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Do lado de fora do TSE, ativistas mascarados fizeram manifestação bem-humorada: “PSDB, não fique na cama com Temer”, dizia um dos cartazes. | Andressa Anholete/AFP
Do lado de fora do TSE, ativistas mascarados fizeram manifestação bem-humorada: “PSDB, não fique na cama com Temer”, dizia um dos cartazes.| Foto: Andressa Anholete/AFP

Mais falantes e mais à vontade no tribunal, os ministros do TSE misturaram à retórica do “jurisdiquês” expressões mais informais, fizeram piadinhas, provocações, estocadas um no outro e conseguiram um jeito de atrair a atenção neste segundo dia de julgamento da chapa Dilma-Temer. Foram feitas referências a inferninhos, a índios isolados na Amazônia, ocultismo e até citação de trecho de letra de Lupicínio Rodrigues.

TEMPO REAL: Veja como foi o segundo dia de julgamento da chapa Dilma-Temer

O presidente do tribunal, Gilmar Mendes, protagonizou vários desses momentos, e variou das críticas pesadas a piadas e troças de um momento para o outro. Se existiu ápice nesse campo, foi quando o relator Herman Benjamin afirmou que as defesas no processo pediram para ouvir motoqueiros, doleiros e seguranças.

“Esqueceram de mencionar os donos de inferninhos. Os donos de cabaré”, disse Benjamin. Gilmar Mendes aproveitou a deixa.

“Vossa Excelência não tem que fazer a inspeção lá?”, perguntou o presidente.

“Não fiz nem foi pedido. Não expandi meus poderes, mas se Vossa Excelência quiser propor... Imagino que não”, respondeu Benjamin.

Em outro momento, ao rebater os argumentos dos advogados de que ele extrapolou ao incluir na ação depoimento de Marcelo Odebrecht, Benjamin afirmou que não poderia deixar de ouvi-lo porque a delação do empreiteiro era de conhecimento de todos, com uma única exceção.

“Só os índios da Amazônia não contactados não souberam que a Odebrecht fez delação premiada”, disse o relator.

Nem só de afagos e piadinhas se deram os diálogos entre Mendes e Benjamin. O presidente do TSE discordou de Benjamin sobre a inclusão das delações como prova no processo. “Muito provavelmente teremos de esperar as informações que vêm de Curitiba, do caro ex-ministro Palocci. E reabrir por causa da JBS” declarou Mendes, mas Benjamin não gostou, e o presidente retrucou. “Foi uma provocação à Vossa Excelência. Seu argumento é falacioso”, completou.

O ministro Luiz Fux se irritou com Admar Gonzaga a certa altura, quando fazia uma explanação sobre uma decisão do STF. Gonzaga fez uma referência a Marco Aurélio Mello, também do STF, sobre o assunto. Foi o suficiente para ferir suscetibilidades.

“Vossa Excelência cita o ministro Marco Aurélio como se eu não tivesse acompanhado”, disse Fux, irritado. “Não! De jeito nenhum” - respondeu Gonzaga.

“Encantando”

Benjamin e Mendes voltaram a centralizar os embates. Diante da longa explanação do relator sobre as preliminares, o presidente o interrompeu e afirmou que ele parecia encantado. Benjamin rebateu:

“Eu peço a Vossa Excelência (Mendes), você pode estar encantado, mas eu não. Quem está falando sou eu. No que diz respeito ao desgaste físico quanto menos eu falar, melhor. Mas eu não posso deixar de apresentar minha análise.”

Mais tarde, o tema voltou ao grupo. Ao ser novamente interrompido por Mendes, que fez um longo discurso contra o caixa 2 e que chamou de corruptocracia, o ministro Benjamin disparou: “Vossa Excelência deve desculpas a si mesmo. Eu lia e o senhor me interrompeu em completo encantamento.”

Ao justificar as razões de ter ouvido o marqueteiro João Santana, o relator descartou uma delas. “Não foi pelos seus vários conhecimentos de ocultismo”.

No final, Mendes foi fazer outra provocação ao relator, que não o deixou sem resposta. “Vossa Excelência está brilhando na TV”, afirmou Mendes.

“Vossa Excelência sabe que preferia não estar nessa relatoria. Numa ação de condenação não se deve ter glamour pessoal. Preferia não ter sido”, disse Benjamin. Mendes tentou remendar. “O Brasil está conhecendo o brilho de Vossa Excelência. Brincadeiras à parte...”

“Seria diferente se soubéssemos...”

O relator Herman Benjamin citou até trecho de uma canção do cantor e compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues para argumentar que no início da ação contra Dilma e Temer não se tinha conhecimento de tantas irregularidades supostamente cometidas durante a campanha.

“Os ilícitos superam e muito. São bem mais graves. É como diz aquela música do Lupicínio Rodrigues: ‘seria diferente se soubéssemos, aquela época, o que sabemos agora’. Se a ministra Maria Thereza [relatora antes de Benjamin e que pediu arquivamento da ação, mas foi derrotada] teria uma postura diferente agora”.

Assista ao julgamento no TSE desta quarta-feira (7) na íntegra

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