também com uma tentativa de evitar a perda de apoio depois das “trapalhadas” da força-tarefa de Brasília, principalmente nas últimas semanas do mandato do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), alerta para potenciais ataques às investigações que podem vir da Câmara dos Deputados. Ele lembra que a Casa deve avaliar em breve projetos de lei aprovados no Senado sobre foro privilegiado e abuso de autoridade. “Se aprovar essas duas coisas na Câmara vai prejudicar muito a Lava Jato”, avalia Fleischer.

Segundo ele, os deputados podem fazer alterações no projeto de extinção do foro privilegiado aprovado no Senado, beneficiando de alguma forma os parlamentares. “O que eles vão votar não é a limitação, é o contrário”, aposta.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo da semana passada trouxe a informação de que líderes partidários da Câmara já se articulam para votar o projeto de lei sobre foro privilegiado junto com o de abuso de autoridade. Segundo a reportagem, os parlamentares também negociam para incluir no projeto do foro privilegiado restrições na aplicação de medidas cautelares, como afastamento de mandato.

Em seu perfil no Facebook, o procurador da Lava Jato Carlos Fernando Lima já compartilhou postagens sobre o tema, alertando os seguidores. Apesar de acreditar mais na chance de “emendas da madrugada” aprovadas no final do ano que vem, depois das eleições, o procurador parece estar alerta para essa possibilidade já no final de 2017.

Com o final de ano se aproximando, a população tende a ficar mais “distraída” sobre o que acontece em Brasília. No ano passado a Lava Jato já esperava por surpresas durante este período. Em entrevista à Gazeta do Povo no final de 2016, o procurador Paulo Galvão afirmou que era preciso manter a vigília, inclusive no recesso do Congresso.

Blindagem contra trapalhadas

As seguidas manifestações da Lava Jato pedindo o apoio da população podem ser inseridas nesse contexto. Mas para o cientista político Mário Sergio Lepre, da PUC-PR, há também outro motivo dos procuradores estarem fazendo o apelo à população. “Na verdade nesse ano de 2017 os acontecimentos em Brasília não foram auspiciosos para o Ministério Público”, diz.

Para Lepre, as forças-tarefas podem estar tentando garantir o apoio da sociedade apesar das trapalhadas do ex-procurador-geral. Janot deixou o cargo em meio a uma série de críticas em relação, principalmente, ao processo de negociação do acordo de colaboração premiada dos executivos da JBS.

“O modus operandi no que diz respeito a essa caçada aos políticos, em Brasília perdeu a mão”, opina Lepre. “Parece-me que houve um refluxo, não em relação ao apoio da sociedade em relação ao Ministério Público e às investigações, mas um pé atrás”, completa. Nesse contexto, as manifestações do MPF pedindo respaldo da sociedade podem ser interpretadas como uma tentativa de se descolar dos escombros do mandato de Janot.

Histórico

O apelo à sociedade não é uma novidade na Lava Jato. Diversas vezes a força-tarefa de Curitiba pediu o apoio da população diante das ameaças às investigações. Na tentativa de salvar o pacote de Dez Medidas Contra a Corrupção, no ano passado, os procuradores chegaram ameaçar dissolver a força-tarefa, depois de uma intensa campanha pela coleta de assinaturas. Os investigadores também recorreram às redes sociais para tentar barrar o projeto de lei de abuso de autoridade, em abril deste ano.

Mais manifestações

Os manifestos divulgados pela Lava Jato na semana passada não são os únicos. Nesta segunda-feira (4), o MPF do Rio de Janeiro participou do fórum “Educação, sim! Corrupção, não!”, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na ocasião, uma carta com o mesmo nome foi lida, assinada e compartilhada na internet.

Em Curitiba, a Rede de Controle da Gestão Pública – Paraná, da qual fazem parte 18 instituições, entre elas o MPF e a Polícia Federal – organiza um evento em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Corrupção (9/12) nesta terça-feira (5). Integrantes da Lava Jato podem marcar presença no evento. Durante a última reunião do grupo, na semana passada, Deltan Dallagnol foi o porta voz do grupo na leitura do manifesto contra a corrupção.

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