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Onyx Loreonzoni está no centro de algumas das principais polêmicas do começo do governo. | Valter Campanato/Agência Brasil
Onyx Loreonzoni está no centro de algumas das principais polêmicas do começo do governo.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, divulgou em suas redes sociais no domingo (13) um vídeo em que diz ser “vítima de muitos ataques” em razão de seu posicionamento político e do que chama de “luta contra as esquerdas”. Entre as agressões que ele diz ter sido alvo, está a denúncia de que usou notas fiscais de uma empresa pertencente a um amigo para receber R$ 317 mil em verbas de gabinete da Câmara dos Deputados. “Os ataques e as calúnias não são só contra mim: têm o objetivo claro de fragilizar o governo. Quem ataca a mim, ao presidente Bolsonaro, ao doutor [Sergio] Moro [ministro da Justiça] e ao Paulo Guedes [ministro da Economia], não ataca apenas o governo: ataca o Brasil”, disse.

Apesar do tom de defesa da gestão e da crítica a “inimigos externos”, os primeiros dias de mandato Bolsonaro têm mostrado que Onyx precisa encarar controvérsias dentro da própria máquina governamental. O ministro permaneceu no foco de algumas das mais relevantes controvérsias registradas no começo da gestão, como o fatídico vaivém no aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF); a negativa, por parte do ministro General Heleno (ministro da Segurança Institucional) de que o governo planeja lançar um conjunto de medidas estratégicas e mesmo uma troca pública de farpas com o vice-presidente, General Mourão.

O vice de Bolsonaro, aliás, é um dos principais pontos de atrito dentro do governo com Onyx. As controvérsias entre eles começaram ainda antes da posse. Em entrevista à revista Época em novembro do ano passado, Mourão chamou Onyx de “parlamentar apagado”. No mês seguinte, Mourão falou à imprensa que Onyx teria que deixar o governo que se iniciaria se fosse comprovada “ilicitude” do então deputado no episódio em que ele recebeu – e reconheceu ter recebido – recursos via caixa 2 em uma campanha eleitoral.

Com o governo já em curso, as alfinetadas de Mourão para Onyx prosseguiram em curso. Após o ministro da Casa Civil anunciar uma demissão em massa como tentativa de “despetizar” a sua pasta, o vice disse que o ato poderia ter sido feito “com mais carinho”.

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A principal rusga pública de Onyx, porém, ficou com o ministro Paulo Guedes. Eles divergiram no debate sobre a elevação do IOF, mostraram opiniões diferentes quanto à reforma da Previdência e tiveram que selar a paz com uma troca de chocolates e uma inusitada visita de Onyx ao ministério de Guedes – por ser titular da pasta mais importante do governo, é raro que o chefe da Casa Civil saia de seus domínios.

Estreando como governista

Onyx Lorenzoni começou sua trajetória como deputado federal em 2003. Mesmo ano em que Luiz Inácio Lula da Silva tomava posse para inaugurar os 13 anos do PT no comando do Palácio do Planalto. Filiado ao DEM desde o início de sua carreira política, Onyx acabou se consagrando como uma das principais vozes da oposição, principalmente nos tempos de auge de popularidade de Lula, em que contestar o trabalho do PT no governo era tarefa para poucos.

São diversos os embates que Onyx travou com lideranças do PT (ou governistas de ocasião) nos tempos de Lula e Dilma Rousseff. “Naquele tempo não tinha espaço para proposição. Tinha espaço para o bom combate. E o bom combate político é quando a gente luta com convicção, com posicionamento pelas ideias que a gente acredita”, disse, em um vídeo de sua propaganda eleitoral na campanha de 2018.

Em um dos conflitos, mostrou sangue frio ao não reagir após ser chamado de canalha pelo então deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) no plenário da Câmara – o petista protestava contra uma provocação feita pelo DEM ao seu partido: um painel sobre o escândalo do mensalão instalado sorrateiramente em uma exposição que o PT montara sobre sua história.

Já depois do fim da era PT, foi sua vez de receber uma provocação. O então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), ao criticar Onyx por causa de uma proposta do democrata para combate à corrupção, declarou: “Antes de encerrar, eu queria dizer apenas que não houve aqui agressão ao relator da matéria na Câmara dos Deputados, ao Onyx Lorenzetti (sic). Parece nome de chuveiro, mas não é nome de chuveiro”.

À época, discutia-se no Congresso o pacote das medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério Público, que acabou desfigurado pelos parlamentares, sob protestos de Lorenzoni. O atual ministro da Casa Civil se esforçou pela aprovação de uma legislação mais rígida, o que acabou despertando olhares negativos de seus colegas de Parlamento, que o acusaram de populismo.

Ao lado de Bolsonaro mesmo contra o DEM

Onyx representa, na estrutura do governo federal, um dos núcleos que orbita em torno do presidente Bolsonaro – o núcleo “político”, composto por ele e por outros ministros com trajetória eleitoral, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura). Em outros polos estão o núcleo “econômico”, chefiado por Paulo Guedes, e o “militar”, encabeçado por Mourão, Heleno e outros ministros.

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O comandante da Casa Civil foi confirmado como escolhido por Bolsonaro para o cargo em 11 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial. O apoio de Onyx a Bolsonaro, no entanto, surgiu antes, ainda em meados do primeiro semestre de 2018, quando os planos eleitorais do atual presidente ainda carregavam um bom grau de incerteza.

Para caminhar ao lado de Bolsonaro, Onyx acabou contrariando a orientação da direção nacional do seu partido, que apoiou no primeiro turno – ao menos no papel – a fracassada candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). Não à toa, sua nomeação para o ministério é rotineiramente citada como uma escolha pessoal do presidente Bolsonaro, não uma indicação do DEM.

Um ministro com “perfil resolutivo”

O deputado federal Efraim Filho (DEM-PB), que conviveu com Onyx por mais de uma década na Câmara, diz que o ministro “foi um visionário” ao aderir precocemente à campanha de Bolsonaro. “Num primeiro momento houve um desconforto [quando Onyx não seguiu o posicionamento do DEM]. Mas ele provou que estava certo. Conseguiu perceber a onda antes que ela batesse na praia. Quando a onda estoura na praia, é muito fácil, todo mundo consegue ver, difícil é pegar quando nasce”, destacou o parlamentar.

Efraim aponta que Onyx tem como uma de suas principais virtudes “o perfil resolutivo” e que isso pode ser a explicação para a elevação de temperatura nos incidentes que envolvem o comandante da Casa Civil. “Ele não é alguém que vai ficar formando grupos de trabalho, empurrando com a barriga as decisões. Ele é uma pessoa resolutiva e que gosta de apresentar soluções rápidas para os problemas que são postos”, disse. O deputado também acredita que Onyx é alguém que “se é voto vencido, consegue estender a mão e recuar”.

O enaltecimento a Onyx é endossado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “O Onyx tem sido um grande ministro. Tem sido responsável por organizar muita coisa, por disponibilizar aos demais ministros muita ajuda, com estrutura, com orientação. Eu só tenho elogios a ele”, disse.

Uma crítica: “Ele não está procurando as bancadas do Congresso”

Um deputado federal eleito pelo PSL, entretanto, vai na mão oposta. Segundo ele, Onyx tem falhado ao dialogar com os futuros integrantes do Congresso. “Ele não está procurando as bancadas. Vai atrás de um ou outro, privilegiando pessoas específicas”, declarou. Esse mesmo futuro parlamentar acredita também que existe um certo grau de oportunismo na relação entre Onyx e o presidente Jair Bolsonaro. “Por muito tempo, o Onyx considerou o Bolsonaro como alguém que não merecia respeito. Só passou a levar Bolsonaro a sério quando viu que ele tinha chances de ganhar a eleição.”

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