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 | Marcelo Andrade
Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade Gazeta do Povo

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) será julgada pelo Supremo Tribunal Federal, na Segunda Turma, nesta terça-feira (19), no primeiro processo da Lava Jato contra um petista a ser julgado pela corte. A acusação da Procuradoria-Geral da República é que de ela recebeu dinheiro ilícito para a campanha de 2010 ao governo do Paraná.

Gazeta do Povo solicitou diversas vezes entrevista com a petista, mas ela se recursou a falar com a reportagem. Divulgou apenas uma nota à imprensa em que nega as acusações, chama a denúncia de "injusta, sem qualquer prova ou indício de crime".

No texto, Gleisi critica as delações premiadas que incentivaram o início das investigações contra ela. "Trata-se de acusação forjada nos subterrâneos da Lava Jato, onde criminosos condenados negociam benefícios penais e financeiros em troca de delações mentirosas, que servem à perseguição política contra o PT e os nossos dirigentes".

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Veja o que Gleisi disse, em diversas ocasiões, sobre seu processo: 

Relação com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef

Logo após ser denunciada, em setembro de 2016, em entrevista à Gazeta , a senadora negou contato com os dois com o doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ambos delatores da Lava Jato.

"Não tínhamos nenhum relacionamento. Nem com Paulo Roberto Costa, nem com Alberto Youssef. Eu nunca tive contato com nenhum dos dois. E o Paulo Bernardo [ex-ministro e marido de Gleisi] com certeza não teve nenhum contato com Alberto Youssef. E, com Paulo Roberto Costa, ele [Paulo Bernardo] deve ter se encontrado em eventos do governo federal só."

As delações que embasam a denúncia 

Na mesma entrevista, Gleisi afirmou que o ex-diretor da Petrobras e o doleiro mentiram:

"O Paulo Roberto Costa falou sobre muita gente, vários senadores, vários deputados. Ele foi falando. Até para justificar o que ele fazia de errado na Petrobras. Tentar dizer que ele fazia aquilo para servir aos outros e ele poder ficar no cargo. Então eu acho que ele estava querendo se defender. Se ele tivesse tanta certeza do que tinha acontecido, ele não entraria em contradição com o Alberto Youssef.

E o Youssef apresentou umas seis ou sete versões diferentes sobre a entrega do dinheiro para a minha campanha. E, no final, ele pega o sócio dele, que é o Pieruccini, para fazer uma delação com o mesmo advogado que fez a delação dele, o Antonio Figueiredo Basto. Então ele, o próprio advogado, foi ajustando as delações, para que não tivesse furo. Porque se as delações têm furo, o delator tem prejuízo no seu acordo. Isso é muito grave. Estamos preparando uma representação sobre isso. Alguém tem que fazer alguma coisa. Não é possível que um advogado só faça a delação de vários delatores que estão no mesmo processo."

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A alegação final da defesa de Gleisi entregue ao STF também coloca em xeque as delações. Chama-as de “contraditórias” e afirma que houve “mudança de versões”. Por fim, diz que houve “perdão para delatores mentirosos”. 

“Mesmo diante de todas estas inconsistências e mentiras, a PGR pediu abertura de ação penal contra Gleisi, Paulo Bernardo e Kluger, que negaram peremptoriamente em depoimentos todas as acusações. Mas os supostos corruptores e seus agentes (Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Pieruccini) obtiveram perdão judicial e não foram denunciados pela PGR. Que tipo de denúncia de corrupção é esta, em que só existem supostos corruptos e nenhum corruptor?”, questiona a defesa de Gleisi.

Senadora diz ser perseguida e que há “politização” no processo 

Após prestar depoimento ao Supremo, em agosto de 2017, a senadora disse ser vítima de "perseguição" e que há "alto grau de politização" no processo.

“Pedi para que o Ministério Público mostre quais são as provas de que eu cometi corrupção passiva ou lavagem de dinheiro. Primeiro porque eu não tive contato com Paulo Roberto Costa [ex-diretor de Abastecimento da Petrobras], nunca tive ascendência na Petrobras, nunca facilitei ou dei condições ou me relacionei com fornecedores da Petrobras para beneficiá-los. Isso teria que estar caracterizado no processo para estarem me acusando como estão.”

Nas alegações finais do processo, a defesa da senadora diz que “é evidente a má-fé” nos fatos relatados para se formalizar a acusação: 

“Na denúncia ao STF, a PGR acusa Gleisi Hoffmann pelo ‘recebimento de vantagens indevidas em razão do mandato parlamentar que cumpria’ e em ‘comprovada atuação como parlamentar e líder do Partido dos Trabalhadores’. É evidente a má-fé: em 2010, quando teriam suposta e falsamente ocorrido os fatos investigados, Gleisi Hoffmann não ocupava nenhum cargo público, não tinha mandato parlamentar nem era líder do PT. Não tinha, durante a campanha, e não teve, depois de eleita, qualquer ingerência na indicação ou manutenção de diretores da Petrobrás.”

Gleisi diz que acusação é mentirosa

Ao prestar depoimento no STF em agosto do ano passado, Gleisi além de negar as acusações, atacou a acusação.

“Então é óbvio que a gente fica indignado que a gente tem que ficar respondendo uma coisa que é mentirosa. Me desculpa, é mentirosa. Eles não me deram esse dinheiro, eu não peguei esse dinheiro, entendeu? E eu quero saber qual é o meu crime de corrupção passiva. O que eu fiz pra essa gente que justifique eu estar sendo acusada de corrupção passiva. O que eu fiz pro Paulo Roberto Costa? O que eu fiz pros fornecedores da Petrobrás? Onde eu dei vantagem? Mesmo depois, como ministra chefe da Casa Civil. Onde eu dei vantagem? Nenhuma, nem como senadora. Peguem todas as minhas votações que eu tive no Senado, meus projetos de lei, meus posicionamentos e vocês vão ver que não tem uma votação ali que possa ter beneficiado. Muito pelo contrário. Então eu só tenho que ficar extremamente indignada (…).”

A defesa da senadora acrescenta que “não há nos autos nenhuma prova ou sequer indício da alegada e inexistente movimentação financeira, seja em contas pessoais, de pessoas jurídicas ou de campanha”.

E encerra afirmando que a acusação da PGR contra a senadora é uma “denúncia sem crime”. “Entre tantos defeitos, a denúncia do Ministério Público não foi capaz de individualizar qualquer conduta ilegal da senadora Gleisi Hoffmann. Nem mesmo a alegação inicial, da transferência (inexistente) de R$ 1 milhão se refere a ela, mas apenas vagamente à “campanha”. Ninguém pode ser condenado, nem sequer denunciado, sem que se mostre o suposto crime cometido. E Gleisi Hoffmann não cometeu nenhum crime.”

A reeleição ao Senado  ficou difícil

À Gazeta do Povo, em 2016, Gleisi admitiu as dificuldades políticas. 

"Hoje qualquer pessoa do PT está com dificuldade de se reeleger. Tem uma campanha sistemática de criminalização do partido. Tanto que estão querendo fazer valer a tese de que é uma organização criminosa para cassar o registro do partido. Como se o PT fosse o único partido que tivesse utilizado doações de campanha dessas empresas que também estão sendo criminalizadas. Então obviamente que o impacto político-eleitoral para as candidaturas do PT é grande, não tenho dúvida. Mas daí dizer que o PT acabou, que não elege mais ninguém, que é impossível recuperar, é uma distância muito longa." 

Lava Jato  não atua na legalidade, diz senadora

Ao conceder entrevista à Gazeta do Povo em setembro de 2016, Gleisi Hoffmann se disse que a operação não tem atuado na legalidade.

"Eu esperava e espero que eles atuem na legalidade. Não pode ter um regime de exceção por uma operação como essa. Senão ela deixa de ter justificativa. E eles não estão atuando na legalidade. Infelizmente eles estão comprometendo o que eles querem fazer. Eles não são justiceiros. Para eles poderem atingir o objetivo deles, eles têm que respeitar o Estado Democrático de Direito. 

Eles começaram a operação, foram ganhando força e foram mudando de comportamento. As operações de condução coercitiva, por exemplo, se baseiam em quê? Por que fizeram aquilo com o ex-presidente Lula? O que eles ganharam fazendo aquilo, a não ser o desgaste político e público da figura do ex-presidente Lula? Tudo que o Lula falou ele poderia ter falado se tivessem chamado para depor. 

O que foi aquela pirotecnia, na denúncia contra o Lula, do Deltan Dallagnol [coordenador da força-tarefa da Lava Jato no âmbito do Ministério Público Federal do Paraná], que se considera o mais iluminado para fazer o justiçamento e a purificação? Vamos voltar ao tempo da Inquisição, quando a Igreja também queria purificar a sociedade e queimar as bruxas? Entrar num processo como esse achando que você tem a razão e a verdade absoluta é muito perigoso."

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