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Governador de Minas Gerais pelo Novo, Romeu Zema quer fazer da sua gestão uma vitrine para seu partido | Reprodução/Facebook
Governador de Minas Gerais pelo Novo, Romeu Zema quer fazer da sua gestão uma vitrine para seu partido| Foto: Reprodução/Facebook

Depois de desbancar dois políticos tradicionais nas eleições para o governo de Minas Gerais, o empresário Romeu Zema (Novo) assumiu no dia 1.º de janeiro o segundo maior colégio eleitoral do país. Ele saiu da lanterna da disputa para uma vitória no segundo turno contra o senador Antônio Anastasia (PSDB). O ex-governador, Fernando Pimentel (PT), disputou a reeleição no estado, mas não chegou sequer ao segundo turno.

Ao se tornar o único governador eleito pelo Novo, partido recém-criado, Zema pode ser uma importante vitrine para a legenda. A gestão do empresário vai funcionar como um teste para as ideias defendidas pelo Novo, tanto na administração pública quanto na relação com outros poderes.

O governador de Minas Gerais concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo em 19 dezembro, durante o período de transição. Confira:

O senhor venceu dois políticos tradicionais no seu estado nas eleições de outubro. A que o senhor atribuiu essa vitória?

Nas minhas andanças por Minas, durante a campanha, pude perceber que as pessoas hoje buscam políticos que olhem para os interesses delas, e não aqueles que só se preocupam em manter privilégios e mordomias. Acredito que minha eleição mostrou que a população mineira realmente busca mudanças. O povo pensou: ‘esses que estão aí, há décadas, já conhecemos e não fazem nada, então vamos apostar no que é novo’. Se os políticos tradicionais não fizeram a reforma política, como deveria ter sido feita, os eleitores, de um certo modo, se encarregaram de fazê-la nas urnas.

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O senhor falou logo após a eleição que não vai negociar cargos em troca de apoio na Assembleia. No plano nacional, o presidente eleito prometeu a mesma coisa, e conseguiu cumprir a promessa no primeiro escalão do governo. Agora, porém, já admite ter que negociar cargos no segundo e terceiro escalão para garantir apoio no Congresso. O senhor acha que pode ter a mesma dificuldade em Minas Gerais?

Fizemos algo inédito aqui em Minas, tivemos duas equipes de seleção e recrutamento profissional para nos auxiliar na análise dos currículos dos profissionais. Inicialmente, o partido pagaria essa despesa, mas tivemos empresas oferecendo o serviço de forma gratuita e colaborando com esse novo tipo de gestão mais profissional no nosso estado. No segundo e terceiro escalão, já com todos os secretários e secretárias definidos, eles terão opções de seleções de profissionais com o mesmo critério que adotamos para o secretariado, e com ênfase na escolha de efetivos para as funções de chefia e assessoramento. O povo quer dar um basta no apadrinhamento político. E vamos fazer isso aqui em Minas.

O senhor vai encontrar uma Assembleia Legislativa mais fragmentada na próxima legislatura. Serão 29 partidos com representação na Casa. Como negociar apoio para aprovação de medidas de interesse no governo com tantos deputados, ainda mais se forem medidas amargas para a população do estado?

Acredito que poderei contar com os 77 deputados, que têm consciência da gravidade da crise por que passamos e que somente será resolvida com medidas austeras. Creio que todos nós, mineiros, queremos fazer Minas voltar a crescer e isso só será possível com um jeito novo de governar. Vou manter um diálogo constante com os parlamentares, independentemente dos partidos, não só buscando aprovação de medidas de interesse do Executivo, mas também para dar transparência às nossas ações. E vou contar com meu vice, Paulo Brant, que vai colaborar na articulação política junto à Assembleia.

O Novo elegeu três deputados estaduais em Minhas Gerais. Que outros partidos o senhor espera que componham sua base?

Fomos eleitos sem os acordos da velha política e vamos continuar agindo assim. Basta ver a formação do primeiro escalão do novo governo. Fizemos algo inédito na Política e na administração pública brasileira: tivemos o apoio de empresas de recrutamento e seleção para o preenchimento das vagas. O resultado está aí, basta olhar os currículos dos meus futuros secretários e secretárias. O perfil técnico e a competência preponderaram. Vamos levar essa marca também para a articulação política com os deputados estaduais e as bancadas partidárias na Assembleia Legislativa. Os outros Poderes também terão que fazer sacrifícios para que haja uma mudança na situação financeira do nosso estado. E a opinião pública será o nosso 78° deputado estadual.

Quais devem ser as primeiras medidas adotadas pelo senhor no estado após assumir o governo?

Nossa prioridade é o reequilíbrio das contas para, entre outras coisas, regularizar o pagamento dos salários dos servidores públicos e os repasses para as prefeituras. Não posso prometer que isso vá acontecer logo no início do meu mandato, mas é nossa intenção que ocorra o quanto antes. Entre as primeiras medidas está a renegociação da nossa dívida com a União, o enxugamento da máquina, pela redução do número de secretarias, corte radical dos cargos comissionados e fim de mordomias e privilégios. Para buscar o reaquecimento da economia e estimular investimentos, vamos adotar medidas de desburocratização das exigências e simplificação de tributação.

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No ano passado, a arrecadação de Minas foi de R$ 57 bilhões, mas só a folha de pagamentos somou R$ 49,9 bilhões. Muitas dessas despesas envolvem servidores inativos. Onde é possível fazer cortes que sejam realmente significativos para melhorar a situação fiscal do estado?

Nossa equipe de transição fez um estudo detalhados das contas públicas, não só para conhecermos a situação financeira real do Estado, mas também para podermos definir onde será possível fazer os cortes de despesa. Já sabemos que um dos recursos para enxugar a máquina será o corte de cargos comissionados e a redução do número de secretarias. Entretanto, não foram fornecidas senhas de acesso aos sistemas do Estado (durante a transição) e não obtivemos (na fase de transição) dados essenciais para as nossas projeções financeiras, como o fluxo de caixa do Estado, que, infelizmente, já é de conhecimento de todos, está bastante combalido e deficitário.

O senhor falou em congelar salários de servidores nos primeiros anos de governo. Como pretende negociar com as categorias e evitar greves que prejudiquem a população?

Não falei em congelamento. Os servidores, mais do que ninguém, sabem da dura realidade da crise financeira. Eles hoje recebem seus salários parcelados e com atraso, sem saberem quando vão receber, ou seja, sem poderem programar suas despesas. Seria irresponsável eu dizer que vou dar aumentos, se o Estado não tem como pagar nem os valores atuais corretamente, enquanto eu não conhecer totalmente os dados. Somente após assumir o governo, é que poderemos saber o que será possível fazer.

Além de reduzir despesas, é necessário aumentar a arrecadação do estado. Como o senhor pretende fazer isso? O aumento de impostos pode ser uma medida adotada pelo governo?

Por diretriz partidária, o Partido Novo é totalmente contra a ampliação da já pesada carga tributária. Dessa forma, vamos trabalhar para que novos negócios sejam gerados no Estado, com o incremento da receita pública a partir da aceleração da roda da economia.

O senhor já disse em entrevistas que Minas é o estado mais burocrático do Brasil. O que o senhor pretende fazer para mudar essa realidade?

Isto será feito a partir da simplificação de processos estatais e da redução da burocracia. O nosso ICMS, para se ter uma ideia, é de uma complexidade absurda, tem mais de mil páginas. O empresário, em Minas, perde muito tempo tentando compreender as intrincadas regras burocráticas e acaba não tendo tempo para pensar em inovações e investimentos. Pretendemos também agilizar a concessão de licenças ambientais, porém assegurando a preservação dos recursos naturais.

O senhor foi o único eleito pelo Novo para um cargo executivo e, por isso, vai ser observado com atenção pelos brasileiros. Sua gestão deve ser um importante “teste” para o partido. O que o senhor pretende fazer para deixar a marca da legenda na gestão em Minas? Que práticas o senhor vai evitar a todo custo?

Acredito que minha gestão à frente do governo de Minas vai deixar claro, não só para os mineiros, mas para o Brasil, que realmente trazemos um jeito novo de lidar com a coisa pública. Para começar, consideramos que público é o que é meu, seu, nosso, e não aquilo que não tem dono, como vem sendo tratada a coisa pública até agora. Vamos mostrar que existe um jeito diferente de governar, de atender às necessidades dos cidadãos que pagam impostos. Com a responsabilidade que os contribuintes exigem que haja com os recursos que são públicos e que devem voltar como serviços de qualidade para a população. Não faço nenhuma promessa ao povo mineiro. Firmo compromissos. E os mineiros podem confiar que meu governo terá como pilares a austeridade, a honestidade e a transparência.

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