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Rubem Novaes é o novo presidente do Banco do Brasil | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Rubem Novaes é o novo presidente do Banco do Brasil| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Apesar de ter começado o ano com a polêmica promoção do filho do vice-presidente Hamilton Mourão, o Banco do Brasil (BB) vai tentar se livrar do peso do Estado nestes próximos quatro anos. Diferente do que acontecia na época dos governos petistas, a nova direção do banco deve seguir a política de juros praticados no mercado, reduzir o empréstimo a grandes empresas, vender ativos e dar menos subsídios ao setor agrícola. O objetivo é ter uma administração mais “eficiente, transparente e honrada” e livre de “interferências políticas”, nas palavras do novo presidente, o economista Rubem Novaes.

Ele tomou posse na segunda-feira (7), após ter sido escolhido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e referendado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). Formado na Universidade de Chicago, meca do liberalismo econômico, evitou falar em redução do tamanho do banco, mas deixou claro que a empresa vai ter uma administração focada em alcançar o lucro e em atender a todos os acionistas, e não somente a União.

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“Esse é o drama de todas as empresas estatais de capital aberto, uma anomalia, na medida em que subordina a administração a dois patrões que raramente comungam de objetivos comuns”, afirmou Novaes na segunda-feira, durante a posse. “Felizmente, estou livre desse drama, o mandato que recebo é plenamente compatível com interesse dos minoritários.” E completou: “A concorrência que se cuide”.

Venda de ativos e subsidiárias

Sobre venda de ativos, Novaes sinalizou que isso será feito pela nova gestão. Mas não detalhou quais são os planos, já que o BB é uma companhia de capital aberto e segue normas de governança corporativa da Bolsa. “Entendemos que alguns ativos do banco não guardam sinergia com suas atividades principais e, nesses casos, realmente consideramos os desinvestimentos.”

No caso dos negócios considerados “joias da coroa”, ou seja, subsidiárias lucrativas do BB, Novaes afirmou que deve procurar o mercado de capitais, seja para parcerias ou IPO (oferta de ações na Bolsa). “O que se pretende para algumas atividades lucrativas, que se valem da força do banco para prosperar, é a abertura para o mercado de capitais e a busca de parceiros complementares, sempre buscando destampar e evidenciar valores antes despercebidos ou desconsiderados nos registros contábeis.”

Segundo apurou o jornal Valor Econômico, o Banco do Brasil pretende abrir capital da BB DTVM, o braço de administração de recursos do grupo. Trata-se da maior gestora de recursos do país, com R$ 947,9 bilhões em ativos em carteira. O objetivo com a abertura de capital seria levantar recursos para o banco e atrair parceiros estratégicos para administração do negócio.

Novaes não dá detalhes da política de redução de custos

Em relação à redução de custos, Novaes pouco falou sobre o enxugamento da estrutura do banco. Apenas limitou-se a dizer que fará isso sem prejudicar o funcionamento da instituição. Ele afirmou que vai dar prosseguimento à digitalização das agências e que eventuais fechamentos de unidades serão estudados com calma, porque o banco tem papel importante ao levar serviços bancários ao interior.

Ele também não falou sobre programas de demissão voluntária (PDVs), que foram muito usados por estatais durante o governo Temer para tentar reduzir seus quadros. Novaes, inclusive, fez um afago aos funcionários do banco durante seu discurso de posse. O novo presidente disse que, ainda durante o período de transição, teve a oportunidade de conhecer os funcionários e dirigentes do banco e que se trata de uma equipe “extremamente eficiente”. Ele comentou que não fará perseguição política, mas avisou que quem participou de possíveis atos ilícitos será responsabilizado.

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Crédito rural, uma das principais áreas de atuação do BB

Sobre o crédito rural, uma das principais áreas de atuação do Banco do Brasil, Novaes garantiu que ele não será reduzido. O que mudará é a política de subsídios ao setor. Essa sim deve sofrer cortes nos próximos quatro anos.

Há muitos anos, o BB oferece crédito mais barato ao produtor para que ele possa financiar a safra. Novaes, porém, não deu mais detalhes sobre as taxas que serão praticadas. O Plano Safra 2018/2019, lançado em julho do ano passado pelo BB e pelo governo Temer, vale até o meio deste ano. Foram disponibilizados R$ 103 bilhões em crédito rural, com taxas de juros que variam entre 2,5% a 4,6% ao ano, uma redução de até 1,5% ao que era praticado na safra anterior.

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Em troca da prometida redução dos subsídios para este mandato, o governo e o Banco do Brasil devem priorizar o seguro rural. O seguro protege o produtor e toda a sua propriedade e safra de fenômenos climáticos. E, por ser financiado pelo governo federal, é um produto mais barato do que outros tipos de seguros vendidos no mercado.

Juros e empréstimos a grandes empresas

O presidente do Banco do Brasil também disse que a instituição vai seguir a política de juros praticada no mercado. “A questão dos juros é macroeconômica; o BB não vai resolver. O juro é determinado pelo endividamento do Estado e pelas perspectivas futuras das contas públicas.”

Em governos petistas, os bancos públicos foram obrigados a praticar juros abaixo do preço de mercado, como forma de política social e de tentar forçar uma redução dos juros pelas instituições financeiras privadas.

Outra mudança será em relação às grandes empresas. O presidente deu a entender que o banco deve reduzir os empréstimos realizados a empresas de grande porte e focar mais no varejo, seu carro-chefe. “No grande atacado, o [Banco do Brasil] não tem o mesmo retorno do que no varejo.”

Apesar de polêmica com Mourão, Novaes promete BB livre de interferência

No discurso de posse, Novaes afirmou que assumiu o comando do maior banco público do país livre de “interferências políticas”. O seu nome foi escolhido pelo ministro Paulo Guedes, economista liberal, favorável a um Estado menor e contra interferência política em estatais. Bolsonaro não teve participação na escolha e apenas a referendou. O próprio presidente fez questão de ressaltar isso. “O ministro [Guedes] teve a liberdade de escolher todo seu primeiro escalão, sem qualquer interferência política. Os hoje aqui titulares [dos bancos públicos] escolheram todos os seus diretores”, afirmou Bolsonaro na segunda-feira (7).

Novaes prometeu que a nova administração será mais “eficiente, transparente e honrada”. Ele, porém, começou o seu mandato com uma grande polêmica: a promoção de Antônio Hamilton Rossel Mourão ao cargo de assessor especial da presidência do BB. O problema é que Rossel é filho do vice-presidente da República e teve seu salário triplicado com o novo cargo.

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O presidente do Banco do Brasil disse que Rossel tem excelente formação e capacidade técnica. “É de minha absoluta confiança e foi escolhido para minha assessoria, e nela continuará, em função de sua competência”, disse. O vice-presidente da República, o general Mourão, afirmou que a promoção de seu filho se deu por “mérito” e não ocorreu antes porque Rossel foi “duramente perseguido” durante gestões petistas. Rossel é funcionário de carreira do banco e há 11 anos estava na diretoria de agronegócio.

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