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Conselho de Administração da Caixa decidiu destituir três dos quatro vice-presidentes que estavam afastados | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Conselho de Administração da Caixa decidiu destituir três dos quatro vice-presidentes que estavam afastados| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O afastamento de quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, em janeiro, é resultado de um histórico de irregularidades envolvendo o banco. A decisão do presidente Michel Temer veio após recomendação do Banco Central e do Ministério Público Federal (MPF), e culminou, inclusive, em mudanças no estatuto da instituição. Com as alterações, as nomeações dos principais executivos da Caixa deixaram de ser prerrogativa de políticos, passando a ser regidas por critérios mais duros. Além disso, no dia 23 de janeiro, o Conselho de Administração do banco decidiu destituir três dos quatro vice-presidentes que haviam sido afastados por Temer.

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Os motivos das mudanças ficam claros se forem levados em conta os principais casos de irregularidades envolvendo o banco, desvelados em investigações empreendidas desde 2015. No centro das operações, na maioria dos casos, estão políticos, altos funcionários do banco e empresários. Confira quais são as oito investigações envolvendo a Caixa iniciadas nos últimos anos:

1. O escândalo dos fundos de pensão

Deflagrada em setembro de 2016, a Operação Greenfield tem como alvo os fundos de pensão de estatais: o Previ, do Banco do Brasil; o Petros, da Petrobras; o Postalis, dos Correios; e o Funcef, da Caixa. A investigação revelou que as instituições públicas realizavam aportes em Fundos de Investimento em Participações (FIP) lançados por empresas privadas. O esquema envolvia valores irreais dos ativos, de modo que os fundos de pensão faziam investimentos maiores do que deveriam, tendo prejuízos logo de início. Nessa primeira fase foram presos importantes nomes da Funcef, entre eles o ex-presidente Carlos Alberto Caser, o diretor Maurício Marcellini Pereira e os ex-diretores Carlos Augusto Borges e Demósthenes Marques.

Já em 2017, a segunda fase da Greenfield teve como foco o FIP Florestal, criado pelo empresário Mário Celso Lopes, que foi preso a pedido do MPF. As investigações apontaram que o Florestal recebeu um aporte de R$ 550 milhões da Funcef e da Petros, valor investido em ativos superavaliados. A situação dos fundos de pensão das estatais ficou ainda pior depois da fusão do FIP à Eldorado Brasil Celulose, empresa da J&F. Os investigadores afirmaram que, após a fusão, os sócios da empresa passaram a obter empréstimos junto à Caixa.

Pouco depois, em maio do ano passado, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal em Brasília, aceitou denúncia do Ministério Público contra 14 investigados na operação. Entre os réus estavam ex-diretores da Funcef (Antônio Bráulio de Carvalho, Demósthenes Marques, Guilherme Narciso de Lacerda, Luiz Philippe Peres Torelly, Geraldo Aparecido da Silva, Sérgio Francisco da Silva, José Carlos Alonso Gonçalves); um ex-presidente da instituição (Carlos Alberto Caser); o ex-superintendente Nacional de Fundos de Investimentos Especiais da Caixa, Roberto Carlos Madoglio; os sócios da Engevix José Antunes Sobrinho e Cristiano Kok; o ex-vice-presidente da Engevix Gerson de Mello Almada; o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o lobista Milton Pascowitch.

Incluídas na força-tarefa da Greenfield também estão as investigações Cui Bono?, Sépsis e Patmos.

2. Dinheiro no “bunker”

Começou em 2015, com a Operação Catilinárias, uma investigação que nasceu de provas obtidas na Lava Jato. Em dezembro daquele ano, a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca e apreensão que incluíram as casas do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em Brasília e no Rio de Janeiro. Na operação, foi encontrado um celular em que havia intensa troca de mensagens entre Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Posteriormente, em um desdobramento desta primeira etapa realizado em janeiro de 2017, a operação foi rebatizada de “Cui Bono?” (“a quem beneficia?”, em latim) e passou a investigar a liberação de crédito pela Caixa entre os anos de 2011 e 2013.

Entre os envolvidos estavam Geddel – que à época era vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco – e o vice-presidente da Gestão de Ativos Marcos Roberto Vasconcelos. No esquema, Geddel e Vasconcelos facilitavam, em troca de propina, a concessão de empréstimos da Caixa a empresas. Outros participantes do esquema eram Cunha e Fábio Cleto, que foi vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias por indicação do ex-presidente da Câmara. Sob suspeita de interferir nas investigações, Geddel foi preso preventivamente em julho, mas ficou apenas nove dias no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Depois, passou à prisão domiciliar.

Mais tarde, em setembro de 2017, a PF chegou ao que seria o principal episódio da operação: a descoberta, em um apartamento em Salvador (BA), de mais de R$ 51 milhões em espécie. As notas continham impressões digitais de Geddel, que voltou à cadeia. Além das digitais, a investigação revelou que o apartamento estava emprestado ao irmão do ex-ministro, o deputado Lúcio Vieira Lima. Ainda em setembro, a polícia cumpriu mais três mandados de busca e apreensão, além de mais uma prisão preventiva: a de Gustavo Ferraz, que era diretor-geral da Defesa Civil de Salvador e também tinha impressões digitais no dinheiro encontrado na capital baiana.

3. Financiamento com propina

Em mais um desdobramento da Lava Jato, o doleiro Lúcio Funaro foi preso na Operação Sépsis, em julho de 2016. De acordo com as investigações, Funaro era o principal parceiro de Eduardo Cunha em esquemas de corrupção. Em uma destas ações, ambos teriam acordado a indicação de Fábio Cleto para uma das vice-presidências da Caixa, para que ele facilitasse a cobrança de propinas. No esquema, revelado pelo próprio Cleto em delação premiada, recursos do FI-FGTS eram liberados em empréstimos para empresas, a mando de Cunha. A propina paga, depois, era dividida entre eles e também com um sócio de Funaro, Alexandre Margotto. Mais tarde, em outubro do ano passado, o doleiro apontou outros envolvidos no esquema, como os deputados André Moura (PSC-SE) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e o ex-deputado Henrique Eduardo Alves. Segundo o delator, o presidente Michel Temer e outros membros do PMDB sabiam dos crimes. Todos negaram envolvimento.

No início deste ano, o MPF encaminhou alegações finais à Justiça Federal na ação que envolve Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Lúcio Funaro, Alexandre Margotto e Fábio Cleto. Eles respondem pelos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, prevaricação e violação de sigilo funcional. As penas pedidas pelo MPF para todos os acusados somam 538 anos, sendo 386 de reclusão para Cunha.

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4. Grampo em depoimento

A Operação Patmos revelou, em maio de 2017, que um dos depoimentos realizados no âmbito da Operação Greenfield havia sido gravado irregularmente. O grampo, realizado pelo Procurador da República Angelo Goulart Villela, era repassado ao advogado Willer Tomaz, que transmitia as informações ao empresário Joesley Batista. O procurador e o advogado foram presos pela operação, mas acabaram soltos em agosto do ano passado após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

5. “Investimento” em banco falido

Em abril de 2017, a Operação Conclave começou a investigação a respeito da compra de ações do Banco Panamericano pela Caixa Participações (CaixaPar), em 2009, no valor de R$ 740 milhões. Os alvos da operação foram ex-diretores do banco e da CaixaPar, além de empresas de auditoria que foram contratadas para avaliar a situação do Panamericano antes da aquisição das ações. Meses após a compra, descobriu-se que o banco estava em situação de insolvência financeira. A CaixaPar é responsável por atuar como acionista em empresas privadas.

6. Roubo de poupanças

Em referência à atuação de um funcionário da Caixa, que repassava dados dos clientes aos criminosos, a operação batizada de Duas Caras cumpriu mandados de prisão preventiva e temporária, busca e apreensão, sequestro de bens, condução coercitiva e suspensão do exercício de função pública em setembro e outubro de 2017. A investigação apontou que o esquema era centrado em contas poupança com altos valores depositados, mas pouca movimentação financeira. Após receber as informações do funcionário, os criminosos faziam retiradas das contas até que não restasse mais nada.

7. Empréstimos a fundo perdido

Também em setembro de 2017, a Operação Inimigo Oculto desarticulou um esquema que provocou um desvio de R$ 1 milhão da Caixa. Com senhas de funcionários do banco, os criminosos inseriam dados falsos no sistema, de modo que seus familiares e amigos pudessem fazer empréstimos sem que de fato tivessem comprovação de renda. Depois que os valores eram recebidos, o dinheiro era transferido ou sacado para que a Caixa não bloqueasse o empréstimo ao perceber as irregularidades.

8. Irregularidades no setor de TI

Funcionários da Caixa, empresários da área de Tecnologia da Informação (TI) e uma empresa de consultoria foram alvo da Operação Backbone, deflagrada em novembro do ano passado pela PF. A investigação revelou o desvio de recursos do banco por meio de contratos de prestação de serviços entre companhias de TI, contratadas pela Caixa, e a empresa de consultoria. Os contratos investigados somaram R$ 385 milhões.

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