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O ex-presidente Michel Temer se preparava para sair de sua casa, em São Paulo, na manhã desta quinta-feira (21), quando notou uma aglomeração agora incomum de jornalistas em sua porta. Ele havia marcado um encontro em seu escritório com o publicitário Elsinho Mouco, amigo e aliado há anos. Repetiria nesta manhã a rotina de despachos internos, que havia adotado desde que deixou o Palácio do Planalto, em 1º de janeiro.

Estranhando a movimentação, telefonou não para o advogado, mas para um assessor de sua confiança. O auxiliar já estava ciente dos rumores de que o emebista era alvo de um mandado de prisão. Não tinha detalhes. Havia sido acionado pouco antes por diferentes órgãos de imprensa.

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Àquela altura, o assessor tentava falar com o advogado do ex-presidente, Eduardo Carnelós, quando foi surpreendido com uma ligação do próprio Temer.

“Estou saindo de casa, mas tem um monte de jornalistas aqui na porta. O que está acontecendo?”, indagou. Ao ser informado de que havia expectativa de sua prisão, tratou o assunto como “uma brutalidade”. A ligação foi interrompida e Temer não voltou mais ao telefone.

Desde que deixou o poder, o ex-presidente se cercou de cautelas para evitar ações mais incisivas da Justiça. Diante das notícias de que, sem foro, poderia reivindicar uma embaixada ou deixar o Brasil, ele evitou viagens para fora e manteve-se recluso, em casa, com a família.

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Recentemente, voltou a ser procurado por políticos, que descreviam com certa surpresa a tranquilidade que ele externava. Despiu-se rapidamente do poder, diziam. Estava leve. A ex-ministros e aliados o ex-presidente afirmava não acreditar em um mandado de prisão. Estava no Brasil, tinha endereço certo, 78 anos, e sempre formalizou disposição em colaborar com a Justiça.

Espetacularização

Os mais próximos tinham suas dúvidas. Avaliavam que Temer era uma espécie de “troféu” a ser conquistado pela narrativa de combate à corrupção.

Seu braço direito, Moreira Franco, ex-governador do Rio e ex-ministro, evitava o assunto. Ele, que sempre foi um crítico do que chamava de ações espetaculosas da Lava Jato, foi preso ao desembarcar no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

A interceptação da polícia ao carro de Moreira Franco foi filmada – assim como parte do trajeto feito por Temer sob escolta dos policiais – e agora percorre as redes sociais, jornais e TV. A forma como Temer e Moreira foram presos foi amplamente criticada por integrantes do Congresso – até da oposição. A exposição foi considerada indevida e excessiva.

Recentemente, Moreira Franco, diante do triunfo de Jair Bolsonaro e da ascensão de novos personagens à política, decretou o fim da Nova República. “A Nova República acabou. Temos agora uma ordem de outra natureza. E o MDB, pilar da última era, sofreu as consequências”, disse.

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Poucos políticos representam, como Temer, a chamada velha política, deputado de muitos mandatos, ex-presidente da Câmara, mandatário longevo do MDB, teve um mandato conturbado na Presidência.

Além das críticas por parte da esquerda por ter dado sinal verde para o impeachment de Dilma Rousseff (PT), foi grampeado em conversa controversa com Joesley Batista. Pelo conteúdo, tornou-se alvo de denúncia de corrupção pela Procuradoria-Geral da República, foi salvo pelo Parlamento, não uma, mas duas vezes.

As suspeitas sobre Temer e seu grupo político são de diferentes ordens, e os processos, muitos. Especialistas dizem que seu mandado de prisão preventiva pode ser facilmente questionado, mas que dificilmente ele escaparia de uma condenação neste caso no mérito.

No início deste ano, Temer disse a um ex-auxiliar que estava tranquilo. Não esperava a prisão, mas uma longa batalha judicial. Como se vê, a ordem dos fatores alterou o resultado.

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