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| Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

Novo cacique do MDB a cair na Lava Jato, o ex-ministro Wellington Moreira Franco (MDB-RJ) não é calouro em escândalos políticos. Até esta quarta (21), quando foi preso pela força-tarefa da operação, Moreira Franco era o único governador eleito e ainda vivo do Rio sem passagem pela prisão.

Antes dele, todos tombaram a certa altura: Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral (ainda detidos) e o casal Anthony e Rosinha Garotinho (por ações sem relação com a Lava Jato, mas com a Justiça eleitoral).

A exceção, a petista Benedita da Silva, liderou o Palácio Guanabara por menos de um ano após Garotinho, de quem era vice, sair para concorrer à Presidência, em 2002. 

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Piauiense radicado no Rio, Moreira Franco governou o estado de 1987 a 1991. De seu antecessor, Leonel Brizola (1922-2004), ganhou o apelido que o acompanha até hoje: Gato Angorá, seja pelas madeixas esbranquiçadas que ostentava já nos anos 1980, seja pela manha de passar de colo em colo. 

Nas últimas décadas, aliou-se aos governos de FHC, Lula e Dilma Rousseff e o emedebista Temer. Versado nas intrigas palacianas, assessorou tanto tucanos quanto petistas. Para Dilma serviu duas vezes como ministro. Depois ajudou a articular seu impeachment.

Gato Angorá virou codinome a ele associado nas planilhas de propina da Odebrecht. Dilma chegou a zombar da alcunha: “O gato angorá tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil”. Ele sempre negou participação em esquemas de corrupção.

Suas relações entranhadas com a política brasileira começaram no altar, quando se casou com uma neta de Getúlio Vargas, a socióloga Celina, de quem se separou em 1989, quando morava no Palácio Laranjeiras -ficaram famosas as corridas que ele fazia de shortinho pelos jardins da residência oficial do governador fluminense. 

O marido de Alzira Vargas, a mãe da esposa, entrou no anedotário político da época como “O Genro”. Ele virou “o genro do genro”. Hoje é sogro de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e filho do ex-prefeito carioca César Maia.

Na juventude, Moreira Franco ingressou nas fileiras de um movimento que combatia a ditadura, o Ação Popular. Dali foi para o MDB, e do MDB para o PDS, herdeiro do Arena, maior sustentáculo partidário do regime militar.

Pelo PDS concorreu ao Executivo fluminense em 1982. Brizola o derrotou, e Moreira Franco saiu daquele pleito chamuscado por suspeitas de fraude na apuração dos votos, ainda em papel.

Já de volta ao MDB (rebatizado para PMDB) e com Eduardo Cunha ajudando na campanha, Moreira Franco sucedeu Brizola à frente do Rio em 1987.

Em 1991, a um mês de deixar o cargo, recebeu no Palácio Guanabara dois bicheiros célebres: Anísio Abrão David, presidente da escola de samba Beija-Flor, e Carlinhos Maracanã, líder da Portela. Comentou à época: “Era um encontro administrativo, sobre a cessão do terreno para o museu do carnaval. Eram bicheiros. O que posso fazer? A vida social é o que”. 

Seu governo foi marcado por acusações de desvios de verba e concorrências marcadas. Saiu dele com baixa popularidade, mas sua estima nas cúpulas do poder continuou em alta.  

A amizade com Temer germinou em 1995, quando outro cacique emedebista, Orestes Quércia, telefonou para pedir ajuda na eleição do colega para a liderança do partido. Virou uma das principais cabeças por trás do “Ponte para o Futuro”, projeto econômico de pegada liberal que Temer sugeriu para o país.

Em 2015, Moreira Franco defendeu seu partido em entrevista à Folha de S.Paulo. Disse que “o PMDB não conspira, não trai”. Foi preso junto com o amigo Temer.

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