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| Foto: Marcos Correa/PR

A aposentada Cleuzenir Barbosa entregou ao Ministério Público mensagem em que um assessor parlamentar do hoje ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), cobra a devolução de verba pública de campanha para destiná-la a uma empresa ligada a outro assessor do político.

As mensagens tratam de uma conversa, pelo aplicativo do WhatsApp e durante a campanha eleitoral, entre Cleuzenir, então candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas, e Haissander de Paula, que trabalhava na época como assessor do gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados.

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“Preciso que vc transfira 30 mil reais pra conta da gráfica. O resto eu vou pagar do meu bolso”, diz uma das mensagens do assessor. “Nosso Deus sabe de todas as coisas, preciso que vc transfira a metade do valor pra conta da gráfica. Estou indo pagar o restante do meu bolso”, reforça. Haissander foi assessor do gabinete parlamentar de Álvaro Antônio de dezembro de 2017 ao início deste ano.

Segundo o depoimento de Cleuzenir ao Ministério Público de Minas Gerais, o assessor a pressionou a transferir R$ 30 mil, dos R$ 60 mil que ela recebeu de verba pública do partido, para uma gráfica de um irmão de Roberto Soares, que foi assessor de Álvaro Antônio e coordenou sua campanha na região do Vale do Aço de Minas Gerais.

A mensagem confronta a versão dada até agora pelo ministro e por seus assessores à época, de que “a distribuição do fundo partidário do PSL de Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a lei”.

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Álvaro Antônio diz que, assim que tomou conhecimento das acusações da candidata, mandou apurar e que “a denunciante foi chamada a prestar esclarecimentos em diversas ocasiões e nunca apresentou provas ou indícios que atestassem a veracidade das acusações”.

Pressão por demissão

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se reuniu a portas fechadas com o ministro do Turismo na tarde desta quarta-feira (20). O encontro aconteceu às 14h15 e o ministro entrou e saiu do Palácio do Planalto pela garagem, por onde costumam ingressar integrantes do primeiro escalão. Álvaro Antônio tinha a previsão de uma audiência com o vice-presidente, general Hamilton Mourão, mas não compareceu à agenda. A assessoria não soube informar o motivo da ausência.

O presidente tem sido pressionado a demiti-lo, ainda na esteira da crise dos laranjas que já derrubou Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL, do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A Polícia Federal também investiga o caso.

Ao citar a “metade do valor” na troca de mensagens com Cleuzenir, Haissander se referia aos R$ 30 mil dos R$ 60 mil que o PSL passou para ela do fundo público para mulheres. De acordo com entrevista dela à Folha, e depoimentos a órgãos de investigação, os assessores do ministro do Turismo cobraram que ela devolvesse R$ 50 mil no total e ficasse com o restante.

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As conversas entre ela e o assessor ocorreram no dia 18 de setembro, mesmo dia em que o dinheiro do PSL foi transferido. As mensagens foram entregues por ela ao Ministério Público no dia 18 de dezembro. O caso está sendo investigado pela Promotoria.

Após Álvaro Antônio assumir o ministério do Turismo, Haissander foi em janeiro de 2019 secretário parlamentar do suplente dele na Câmara à época, Gustavo Mitre, do PHS.

Cleuzenir, que diz não ter aceitado integrar o esquema, não foi eleita (teve 2.097 votos) e hoje vive em Portugal. Disse ter deixado o Brasil exclusivamente por medo de retaliações por parte dos aliados do hoje ministro.

Candidaturas de fachada

A Folha de São Paulo tem publicado reportagens mostrando uso de dinheiro público do PSL em candidaturas de laranjas, com mulheres que tiveram votação inexpressiva e quase nenhum sinal efetivo de que tenham realizado campanha. Cleuzenir afirma não ter aceitado participar do esquema, criado, segundo ela, para lavar dinheiro e devolver ao grupo do ministro de Bolsonaro.

Ela diz ter relatado o caso a pelo menos quatro assessores de Álvaro Antônio, na época deputado federal e candidato à reeleição, e ter tentado falar diretamente com ele, mas que nada foi feito.

Álvaro Antônio era o comandante da sigla em Minas, responsável pela montagem das chapas. A Folha mostrou que parte do dinheiro público foi direcionado a quatro candidatas do PSL mineiro apenas para preencher a cota feminina de 30% das candidaturas e de verba eleitoral. O dinheiro enviado a elas foi parar na conta de empresas de assessores, parentes ou sócios de ex-assessores do atual ministro do Turismo.

O ministro e seus assessores negam irregularidades. Álvaro Antônio diz que a distribuição do fundo partidário do PSL seguiu a lei. No caso de Minas, a verba foi liberada formalmente pelo então presidente nacional da sigla, Gustavo Bebianno.

A reportagem deixou recados a Haissander, mas não recebeu resposta. Em mensagem anterior, ele não respondeu às perguntas específicas que foram feitas, se limitando a dizer que os contatos que fez com Cleuzenir foram no sentido de a orientar a não direcionar dinheiro da campanha para parentes.

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