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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Vem aí o maior crescimento econômico dos últimos seis anos. Mas não será um espetáculo. Também não vai provocar grande melhora no mercado de trabalho. Tem mais: para garantir esse avanço, será preciso aprovar a reforma da Previdência, ou no mínimo deixá-la muito bem encaminhada. É o que temos para 2019.

(Ah: antes de continuar, esteja ciente de que em oito dos últimos dez anos os especialistas superestimaram o desempenho da economia.)

Comecemos pela parte boa. Segundo o Banco Central, a mediana das previsões de consultorias, bancos e corretoras aponta para um aumento de 2,55% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, o maior desde 2013. Em outros tempos, uma taxa dessas seria recebida com desdém. Hoje é muito bem-vinda. O país, afinal, vem de dois anos de forte recessão seguidos por outros dois de baixo crescimento, pouco acima de 1%.

Os dados mais recentes reiteram que a atividade econômica mais patina do que avança. Mas, sob outros aspectos, Jair Bolsonaro vai herdar um quadro favorável.

“Está fácil crescer. A inflação está quieta e há muita capacidade ociosa, com gente desempregada e máquina parada. Então o crescimento econômico não será, tão cedo, um fator gerador de inflação. E o Banco Central não será, tão cedo, constrangido a elevar os juros”, avalia Fernando Sampaio, diretor de macroeconomia da LCA Consultores.

A taxa básica de juros (Selic) está em 6,5% ao ano, o menor nível da história, e as perspectivas são de que suba apenas no segundo semestre do ano que vem – se subir. “Nessas condições, o mercado de crédito pode avançar mais rápido”, diz Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.

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Outro ponto favorável é que muitas empresas e famílias já se livraram das dívidas mais pesadas e podem pegar dinheiro emprestado para voltar a investir e consumir. “As famílias já passaram por esse processo de desalavancagem, ajudadas por facilidades como o saque do FGTS de contas inativas e do PIS/Pasep, e as empresas estão concluindo”, diz o economista-chefe da consultoria Parallaxis, Rafael Leão.

Parte dessas condições, diga-se, já existe há algum tempo: o juro básico está em 6,5% ao ano desde março e a inflação já esteve abaixo do nível atual. Era para o país estar crescendo mais. Tanto que, no início do ano, os departamentos econômicos projetavam uma alta de 2,7% no PIB. O que mudou tudo foi a greve dos caminhoneiros, em maio. Hoje a percepção é de que 2018 vai fechar com algo próximo de 1,3%.

Engana-se quem pensa que a melhora esperada para 2019 se deva à posse de Bolsonaro. As previsões para o avanço do PIB no que vem já foram até maiores, chegando a 3% em média, mas também pioraram na esteira da paralisação dos transportadores. Estão próximas de 2,5% desde junho e mal se moveram após a vitória do ex-militar.

E esse velho palpite não tem a ver só com a produção econômica. É um tanto baseado, desde bem antes das eleições, na esperança de que o futuro governo faça reformas que sinalizem uma contenção no aumento da dívida pública. “Já estava embutida, nesse cenário [de alta de 2,5% no PIB em 2019], a eleição de alguém pró-mercado, que promova uma melhora nas contas públicas”, diz Pedro Paulo Silveira, economista da corretora Nova Futura.

É aqui que entra a reforma da Previdência. E é aqui que as coisas complicam.

A explosão da dívida pública, que mantém credores desconfiados da capacidade do país de honrar seus compromissos, é reflexo do persistente rombo das contas federais, que estão no vermelho desde 2014. E esse rombo é, em grande parte, resultado do déficit da Previdência. Assim, não há como equilibrar as finanças públicas e conter a dívida sem limitar as despesas com aposentados e pensionistas, que têm regras incompatíveis com o envelhecimento da população e sobem além da inflação, do PIB e da arrecadação. Elas já consomem mais da metade dos gastos primários (não relacionados à dívida) e a cada ano deixam menos espaço para investimentos em outras políticas públicas.

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Acontece que esse raciocínio não convence boa parte da população nem sensibilizou o Congresso nas tentativas do governo Temer de mexer no sistema previdenciário. Mas, para boa parte dos economistas, a reforma vai se impor cedo ou tarde, porque sem ela o país ficará ingovernável. É por isso que ano após ano ela continua aparecendo no chamado “cenário-base” das planilhas.

Todos os economistas consultados pela Gazeta do Povo contam com a aprovação da reforma da Previdência em suas projeções para a evolução do PIB em 2019, que variam de 2% a 3%.

Que fique claro: nenhum deles acredita que a eventual mudança das regras de aposentadoria será capaz de gerar, logo no primeiro ou segundo ano de governo, uma grande economia de dinheiro a ser usado no abatimento da dívida ou em investimentos capazes de girar a economia. O efeito esperado da reforma no curto prazo é mais sobre a confiança, em especial a dos credores da dívida pública – até porque não é fácil encontrar cidadão entusiasmado com a possibilidade de se aposentar mais tarde e ganhando menos.

A tese é a seguinte. Com a certeza de que a trajetória do endividamento público ficará mais tranquila, os credores passam a exigir juros menores, ou pelo menos não exigir juros maiores, para continuar financiando o governo. Este, por sua vez, fica menos tentado a elevar impostos para bancar os gastos. A pressão sobre o dólar também perde força, mantendo os preços comportados. De resto, a economia toda fica mais previsível, o que facilita a vida de quem quer consumir, empregar, investir na produção. É dessa combinação de condicionantes que viria o empurrão para mover a roda.

Articulação política

Como o governo estará no início, munido do capital conferido por quase 58 milhões de votos, as condições políticas para a aprovação de uma reforma parecem boas. Mas as declarações de Bolsonaro sobre o tema são contraditórias, e o “superministro” da Economia, Paulo Guedes, não tem se esforçado para fazer amigos no Congresso.

Para Rafael Leão, da Parallaxis, há 60% de chances de um avanço do PIB entre 2% e 2,5% no ano que vem, desde que o governo não enfrente grande turbulência – inclusive vinda do exterior, onde há perspectiva de desaceleração de grandes economias – e aprove reformas fiscais, principalmente a da Previdência. E 40% de chances de um crescimento menor, fruto de dificuldades de articulação no Congresso e um eventual escândalo que leve o governo a adotar políticas populistas. Sem reforma, calcula o economista, o crescimento ficaria limitado a algo próximo de 1%.

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Fernando Sampaio, da LCA, vê como mais provável um aumento entre 2,5% e 3%, a depender da velocidade com que o Planalto se acertar com os parlamentares. Por outro lado, um cenário de desarranjo político – e de frustração da reforma – faria o PIB avançar 1%. Mas, para o economista, a probabilidade de isso ocorrer é menor, de 15%.

O Ministério da Fazenda também crê que o país só pode crescer 2,5% em 2019 se fizer reformas fiscais. Sem elas, a estimativa cai para 0,7%, segundo relatório entregue à equipe de transição.

Mercado de trabalho

A expectativa de dificuldades na articulação política – e, portanto, no avanço das reformas – levou a Rosenberg a reduzir ainda em setembro sua projeção para o aumento do PIB, de 3% para 2,8%, o que mantém a consultoria ligeiramente mais otimista que a média do mercado. Nem esse crescimento, no entanto, será capaz de provocar um grande aquecimento do mercado de trabalho.

A expectativa da Rosenberg é de que a taxa de desemprego recue de uma média estimada em 12,2% neste ano para 11,4% em 2019, cálculo semelhante ao da LCA, que trabalha com um índice de 11,6% no ano que vem. Quatro anos atrás, a desocupação era de 6,5%.

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“O emprego deve ter uma recuperação progressiva, mas lenta, pois ainda há muita capacidade produtiva a ser ocupada”, diz Sampaio. Segundo ele, a remuneração tende a crescer ainda mais devagar porque, com muita gente procurando trabalho, o empresário não precisa oferecer salários mais altos.

A LCA prevê 666 mil novos empregos com carteira assinada em 2019, ante 378 mil em 2018. A Parallaxis, por sua vez, estima 480 mil vagas formais em 2018 e perto de 1 milhão em 2019. Entre 2015 e 2017, mais de 3 milhões de postos com carteira assinada foram fechados no país.

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