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Livro do jornalista Thomas Traumann, intitulado “O pior emprego do mundo”, fala da carreira e dos desafios de ser ministro da Fazenda | Ana Volpe/SRP
Livro do jornalista Thomas Traumann, intitulado “O pior emprego do mundo”, fala da carreira e dos desafios de ser ministro da Fazenda| Foto: Ana Volpe/SRP

Um cargo com a responsabilidade de definir os rumos da vida financeira do país, com cobranças de todos os lados e sem garantias de permanência. Esse é o emprego de ministro da Fazenda, cujo papel é destrinchado no novo livro do jornalista paranaense Thomas Traumann, não à toa intitulado “O pior emprego do mundo”, feito a partir de entrevistas com 14 ex-ocupantes da vaga e uma extensa pesquisa.

Traumann conta que resolveu classificar o cargo de ministro da Fazenda como “o pior emprego do mundo” após observar três características básicas da função. “Uma é o poder. O ministro pode alterar a vida de todos os brasileiros muito rapidamente. Ao mesmo tempo há muita pressão do Congresso, das corporações, de outros ministros, etc. E, por fim, uma enorme fragilidade porque, ao contrário do presidente, o ministro pode cair com uma canetada.”

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O jornalista decidiu escrever sobre o tema para mostrar ao “cidadão comum” como funcionam as engrenagens do poder. “É uma coisa muito complexa, então pensamos em fazer um recorte que explicasse tudo isso através de um ângulo, o do cargo mais complexo do país.”

Ministro está subordinado ao presidente e às variações da economia

Para ele, entender as limitações do cargo é muito importante porque, apesar dos muitos poderes que estão nas mãos do ministro da Fazenda, ele está subordinado ao presidente e às variações da economia. Além disso, é um dos cargos mais vulneráveis da equipe econômica.

Segundo Traumann, é natural que os eleitores prestem mais atenção a quem está concorrendo à Presidência. “Mas, quando o presidente assume, ele terceiriza uma parte do poder dele e isso fica muito na mão do ministro da Fazenda. Porque no Brasil a economia depende muito do Estado. Do preço da gasolina ao patrocínio da camisa do time de futebol.”

Dois candidatos a presidente já foram ministros da Fazenda

Nas eleições deste ano, dois candidatos a presidente já comandaram o Ministério da Fazenda. Ciro Gomes (PDT) esteve à frente da pasta durante poucos meses no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Henrique Meirelles (MDB), por sua vez, foi chamado por Michel Temer (MDB) para gerenciá-la após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

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As diferentes épocas também tornaram a atuação dos dois muito diferente. “O Ciro assumiu numa situação muito complexa. O ministro anterior tinha dado uma entrevista desastrosa, faltavam quatro meses para o final do governo. Era claramente um mandato tampão. É como se o jogador entrasse aos 35 minutos do segundo tempo”, avalia Traumann. Ele afirma que o Ministério não foi o auge da carreira de Ciro, mas parte dela.

No caso de Meirelles, ao contrário, ser ministro foi o ápice de sua carreira. “Ele assume com a segunda pior recessão da história, mais de 12 milhões de desempregados e o país com muito pouca credibilidade. Mas ele saiu do Banco Central para ir para a Fazenda e cuidar de todo o projeto econômico do Temer.”

Ministros não reconhecem erros

Mesmo avaliando seu desempenho no cargo em retrospecto, quase nenhum dos ex-ministros entrevistados pelo jornalista reconheceu ter cometido erros enquanto ocupava o posto. “Acho que o único que faz isso é o Francisco Dornelles (PP), que foi ministro do Tancredo [Neves, ex-presidente]. Ele fala que o projeto dele era tão duro que, se o governo tivesse aceitado o projeto dele, poderia ter caído. Ele diz que não tinha a dimensão da situação, que era tão técnico que não tinha essa visão política.”

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E errar, no caso de quem comanda a economia de um país tão grande, é fácil. Principalmente devido aos três componentes básicos do cargo, o poder, a pressão e a fragilidade. “Quando comecei a pesquisa isso não estava claro para mim. Eu só queria explicar como a política funcionava. E ela funciona desse jeito porque tem essas características. O medo de ser demitido faz as pessoas cometerem muitos erros no cargo.”

Os desafios do próximo ministro

Com a crise política e econômica que se abateu sobre o Brasil nos últimos anos, quem assumir essa pasta em 2019 terá grandes desafios pela frente. Traumann avalia que não será um mandato fácil, seja quem for o presidente. Três fatores, principalmente, precisam ser considerados pelo próximo ministro da Fazenda.

O primeiro tem a ver com os limites impostos a ele pelo presidente eleito. O segundo é manter uma boa relação com o Congresso. “Esse Congresso vai ser muito parecido com o que a gente tem hoje. E é um Congresso muito poderoso”, diz. De modo que será preciso negociar constantemente com os ocupantes da Câmara e do Senado. “O terceiro é um pouco de humildade. Não vai ter mágica, vão ser quatro anos difíceis. Não se pode supor que as coisas vão ser resolvidas facilmente.”

Lançamento

O livro “O pior emprego do mundo” vai ser lançado em Curitiba nesta segunda-feira (24), às 19h, na UniCuritiba.

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