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O liberal Milton Friedman é o economista de referência para Paulo Guedes, futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro | Daniel Ramalho
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O liberal Milton Friedman é o economista de referência para Paulo Guedes, futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro| Foto: Daniel Ramalho /AFP

“Posto Ipiranga” do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e responsável pela condução econômica do novo governo, o futuro ministro da Economia Paulo Guedes também tem o seu guru: o economista liberal Milton Friedman. É inspirado no americano, que recebeu o prêmio Nobel em 1976 e foi considerado um dos economistas mais importantes da segunda metade do século XX, que Guedes quer implantar no Brasil um governo com menos Estado e mais iniciativa privada.

A aproximação de Guedes às ideias liberais de Friedman aconteceu na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, onde o futuro ministro fez mestrado e doutorado em Economia. Friedman foi um dos professores da universidade e, no departamento de Economia, liderou o que ficou conhecida como a “Escola de Chicago”, um grupo de professores e alunos que defendiam o livre mercado. Depois, muitos dos egressos vieram a aplicar na prática as teorias do liberalismo econômico.

Os discípulos mais conhecidos de Friedman são os “Chicago boys”, como são chamados os economistas da Escola de Chicago que assessoraram o governo do ditador Augusto Pinochet, no Chile. A partir do fim da década de 1970, eles ajudaram Pinochet a mudar a economia do Chile: saíram do socialismo e foram para o modelo econômico liberal, com privatizações, reformas, cambio flexível e abertura comercial. Foi o primeiro país a aplicar na prática os conceitos da política monetarista de Friedman. É também considerado o exemplo mais bem sucedido.

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Guedes não fez parte da turma de “Chicago Boys”, mas agora tem a oportunidade de replicar no Brasil muitas das ideias do seu mentor. Ele diz que o Brasil dos últimos 30 anos sempre foi uma aliança de centro-esquerda, em torno de um programa social-democrata. Agora, no governo Bolsonaro, afirma que será tempo de “liberal-democracia”, com corte de gastos, simplificação de impostos, privatizações e abertura da economia, entre outras medidas.

As marcas da “Escola de Chicago” no futuro governo Bolsonaro

Muitas dessas ideias vindas da Escola de Chicago, de Friedman. O Nobel é o único economista mencionado no plano de governo de Bolsonaro, que tem 81 páginas. Ele é citado na parte sobre o “Programa Renda Mínima”, uma proposta de instituir “uma renda mínima para todas as famílias brasileiras”, acima do “valor da Bolsa Família”. No documento, está escrito: “todas essas ideias, inclusive o Bolsa Família, são inspiradas em pensadores liberais, como Milton Friedman, que defendia o Imposto de Renda Negativo”.

A equipe de transição do governo Bolsonaro também tem outros discípulos de Chicago e, consequentemente, de Friedman. É o caso de Carlos Alexandre Jorge da Costa, ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e de Roberto Castello Branco, ex-diretor da Vela e ex-conselheiro da Petrobras. Todos de postura liberal na economia, escolhidos por Paulo Guedes.

Quem foi e qual o legado de Friedman

O economista americano Milton Friedman virou referência ao se contrapor a John Keynes, que não acreditava na eficácia das políticas de controle de oferta monetária, e ao apresentar uma nova interpretação da curva de Phillips, que tratava de uma suposta relação estável entre inflação e desemprego. Friedman também ganhou notoriedade ao dizer que a redução na oferta de moeda foi uma das principais causas da Grande Depressão, que teve início em 1929.

Em linhas gerais, ele foi um dos fundadores da “escola monetarista”, teoria criada na Escola de Chicago. Essa linha de pensamento defende que política monetária é essencial para a condução da economia. Ela considera que a oferta de moeda pode e deve ser controlada pelo governo para manter a inflação em níveis baixos.

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Além da parte monetária, Friedman defendeu menos intervenção do Estado na economia. O papel do governo deveria se restringir ao controle de moeda, já que o livre mercado se ajusta automaticamente. Ele também defendeu a criação de uma alíquota única de imposto de renda, políticas fiscais rígidas , livre concorrência e “vouchers” fornecidos pelo governo para que os alunos paguem escolas privadas e o governo não precise mais fornecer ensino.

O caso mais notório de implementação de suas propostas foi durante o governo de Pinochet, no Chile, mas Friedman também assessorou os presidentes americanos Richard Nixon e Ronald Reagan, respectivamente, no fim da década de 1960 e no início dos anos 1980. No governo Reagan, foi membro do Conselho de Política Econômica. Também influenciou o governo da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

Friedman era um economista ‘popular’, com série de TV e tudo

Reconhecido entre acadêmicos e políticos, Friedman ficou popular por escrever em uma linguagem acessível a quem não entende de economia. Um dos seus livros considerados de mais fácil leitura é o “Capitalismo e Liberdade”, publicado em 1962. Nele, ele cita: “A mão invisível fez muito mais pelo progresso do que a mão visível pelo retrocesso”. Ele também escreveu para revista Newsweek.

Friedman estrelou, ainda, uma série de TV. O nome era “Free To Choose”, inspirada no livro de mesmo nome do Economista, traduzido para o português como “Liberdade de Escolher”. A séria passou na televisão na década de 1980, nos Estados Unidos, e defendia o livre mercado. Ela foi um sucesso, assim como o livro, considerado best-seller.

Tanto no livro quanto na série, Friedman explicou como funcionava o mercado, por que o socialismo falhou, por que um estado intervencionista é ruim e o que leva o livre mercado a ser o melhor sistema, na sua visão. Originalmente, a série teve dez capítulos de uma hora cada.

O economista, referência de Paulo Guedes e tantos outros nomes, nasceu em 1912, no bairro do Brooklyn, em Nova York, e morreu em São Francisco, em 2006. Graduou-se em Economia, na Universidade Rutgers, fez mestrado na mesma área em Chicago e doutorado na Columbia. Foi casado com Rose Friedman, também economista que escreveu alguns livros juntos com o marido.

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