• Carregando...
 | Nelson Almeida/AFP
| Foto: Nelson Almeida/AFP

Outro adolescente de 17 anos é suspeito de participar do planejamento do massacre na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), na quarta-feira (13), que resultou em dez mortos, segundo o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes.

Ele afirmou, nesta quinta-feira (14), que a polícia pediu à Justiça a apreensão do adolescente. “Nós temos dados que nos fazem crer que esse indivíduo participou, pelo menos, da fase de planejamento”, disse.

O ataque foi realizado por Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos. Ambos eram ex-alunos da escola em Suzano e se mataram após o ataque. Cinco estudantes e duas funcionárias foram mortos. Outras 11 pessoas ficaram feridas. Antes de cometerem esses assassinatos, eles mataram o dono de um lava jato, tio do mais novo.

LEIA TAMBÉM:  A tragédia de Suzano pode inspirar outras pessoas a fazer o mesmo?

O crime teria sido planejado há cerca de um ano e meio e quando a polícia entrou na escola, suspeita-se que Guilherme matou Luiz Henrique, e cometeu suicídio.

Segundo a polícia, o novo suspeito era colega de classe de Guilherme. A investigação chegou até ele por indicação de colegas de classe, que afirmaram que e ele e Guilherme eram muito próximos e, dias antes do massacre, o suspeito havia manifestado o desejo de entrar na escola atirando.

Homenagens de anônimos no portão da Escola Raul Brasil: luto no município.Foto: Miguel Schincariol/AFP

Os policiais acreditam que o plano seria executado pelos dois, mas, por motivos ainda desconhecidos, o adolescente, que teve a apreensão pedida, acabou excluído da ação. Isso também revela que Guilherme seria o líder. Fontes disse que a investigação vai tentar descobrir, agora, porque o novo suspeito não participou do ataque. “Ele não revelou esse motivo, mas nós vamos tentar descobrir”, disse o delegado-geral.

NOSSA OPINIÃO: A tragédia de Suzano e as famílias fragmentadas

Os policiais acreditam que Guilherme, já sem o comparsa, teria procurado Luiz Henrique para que este pudesse financiar o plano. Como tinha emprego regular, ele teria recursos para comprar as armas e alugar o veículo usado no dia dos assassinatos.

A polícia também apura se o mais velho tinha algum déficit cognitivo. “A gente entende que a personalidade dele não era tão firme a ponto de impedir ou deixar de ingressar na execução de um crime desse, principalmente liderado por uma pessoa que era pelo menos sete anos mais nova do que ele.”

Inspiração em Columbine

Segundo o delegado, os assassinos se inspiraram no massacre de Columbine, ocorrido em 1999, nos Estados Unidos, mas queriam ser ainda mais cruéis. “Eles queriam demonstrar que podiam agir como aconteceu em Columbine, com crueldade e com caráter trágico, para que eles fossem mais reconhecidos do que aqueles”, disse Fontes.

LEIA TAMBÉM: Investigados soltos, CPI no Congresso e 203 mortes: as últimas da tragédia em Brumadinho

A dupla usou um revólver, carregadores, uma besta, um machado, uma machadinha, coquetéis molotov e granadas de fumaça. As roupas usadas seriam inspiradas no jogo de videogame Call of Duty, episódio Ghosts, um jogo de tiro em primeira pessoa.

O crime ocorreu em meio ao debate sobre posse de armas e chama a atenção por ter sido cometido em dupla e longamente planejado. Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro lamentou o atentado. Nesta quinta, em transmissão pela internet, disse que o atentado era uma barbaridade e que não é possível entender como os criminosos chegaram ao ponto de terem cometido o crime.

Sob emoção e temporal, velório coletivo atrai 15 mil pessoas

O velório e o enterro de seis das oito vítimas do massacre na escola Raul Brasil, em Suzano, foram marcados pela comoção de 15 mil pessoas que fizeram fila para prestar homenagens a quatro alunos e duas funcionárias nesta quinta-feira. O velório coletivo começou antes das 7 horas entre abraços, choros e sussurros em um ginásio poliesportivo, no Parque Max Feffer, a 1 km do colégio.

Nelson Almeida/AFP

Foi difícil organizar as filas de quem não era da família. Havia uma grade isolando os parentes -os únicos próximos aos corpos. Em choque, familiares chegaram a passar mal e foram atendidos no local.

Foram velados os estudantes Cleiton Antonio Ribeiro, 17, Caio Oliveira, 15, Samuel Melquiades Silva de Oliveira, 16, e Kaio Lucas da Costa Limeira, 15, a inspetora Eliana Regina de Oliveira Xavier, 38 e a coordenadora pedagógica Marilena Ferreira Umezu, 59. Marilena deve ser sepultada só neste sábado (16), já que a família aguarda a chegada de seu filho, que vive na China.

LEIA TAMBÉM:  Alunos, funcionárias, empresário... quem são as vítimas do massacre na Escola Raul Brasil

Pelo ginásio passaram o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, e o prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi.

Em dois momentos, o silêncio do luto foi quebrado por preces e cânticos religiosos, em cultos ecumênicos realizados pelo pároco da igreja São Sebastião, Cláudio Taciano, pelo bispo Dom Luís Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes, e pelo bispo Júlio Vertulo, da Igreja Mundial Cristã.

Taciano criticou a violência. “Salta aos olhos a agressividade, o revanchismo, as ofensas, não só nas redes sociais.” Ele pediu por paz. “Não só para esta escola, mas para a cidade, para o Brasil.”

A estudante Sofhia Cristal Reis, 16, foi ao velório do amigo Caio porque “de alguma forma precisava estar com ele”. “Um dia ele [Caio] está lá, sorridente com a gente, e no outro está deitado num caixão”, afirmou. Este é o primeiro ano de José Victor Júnior, 15, na Raul Brasil. Ele se preparava para ir à aula na tarde de quarta (13) quando soube do ataque. “Fiquei desesperado porque meus primos estavam na escola.”

Nelson Almeida/AFP

Os parentes saíram ilesos, mas o crime levou “a tia” – a inspetora Eliana. “Peguei intimidade com ela muito rápido.” Ele não sabe o que vai ser da segunda-feira (18) que se avizinha. “A gente viu onde cada corpo estava, vamos lembrar toda vez que olharmos.”

Tia de Eliana, a professora Rosana da Silva, 55, aproveitou o velório para protestar contra a flexibilização da posse de armas. Ela e mais dois colegas empunhavam cartazes com os dizeres “queremos paz e segurança nas escolas”. “Ter mais armas só vai gerar mais violência”, disse.

LEIA TAMBÉM: De Lula a Flávio Bolsonaro, políticos transformam ataque em Suzano em palanque

Sobre o caixão de Samuel Melquíades repousava a bandeira do Clube Desbravadores, espécie de grupo de escoteiros ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Sua equipe, Soldados da Fé, foi a caráter ao velório --calça verde, blusa branca com distintivos, lenço amarelo no pescoço. “Foi uma forma de homenagem”, disse Cassiano Miranda, 24.

Os Desbravadores levantaram e sacudiram seus lenços, cantando o hino do grupo, enquanto o caixão de Samuel ia à cova, sob um temporal no cemitério municipal São Sebastião -onde os corpos chegaram sob forte esquema de segurança, pouco antes das 16h.

Outras duas famílias optaram por velórios separados. Evangélicos, os pais de Douglas Murilo Celestino, 16, velaram seu corpo na igreja Assembleia de Deus, em Suzano. Ele foi sepultado no cemitério Jardim Colina dos Ypês. No mesmo local foi velado e enterrado o empresário Jorge Antonio Moraes, tio do atirador Guilherme Monteiro, 17.

Não haverá aulas na rede municipal de Suzano nesta sexta (15). Na próxima semana, a Raul Brasil estará aberta para alunos e professores, apenas para atendimentos psicológicos e rodas de conversa. As famílias deverão receber apoio de dois psiquiatras e um psicólogo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]