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Marcelo Álvaro Antônio era o presidente do diretório estadual do PSL de Minas Gerais durante as eleições de 2018. | Ministério do Turismo/Flickr
Marcelo Álvaro Antônio era o presidente do diretório estadual do PSL de Minas Gerais durante as eleições de 2018.| Foto: Ministério do Turismo/Flickr

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, teve uma intensa agenda de compromissos na última semana. Ele participou do Conselho dos Ministros, convocado pelo presidente Jair Bolsonaro, foi à Câmara dos Deputados, recebeu diversos parlamentares em seu gabinete e fechou a semana com uma viagem a Minas Gerais, seu estado natal.

Antônio tem cumprido uma rotina normal no ministério a despeito de acusações que pairam contra ele – o ministro foi citado como o autor de um esquema de candidaturas laranjas nas eleições de 2018, pelo PSL de Minas Gerais. O caso foi divulgado em fevereiro, após reportagem da Folha de S. Paulo que indicou o registro de candidaturas de mulheres que receberam poucos votos mas foram contempladas com expressivos recursos do fundo eleitoral. Controvérsia semelhante levou à queda do primeiro ministro do governo Bolsonaro, Gustavo Bebianno, que ocupava a Secretaria-Geral da Presidência.

Em entrevista recente, Antônio disse “não ver motivos para se afastar” do cargo. E o presidente Bolsonaro defendeu o subordinado, afirmando que aguardará as investigações sobre o assunto. Antônio segue na pasta – em parte, beneficiado pelo fato de que os holofotes estão menos direcionados a ele.

Outras prioridades

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) admite que as controvérsias que envolvem o ministro do Turismo saíram do radar da oposição. “Nós temos muitas frentes para combater. Segue sendo, para nós, muito importante atacar esse ‘laranjal do PSL’. Mas a prioridade do momento é fazer frente à reforma da Previdência. Então isso [previdência] para nós é o que vai ficar na ordem do dia”, destacou.

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O líder do PT, Paulo Pimenta (RS), faz análise semelhante. “Há um volume tão grande de escândalos que, às vezes, as pautas chegam a se confundir”, disse.

O parlamentar citou que seu partido protocolou uma representação na Comissão de Ética da Presidência da República em que pediu investigações sobre o caso. O documento foi assinado pelos deputados federais petistas Margarida Salomão (MG), Affonso Florence (BA), Alexandre Padilha (SP), Assis Carvalho (PI) e Rui Falcão (SP).

Outra solicitação que envolve o ministro é um convite feito pelo Senado para que ele fale sobre o caso das candidaturas laranjas. O convite foi aprovado pela Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor no último dia 12. Não tem caráter obrigatório – ou seja, Antônio só comparece se quiser.

“A sociedade tem o direito de saber o que está por trás das eleições do partido do presidente Bolsonaro”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da requisição. O ministro já havia sido convidado por outra comissão do Senado, a de Desenvolvimento Regional e Turismo, e optou por não comparecer na reunião do colegiado.

Ele foi poupado da maratona de ministros que estiveram no Congresso Nacional na última semana.

Apoio interno e fogo amigo

Em entrevista a jornalistas no último dia 13, Bolsonaro reconheceu que o caso do ministro traz desgastes à sua gestão. Ele pediu que não houvesse “uma investigação morosa, para não deixar sangrar o governo”. O presidente falou ainda que “uma decisão será tomada” caso as investigações apontem culpa de Antônio. O episódio está sob apuração do Ministério Público e da Polícia Federal.

Antônio é deputado federal licenciado. Ele foi o candidato mais votado para o cargo em Minas Gerais na eleição de 2018. O PSL é o quarto partido de sua carreira. Foi eleito em 2014 pelo PRP e depois passou por PMB e PR.

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Deputados do PSL dizem que a controvérsia com o ministro do Turismo não tem ocupado as rodas de conversa da bancada. Álvaro Antônio chegou a receber o apoio público do líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), que disse não haver provas contra o ministro e que ele “não cometeu crime nenhum, zero”.

À Gazeta do Povo, o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ) disse ter confiança em Antônio. “Ele tem mostrado uma postura muito respeitável, a de responder todos os questionamentos. Ele não foge dos debates a que é chamado”, declarou.

Mas o suporte ao ministro não é unânime. Também deputado federal, Alexandre Frota (PSL-SP) defende que Álvaro Antônio deixe o cargo. “Eu questiono a conduta dele há tempos”, disse. Ainda em 2018, no período entre o segundo turno das eleições e a posse de Jair Bolsonaro, Frota teve um bate-boca virtual com Antônio, no qual acusou o ministro de empregar um lobista e um “infiltrado do PSOL” na equipe de transição.

Outro “fogo amigo” veio da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). Em 6 de fevereiro, dois dias após a divulgação do escândalo das candidaturas laranjas, Antônio foi exonerado do ministério para tomar posse como deputado federal. Como a exoneração foi publicada no Diário Oficial e o Palácio do Planalto não especificou inicialmente que se tratava de uma “demissão” temporária, a medida chegou a ser noticiada como a queda do ministro, que seria a primeira da gestão Bolsonaro.

No intervalo entre a publicação e o esclarecimento, Zambelli escreveu em uma rede social que a exoneração era “a atitude correta, inclusive para que o ex-ministro cuide de sua defesa sem que os trabalhos no ministério fiquem prejudicados. Parabéns, Presidente!”

Mais polêmicas

À parte do episódio das candidaturas laranjas, Álvaro Antônio teve outro foco de problema para lidar na última semana. Teté Bezerra, que ocupava a presidência do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur) desde maio do ano passado, deixou o cargo na última quinta-feira (28).

O desligamento de Bezerra se tornou alvo de uma guerra de versões entre as diferentes partes envolvidas. A ex-presidente disse que havia pedido para sair do comando da empresa. Já Bolsonaro, durante uma conferência ao vivo pela internet, afirmou que a demissão tinha sido iniciativa sua, após ele ter conhecimento de que a Embratur planejava a realização de um jantar orçado em R$ 290 mil.

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“Chegou ao meu conhecimento que na semana que vem – olha só você, brasileiro – a Embratur, a sua presidente, está patrocinando um jantar. Então, a Embratur patrocinando um jantar. Eu acho que o Alceu Valença, se não me engano, ia cantar no jantar, certo? Preço do jantar: R$ 290 mil. Você ia pagar a conta. O que nós fizemos, no dia de ontem mesmo? Entramos em contato com o ministro do Turismo, falei para ele simplesmente cancelar o jantar e também, tendo em vista o tamanho do descalabro aqui, que cancelasse também a função ali da responsável pela Embratur. Então, ela foi exonerada no dia de hoje e também página virada”, afirmou Bolsonaro na live.

Apesar dessa fala, o Ministério do Turismo divulgou uma nota em que diz que Álvaro Antônio “aceitou o pedido de exoneração” de Teté Bezerra e “agradece os trabalhos prestados e deseja sucesso nas próximas missões”.

O deputado Paulo Pimenta classificou a postura de Bolsonaro no caso como a de “criação de um factoide”. “Ele se aproveitou de uma decisão que já estava sendo tomada para promover a criação de um factoide e tentar lucrar em cima”, disse.

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