• Carregando...
 | albari rosa/gazeta do povo
| Foto: albari rosa/gazeta do povo

O vídeo veiculado pela emissora de teve árabe Al Jazeera em que a senadora Gleisi Hoffmann (PT) denuncia a “prisão política” do ex-presidente Lula foi o gatilho para pessoas comuns e mesmo políticos tirarem conclusões precipitadas, disseminando uma série de fake news na internet, nesta quarta-feira (18). Muitas delas acusam a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores de incitar grupos terroristas e radicais do mundo árabe, como Hezbollah e Estado Islâmico, a se juntarem à luta do partido para libertar Lula.

E ainda de ter violado vários artigos da Lei de Segurança Nacional ao “entrar em entendimento ou negociação com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil”. Falsas notícias foram compartilhadas milhares de vezes e distorceram a percepção do fato em si.

Gleisi em nenhum momento da gravação pede apoio a grupos muçulmanos, que dirá armados. Muito menos sugere a intervenção de países do mundo árabe, seja de forma hostil ou mesmo diplomática, convocando embaixadores brasileiros a dar explicações, por exemplo.

A senadora faz sim um ataque, mas à TV Globo, a quem acusa de promover uma “campanha de mentiras” para pressionar o Judiciário a não conceder liberdade ao petista. Mas longe de querer provocar uma guerra ou de ameaçar a soberania nacional, conforme a justificativa do deputado Major Olimpio ao pedir a cassação do mandato de Gleisi no Senado por causa do vídeo. Ele fez representações contra ela no Conselho de Ética, no tribunal Superior Eleitoral e na Procuradoria-Geral da República.

Na gravação, a senadora diz que Lula é um grande amigo do mundo árabe e que em seu governo o comércio com a região se multiplicou. E afirma que a “prisão ilegal” do ex-presidente tem por objetivo “não permitir que ele seja candidato”.

O maior pecado da senadora petista no vídeo é insistir na tese de que Lula e o PT são vítimas de uma grande conspiração internacional, que usa as instituições brasileiras. Ela coloca em dúvida a idoneidade da Justiça e da Lava Jato, e continua a bater na tecla do golpe que vitimou a ex-presidente Dilma Rousseff e que agora mira Lula. Gleisi simplesmente ignora que Lula foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro após um processo penal legal, em que teve o amplo direito de defesa assegurado.

“Lula foi condenado por juízes parciais num processo ilegal. Não há nenhuma prova de culpa, apenas acusações falsas. A TV Globo, que domina a mídia no Brasil, fez uma campanha de mentiras contra Lula. A Globo está pressionando o Judiciário brasileiro a não conceder a liberdade a Lula, apesar de ela estar prevista na Constituição. Isso fere os direitos humanos e fere a democracia brasileira”, disse Gleisi.

“A prisão de Lula é a continuidade do golpe que se iniciou em 2016, com a retirada da presidenta Dilma do governo. Ela não cometeu nenhum crime, assim como Lula também não cometeu. É um preso político. Ele é inocente”, continuou. Ao fim do vídeo com 2 minutos e 47 segundos de duração, ela convida “a todos e a todas a se juntarem conosco nessa luta. Lula livre!”

Bate-boca no Senado

Gleisi classificou como xenófobas e preconceituosas as críticas que sofreu por causa do vídeo enviado à Al Jazeera e condenou a associação pejorativa do povo árabe a grupos terroristas. “É mais um sintoma do fascismo e do ódio crescente no nosso país”, escreveu no Twitter.

No plenário do Senado, a senadora Ana Amélia (PP-RS) acusou Gleisi de infringir a Lei de Segurança Nacional por supostamente ter provocado “atos de hostilidade” contra o Brasil ao pedir apoio para a campanha de libertação de Lula na emissora árabe.

Ana Amélia fez duras críticas ao vídeo da petista, que classificou como grave, e disse que “espera que essa convocação não seja um pedido para o exército islâmico atuar no Brasil”. “Essa hostilidade pode estar entendida aí, exatamente aquilo que a gente suspeita que possa ter sido o objetivo dessa manifestação publicada nesta semana pela TV Al Jazeera, com sede no Catar e com grande repercussão e influência no mundo árabe”, insinuou a senadora gaúcha.

Gleisi subiu à tribuna da Casa (assista acima) para dizer que deu entrevistas idênticas para redes de televisão de países como França, Inglaterra e Espanha, mas que apenas a emissora árabe gerou reações negativas por parte de Ana Amélia. “O incômodo dessa senadora do Rio Grande do Sul não foi com o conteúdo da minha fala, e sim a emissora com quem falei.”

A presidente do PT disse ainda que a indignação de Ana Amélia representa um “desvio de caráter”, fruto de “ignorância, xenofobia e má-fé” com o povo árabe. “Essa mesma senadora incentivou violência contra caravana de Lula, quando disse que era para erguer o relho”, reagiu.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]