O número de reuniões do presidente Michel Temer com o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a quem a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está subordinada, disparou desde que a mais recente crise política foi deflagrada, segundo reportagem da revista Veja.
Coincidentemente, a Abin foi acusada no último dia 9 de espionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, a mando do presidente da República. O objetivo seria encontrar algum fato que constrangesse o magistrado, responsável pelo inquérito que apura supostos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça no STF. Em nota oficial, o Palácio do Planalto negou a denúncia, feita pela própria Veja. O próprio ministro do GSI refutou que a estrutura da Abin tenha sido utilizada para esse fim.
Segundo a reportagem, entre janeiro e abril deste ano, Temer e Etchegoyen se encontraram três vezes – menos de uma vez por mês. As reuniões deixaram de ser esparsas a partir de 17 de maio, quando estourou a delação premiada de Joesley Batista, sócio da JBS, que fez acusações contra o presidente da República. Neste mês foram sete encontros – seis deles após o escândalo da JBS. E na primeira semana de junho, mais quatro.
A frequência dos encontros prova que o chefe da Abin passou mesmo a integrar o núcleo duro de Temer. Ele se somou ao novo ministro da Justiça, Torquato Jardim; ao ministro da Defesa, Raul Jungmann; ao ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy ; e ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, além dos “fieis escudeiros” Moreira Franco, ministro da Secretaria Geral da Presidência, e Eliseu Padilha, ministro-chefe de Casa Civil.
De acordo com o portal de notícias O Antagonista, o ministro do GSI foi o responsável pela indicação de Carlos Alberto dos Santos Cruz para a Secretaria de Segurança Pública do Ministério da Justiça e agora quer influenciar na escolha do novo diretor-geral da Polícia Federal. O atual chefe da PF, Leandro Daiello, está balançando no cargo desde que Jardim assumiu o comando da Justiça. Etchegoyen também é amigo de longa data do atual comandante do Exército, Eduardo da Costa Villas Bôas.
Três gerações de militares
O general gaúcho Sérgio Westphalen Etchegoyen, de 64 anos, assumiu a chefia do Gabinete de Segurança Institucional em maio de 2016, após o afastamento da presidente Dilma Rousseff em meio ao processo de impeachment. Natural de Cruz Alta (RS), pertence à família com longa tradição na carreira militar – são três gerações.
É filho do general Leo Guedes Etchegoyen, morto em 2003, que foi incluído na lista de 377 agentes do Estado considerados responsáveis por crimes na época da ditadura pela Comissão Nacional da Verdade, em relatório produzido em 2014. É também neto de Alcides Gonçalves Etchegoyen, que foi chefe da polícia do Distrito Federal durante o Estado Novo (1937-1945) do ditador Getúlio Vargas, e sobrinho de Cyro Etchegoyen, que foi chefe do Centro de Informações do Exército (CIE) durante a ditadura. Cyro foi outro militar da família incluído na lista elaborada pela Comissão Nacional da Verdade.
Sérgio se formou oficial na Academia Militar das Agulhas Negras em 1971 e ao longo da carreira comandou a Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas, de 1993 a 1995, em Cruz Alta (RS); a 4.ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, de 2005 e 2006, em Dourados (MS); a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, de 2007 a 2009, no Rio de Janeiro; e a 3.ª Divisão de Exército – Divisão Encouraçada, de 2011 a 2012, em Santa Maria (RS).
Em 2012, foi chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército, em Brasília, e antes de assumir a GSI, ocupava o posto de chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, coordenando a atuação operacional e a política estratégica dos militares em todo o país
Dentre a experiência internacional como militar, atuou na Missão de Verificação da ONU em El Salvador, entre 1991 e 1992, e foi chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington (EUA), de 2001 a 2003.
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