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| Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) bem que tenta se mostrar em uma fase mais “paz e amor”. Em viagem pelos Estados Unidos – onde tenta vincular sua imagem à do presidente americano Donald Trump – ele procurou ser menos radical e mais ponderado em algumas declarações.

Disse que há cinco anos, “teria rachado no meio” a pessoa que o alvejou com um ovo e reconheceu ter “perdido a linha” ao dizer que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia. O presidenciável tem se esforçado, mas exemplos de seu comportamento radical não param de pipocar por aí.

Nesta terça-feira (10), o colunista da Folha de S. Paulo Bernardo Mello Franco escreveu sobre o Bolsonaro “sem retoques”, relembrando uma entrevista de maio de 1999 ao programa Câmera Aberta, veiculado na TV Bandeirantes.

O já deputado federal criticou o então presidente Fernando Henrique Cardoso, declarou voto em Luiz Inácio Lula da Silva, aconselhou os telespectadores a sonegarem impostos e ainda afirmou que a única solução para o Brasil seria uma guerra civil.

“Vocês podem não gostar de mim, mas eu sou uma pessoa sincera. Tenho minhas posições e vou continuar defendendo”, afirmou Bolsonaro ao final da entrevista. Veja sete declarações polêmicas do Bolsonaro sincerão de 18 anos atrás (e a entrevista completa ao fim)

Voto em Lula e a corrupção (de FHC)

Bolsonaro criticava duramente o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que havia vencido a eleição de 1998 ainda no primeiro turno – a primeira que permitia a reeleição, uma polêmica de seu governo. A análise do governo FHC feita pelo deputado é ácida. “Nós vivemos sob a égide do governo mais corrupto da história do Brasil. Eu botaria um ponto final aí. A ele [FHC] não interessa que nenhuma CPI seja instalada na Câmara dos Deputados, que algo seja apurado, porque vai chegar nele, vai chegar no governo dele”, declarou.

Mais adiante, Bolsonaro resolveu comentar a eleição do ano anterior e afirmou que votaria em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um eventual segundo turno por causa de sua honestidade. “O pessoal reclama do Lula e do FHC. Eu votaria no Lula no 2º turno. Apesar de dizerem que ele não é uma pessoa muito culta, eu vejo como uma pessoa honesta. Não adianta você votar numa pessoa cultíssima como o FHC e desonesta. Você não vai ter esperança de nada nunca na vida. O foco é na honestidade”, disse.

Dezoito anos depois dessa entrevista, Lula e Bolsonaro despontam como adversários na corrida presidencial de 2018.

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Para quê Congresso?

A insatisfação com o governo de FHC era tanta que sobrou um ataque até para a própria instituição da qual Bolsonaro, como parlamentar, fazia parte: o Congresso Nacional. “Esse governo está mais que podre. Tanto é que não voto em nada porque não confio”, avisou.

Para ele, o cenário da época era de políticos pressionados pela população e cooptados pelo governo, votando de acordo com os interesses do Executivo. “Hoje em dia não existe Legislativo. Eu não canso de dizer: nós temos Câmara, temos Congresso, só para dizer que temos democracia”, avaliou.

Quando questionado se fecharia o Congresso, caso fosse presidente da República, Bolsonaro foi enfático. “Não há a menor dúvida. Eu daria golpe no mesmo dia. [O Congresso] não funciona e tenho certeza que pelo menos 90% da população ia bater palmas. O Congresso hoje em dia não serve para nada, só vota o que o presidente quer. Se ele é a pessoa que manda, que decide e que tripudia em cima do Congresso, que dê logo o golpe, parte logo para a ditadura”, afirmou.

E por que um deputado que fecharia o próprio local de trabalho está no Congresso? “Estou no congresso para não chegar um mau caráter no meu lugar”, disse. Então tá.

(Não) sigam esse conselho

O deputado federal também deu conselhos fiscais pouco ortodoxos nessa entrevista. Para comentar sobre o então ministro da Fazenda Pedro Malan, Bolsonaro resolveu dividir uma prática pessoal, que seria um tipo de boicote ao governo. “Conselho meu e eu faço: eu sonego tudo que for possível. Se eu puder não pagar o negócio, eu não pago, porque o dinheiro vai pro ralo, pra sacanagem”, afirmou.

O apresentador do programa, Jair Marchesini, pergunta então se o deputado não está incitando a desobediência civil com esse “conselho”. “Eu prego sobrevivência. Sobrevivência. Se você for pagar tudo o que o governo pede pra você, você não sobrevive. Se você precisar de um médico e não tiver dinheiro para pagar, você vai para a rede pública e vai morrer na rede pública”, retrucou.

Qual é o jeito do Brasil?

Em meio a uma crise de confiança pela qual o país passava, Bolsonaro foi bastante dramático e duro em relação às soluções para o Brasil. “Através do voto você não vai mudar nada nesse país, absolutamente nada. Só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazer um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil, começando pelo FHC. Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem. Em tudo quanto é guerra morrem inocentes”, afirmou.

E continuou criticando duramente a democracia. Para Bolsonaro, a democracia no Brasil “faliu”. E para além da ‘guerra civil’, ele também defendeu o uso de pau de arara no Congresso e falou sobre tortura. “Eu sou favorável à tortura e o povo é favorável também. Essa porcaria é o que a gente vive hoje em dia é que esse pessoal lá de cima chama de democracia”.

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Salário, advogados e Paraguai

Ele diz que não reclamou, mas reclamou, sim, e mais de uma vez sobre os vencimentos como deputado federal. Em 1999, o salário dos parlamentares foi reajustado para R$ 12.720 – antes, os vencimentos eram de R$ 8 mil. No mesmo ano, o salário mínimo era de R$ 136.

O tema salário veio à tona porque Bolsonaro precisava justificar a razão de ‘depender’ da imunidade parlamentar para falar verdades. “Eu preciso dela, caso contrário, eu estaria morto. Eu não tenho dinheiro pra contratar advogado pra me defender, se fosse o caso. Eu ganho R$ 5 mil líquido por mês, tem 30% de pensão alimentícia e fica R$ 3,5 mil por mês. Não tô reclamando do meu salário não, mas não tenho dinheiro pra contratar advogado”, afirmou.

Ele ainda disse que enquanto havia políticos indo para Europa e paraísos fiscais, ele não tinha condições de fazer grandes viagens para o exterior. “Eu não consigo ir nem para o Paraguai com o meu salário”.

Desarmamento da hipocrisia

O apresentador ainda fez questionamentos para Bolsonaro sobre a campanha do desarmamento, que ocorria naquela época. O parlamentar definiu o caso em uma palavra: hipocrisia. “O cidadão honesto tem que se armar. Eu tô armado aqui. Podem me render e me matar, isso é outra história. Mas se derem mole, eu vou atirar e atirar pra matar”, declarou o capitão da reserva do Exército.

Sobrou até para o Pelé

A língua afiada de Bolsonaro não poupou nem o rei Pelé. Ele comentou um episódio de um “trote” realizado por funcionários que publicaram notas falsas no Diário Oficial. Entre as informações falsas que saíram no documento estavam as supostas contratações da cantora Elba Ramalho, por R$ 800 mil para uma suposta festa de aniversário de FHC, e Pelé, que receberia R$ 500 mil por uma palestra.

A cantora e o jogador nada tinham a ver com a confusão da publicação falsa, mas não escaparam dos comentários de Bolsonaro. “[A situação] compromete o bom nome da Elba Ramalho. Do Pelé eu não falo nada. Homem que não assume um exame de DNA, de paternidade, eu passo a ter minhas reservas”.

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