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Luciano Huck no cenário de seu programa de tevê, o Caldeirão: apresentador passou a ser alvo de críticas por fazer “política social de auditório”. | Rafael França /TV Globo
Luciano Huck no cenário de seu programa de tevê, o Caldeirão: apresentador passou a ser alvo de críticas por fazer “política social de auditório”.| Foto: Rafael França /TV Globo

O apresentador de tevê e empresário Luciano Huck foi pré-candidato a presidente por 45 dias, desde que concedeu uma entrevista, em 30 de março, deixando no ar a possibilidade de concorrer ao Planalto. Levou um mês e meio para negar essa pretensão, num artigo publicado no domingo (15), após ter virado alvo de críticas. Quem entende do modus operandi da política brasileira, porém, não descarta a hipótese de que Huck apenas tenha decidido “submergir” para voltar ao cenário eleitoral em 2018 sem o desgaste de ficar mais de um ano exposto aos ataques de outros pretendentes à Presidência.

A demora em negar sua intenção de ser candidato é justamente o principal fator que alimenta a suspeita de que ele de fato cogita (ou ao menos cogitou) seriamente entrar na corrida presidencial. Durante todo o mês de abril e no início de maio, a pré-candidatura de Huck passou a ser considerada uma possibilidade concreta no meio político e na imprensa sem que ele a desmentisse.

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No Datafolha

O ponto alto de sua “pré-candidatura” ocorreu em 30 de abril, quando foi divulgada uma pesquisa de intenção de votos para presidente feita pelo Instituto Datafolha na qual o nome do apresentador de tevê foi incluído.

Huck apareceu com 3% das intenções de voto. Parece pouco. Mas é um porcentual próximo ao de figurões da política, como o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB, 3%); o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB, 5%) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT, 5%). Não há notícia de que Huck tenha questionado a inclusão de seu nome no Datafolha.

Confira os resultados da pesquisa Datafolha

Ele também foi considerado um possível candidato pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem Huck é amigo. No último dia 8, FHC considerou que Huck e Doria são nomes viáveis para 2018 porque vêm de fora do atual sistema político e, portanto, representam o “novo”. Ao menos publicamente, Huck não desmentiu o ex-presidente.

O apresentador de tevê também manteve a dúvida sobre suas intenções em entrevista à revista BT Experience, que chegou às bancas em 9 de maio. Disse não ter interesse em seguir carreira política. Mas, segundo relato da revista, não descartou a possibilidade de concorrer à Presidência no futuro: “Não faço plano para além do sábado que vem”, disse.

Política social de auditório

Mesmo sem admitir a candidatura, porém, ele passou a ser alvo de críticas de adversários políticos. As mais contundentes vieram da ex-presidente Dilma Rousseff, que o acusou, em duas ocasiões, de promover uma “política social de auditório”, numa referência aos quadros de seu programa, o Caldeirão do Huck.

“As pessoas confundem auditório de um show de mídia com a solução dos problemas sociais. (…) Eu fui lá, chamei uma senhora, trouxe no meu programa, resolvi o problema dela. Veja como eu sou competente. Vá resolver o problema de 56 milhões de pessoas pra ver se é assim, com essa facilidade”, disse Dilma.

Novo Silvio Santos

“Ainda não dá para bater o martelo que o Luciano Huck tenha desistido [de disputar a Presidência]”, diz o cientista político Doacir Quadros, professor do Grupo Uninter. Segundo ele, este ano de 2017 tem sido usado por possíveis candidatos para “testar” seus nomes perante a opinião pública. “É uma primeira aproximação, para saber qual é a sua rejeição ou adesão.” Segundo Quadros, se o pretendente demonstra que pode ter adesão popular, tem grandes possibilidades de ser aceito por algum partido como candidato.

O cientista político lembra ainda que a candidatura de comunicadores, como Huck, não chega a ser uma novidade no Brasil, sobretudo para cargos legislativos. E, mesmo na disputa da Presidência, já houve um caso: o do apresentador de tevê e empresário Silvio Santos, em 1989 (ele era um concorrente forte, mas sua candidatura foi barrada na Justiça Eleitoral).

Muitos comunicadores são eleitos. “Eles já partem [numa campanha eleitoral] com a confiança conquistada de seu público.” Quadros afirma que o problema desse tipo de candidato, caso eleito, é transformar o sucesso eleitoral em sucesso político. Ou seja, conseguir administrar as disputas políticas.Ele avalia que, em função disso, existe um grande risco de que os comunicadores decepcionem o eleitorado.

No caso específico de Luciano Huck, esse risco pode ser medido a partir dos comentários de pessoas em seu perfil no Facebook. Com base nos quadros de seu programa, em que ele realiza “sonhos” de seus telespectadores, há muitos internautas que pedem para Huck solucionar seus problemas particulares. É algo que um presidente, por mais poder que tenha, não pode fazer para toda a população.

Candidatura de Roberto Justus durou dois meses

Luciano Huck não é o primeiro nome de fora da política que, após um período em que foi considerado pré-candidato, veio a público para dizer que não pretende concorrer. O também apresentador de tevê e empresário Roberto Justus, famoso pelo programa O Aprendiz, admitiu em novembro do ano passado que pensava em concorrer à Presidência em 2018. Pouco mais de dois meses depois, no fim de janeiro, anunciou ter desistido da candidatura. “A dinâmica da política atual é complexa e exige pessoas com um tipo de temperamento muito diferente do meu. (...) Não tenho apetite por engolir sapos ou disposição para abrir mão do que acho certo. Não gosto de ‘jeitinho’ e conchavos”, justificou à época.

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