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Simone Tebet (em pé) fala com Renan (de costas): candidatura dela foi anunciada no mesmo dia em que ele disse que não pretende concorrer. | Marcos Oliveira/Agência Senado
Simone Tebet (em pé) fala com Renan (de costas): candidatura dela foi anunciada no mesmo dia em que ele disse que não pretende concorrer.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou, na tarde desta segunda-feira (21), que não pretende concorrer à Presidência do Senado. Horas depois, a colega de partido Simone Tebet (MDB-MS) confirmou que é candidata ao cargo. A mobilização dos dois parlamentares abre caminho para que o MDB continue no comando da Casa.

A eleição ocorre no dia 1.º de fevereiro, mesma data em que nos novos senadores tomam posse. Embora a votação seja livre – e todo parlamentar tenha o direito de se candidatar –, há uma tradição de que a maior bancada fique com a Presidência. Mesmo tendo perdido cadeiras nas eleições de 2018, o MDB, com 12 senadores, prosseguirá como o maior partido da Casa.

Renan Calheiros havia se apresentado como candidato, mas a rejeição em torno do seu nome, por causa de acusações que pairam sobre ele, inibiu a formação de um consenso. “A população deu um recado para a mudança do quadro que está aí. Há uma movimentação forte da sociedade contra ele”, declarou o senador eleito Izalci (PSDB-DF).

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Nesse cenário, Simone surge como um nome que pode aliar a força do MDB ao desejo popular de renovação. Embora seja uma “herdeira” política – é filha de Ramez Tebet, que presidiu o Senado entre 2001 e 2003 – não tem contra si graves acusações de corrupção. Além disso, colabora o fato de ser mulher: tanto o Senado quanto a Câmara jamais foram presididos por uma parlamentar. “Há um clamor por renovação. Por isso, coloco a minha candidatura na bancada”, disse Simone Tebet, em nota à imprensa.

O MDB comanda o Senado desde 2007. O eleito naquele ano foi Garibaldi Alves (RN), depois sucedido por José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL) e pelo comandante atual, Eunício Oliveira (CE). Na última votação, em 2017, Eunício ganhou a disputa sem dificuldades: fez 61 votos contra 10 do seu oponente, José Medeiros (Podemos-MT).

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Quem serão os adversários?

Para vencer a eleição, Simone terá que derrotar uma gama ampla de candidatos. Alvaro Dias (Podemos-PR), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Espiridião Amin (PP-SC), Major Olímpio (PSL-SP), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) têm se apresentado para a disputa. Há ainda a possibilidade de que o bloco de esquerda, de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, capitaneado por Cid Gomes (PDT-CE), coloque um nome como opção.

Os partidos prometem uma “maratona” de reuniões para os próximos dias, para chegarem a uma definição sobre como se posicionarão na eleição interna. O próprio MDB havia agendado uma reunião para o dia 29.

O PSL, legenda do presidente Bolsonaro, se reúne nesta terça-feira (22). O principal tema da pauta é a definição sobre a manutenção da candidatura de Major Olímpio ou o apoio a outro nome. “A candidatura do Major Olímpio é uma excelente ideia, mas eu penso também que a gente pode acabar optando por outro candidato, como Tasso [Jereissati] ou Alvaro Dias, ou mesmo outro nome que possa somar”, apontou a senadora eleita Selma Arruda (PSL-MT).

No PSD, que terá sete senadores a partir de fevereiro, o quadro também é de incerteza. “Vamos fazer uma reunião no dia 29 para tomar posição em relação às eleições. Decidimos conversar para ver se é possível fechar um voto conjunto do partido, ou se cada senador se posicionará individualmente”, afirmou Lasier Martins (RS). O parlamentar disse que tem simpatia por quatro candidaturas: as de Simone Tebet, Alvaro Dias, Tasso Jereissati, e Davi Alcolumbre.

Oposição de esquerda articula nome sem o PT

O senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) tem liderado uma mobilização para a criação de um bloco oposicionista a Bolsonaro que não inclua o PT. Cid e seu irmão, o presidenciável derrotado Cid Gomes (PDT), não têm poupado críticas ao partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No sábado (19), Cid compartilhou nas redes sociais notícias negativas contra Lula e contra o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) com a legenda: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Apesar das mobilizações de Cid, o senador Paulo Paim (PT-RS) defende a união das forças contrárias a Bolsonaro na disputa pela presidência do Senado. “Quanto mais dividida, mais fraca a oposição é. Por isso eu considero boa ideia dialogar com os demais partidos oposicionistas”, disse. Segundo Paim, o PT ainda não definiu sua postura na votação, e também passará por uma reunião para resolver a orientação aos parlamentares.

Senadores apostam que caso Queiroz não vai interferir na eleição

Um dos parlamentares que tomará posse e votará na eleição do dia 1.º é Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República. O nome dele está no centro do debate político nas últimas semanas por causa de movimentações atípicas em sua conta corrente e na de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

No domingo (20), Flávio disse que os 48 depósitos de R$ 2 mil em dinheiro vivo feitos em sua conta derivaram da venda de um apartamento. O comprador do imóvel, Fábio Guerra, confirmou na segunda-feira (21) que pagou em dinheiro uma quantia próxima de R$ 100 ao filho do presidente. Mas, logo depois, reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, mostrou que dados da escritura do imóvel divergem das explicações dadas por Flávio Bolsonaro.

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Apesar de negativas de líderes do governo Bolsonaro, como o vice-presidente General Mourão, o assunto tem afetado a imagem do presidente da República. Mas a avaliação de senadores governistas e oposicionistas é de que a questão não deve interferir na disputa para a presidência do Senado.“Isso é uma questão pessoal dele. Não chega até o debate do Senado”, disse Paim. “Não afeta as discussões, principalmente porque ele não é candidato”, declarou o tucano Izalci. “Não acho que isso prejudica a votação no Senado e nem o governo Bolsonaro. Além disso, como juíza, em acostumei a não formar opiniões antes de conhecer o caso na íntegra”, destacou a senadora eleita Selma Arruda (PSL-MT).

A posição de Bolsonaro sobre a eleição

Polêmicas com o filho à parte, Jair Bolsonaro declarou publicamente que não iria atuar para que a eleição do Senado tomasse um rumo mais favorável ao Palácio do Planalto. O discurso, tanto para a Câmara quanto para o Senado, é de respeito à independência dos poderes.

“Nós temos que esperar um presidente [do Senado] que não tranque as pautas que são necessárias para a retomada do desenvolvimento do país. Nós precisamos aprovar algumas reformas que são urgentes. Essa é a nossa preocupação”, afirmou Selma Arruda, do PSL.

Apesar do discurso, Bolsonaro perguntou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se o senador Fernando Collor (PTC-AL) seria candidato à presidência do Senado. O questionamento foi feito por meio de um bilhete que Bolsonaro passou a Maia no dia 11, durante uma cerimônia na sede do Ministério Público Federal.

Além disso, em dezembro, Flávio Bolsonaro começou a articular um bloco de oposição a Renan na eleição para o comando do Senado.

Votação será fechada

Após idas e vindas no Judiciário, a eleição para o Senado seguirá o regimento da Casa e terá voto secreto. O senador Lasier Martins apresentou no Supremo Tribunal Federal (STF), ainda em 2018, um pedido para que a votação fosse aberta, e o ministro Marco Aurélio Mello proferiu uma liminar indicando a votação sem sigilo. Mas a liminar foi posteriormente derrubada pelo presidente da Corte, Dias Toffoli. Nos bastidores, a percepção é de que o voto fechado favoreceria Renan Calheiros, pois muitos senadores não teriam receio em votar nele de forma sigiloso, mas não fariam isso de forma pública para não se associar a um político investigado por corrupção.

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A votação aberta teve também entre os apoiadores o candidato Alvaro Dias. Em um vídeo que divulgou no seu perfil no Twitter, o parlamentar afirmou que “quem elege o presidente do Senado é você”, numa referência aos espectadores do vídeo, e pediu mobilização dos eleitores para o tema. Na mão oposta, Cid Gomes disse, em uma entrevista ao site Congresso em Foco, que o regimento da Casa deveria ser respeitado e que a quebra do sigilo na votação de 2019 seria “casuísmo”.

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