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Membros da polícia e das forças armadas participam de uma operação para combater traficantes de drogas fortemente armados na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Brasil, nesta sexta-feira, 22 de setembro de 2017. | MAURO PIMENTEL/
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Membros da polícia e das forças armadas participam de uma operação para combater traficantes de drogas fortemente armados na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Brasil, nesta sexta-feira, 22 de setembro de 2017.| Foto: MAURO PIMENTEL/ AFP

Atualizada às 19 horas de 23 de setembro de 2017.

O cerco realizado pelas Forças Armadas não interrompeu a troca de tiros na favela da Rocinha, zona sul do Rio, neste sábado (23). Disparos foram registrados na madrugada e no início da tarde na comunidade, que há uma semana é palco de conflito de traficantes.

Leia mais: Entenda a briga entre facções na favela da Rocinha

Confrontos, com três mortes, também ocorreram à tarde em locais do outro lado da Floresta da Tijuca, que circunda a Rocinha e é usada pelos bandidos como esconderijo e rota de fuga.

A Polícia Militar trocou tiros com suspeitos em pontos do Alto da Boa Vista, Tijuca e Santa Teresa. Nos dois primeiros casos, a Polícia Civil confirmou a suspeita de vínculo com os conflitos na Rocinha.

No Alto da Boa Vista, dois homens foram mortos e dois, presos, segundo a Polícia Civil. Foram apreendidos dois fuzis. Uma criança de 13 anos foi baleada e levada para o Hospital Souza Aguiar.

Na Tijuca, uma pessoa foi morta em confronto com a PM e outra, presa.

O Parque Nacional da Tijuca é o principal ponto de referência da cidade, definindo os bairros da zona sul, norte e oeste da capital. Com 4.200 hectares, frequentemente sua área é usada como esconderijo e rota de fuga das quadrilhas de traficantes.

Quatro homens foram presos pelas Forças Armadas na madrugada de sábado (23) ao tentar fugir da Rocinha fazendo um taxista como refém.

O general Mauro Sinott afirmou que não há prazo para a saída das Forças Armadas do entorno da Rocinha. Os militares estão no local desde sexta-feira (22).

“Os resultados dessa madrugada mostram que estamos no caminho certo”, disse o oficial.

O secretário de Segurança, Roberto Sá, declarou que o objetivo da polícia é fazer “prisões sem confronto”. Ele se referia à possibilidade do traficante Rogério Avelino, o Rogério 157 se entregar - negociação não confirmada pelas autoridades. “Estamos mantendo a região estável. Mas ainda estamos fazendo buscas na mata”, disse Sá.

Na madrugada, um novo tiroteio já tinha sido ouvido na favela, após uma noite aparentemente tranquila e depois de o ministro da Defesa, Raul Jungmann, dizer que a favela estava “pacificada”.

Depois, novos disparos ocorreram na comunidade por volta das 13h deste sábado (23). Os tiros, que aparentemente ocorriam na parte alta da Rocinha, duraram cerca de dez minutos, e obrigaram militares e jornalistas a se abrigarem na 11ª delegacia, que fica no pé da favela.

Os militares foram destacados para atuar por tempo indeterminado no patrulhamento dos acessos à comunidade — parte deles chegou a entrar em pontos da Rocinha considerados estratégicos. O contingente de 950 militares foi anunciado pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, depois de semana de troca de farpas com a gestão Luiz Fernando Pezão (PMDB) — e críticas à falta de ações conjuntas contra a violência. 

Apreensão de fuzis e prisão de suspeitos

Na manhã deste sábado (23), a Polícia Militar informou a apreensão pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) de cinco fuzis. As armas foram apreendidas após criminosos em um táxi entrarem em confronto com os policiais. 

Homens armados tentaram romper bloqueio do cerco estabelecido pelas Forças Armadas na comunidade, nas proximidades da rua General Olímpio Mourão Filho, por volta das 4h30. O Exército prendeu cinco suspeitos que estavam no veículo, um Renault Symbol, e apreendeu um fuzil AK47 e quatro carregadores. 

Uma hora depois, os relatos de confrontos cessaram. A estrada Lagoa-Barra e o túnel Zuzu Angel foram liberados.

Tiroteios

Antes disso, por volta das 2h30, uma troca de tiros foi registrada na comunidade Dona Marta, em Botafogo, zona sul da capital fluminense. Segundo a rádio CBN, policiais foram recebidos a tiros ao se aproximarem de um baile funk. O tiroteio teria durado cerca de 30 minutos. 

Na sexta-feira (22), as trocas de tiros levaram a polícia a fechar, por quatro horas, a autoestrada Lagoa-Barra, principal via de ligação entre as zonas sul e oeste da cidade, onde está sendo realizado o Rock in Rio. 

Houve trocas de tiros também em ao menos outras sete comunidades do Rio. A onda de violência gerou uma série de boatos e espalhou a sensação de insegurança pela população, com fechamento de escolas, postos de saúde e comércio. 

Após operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Rocinha de manhã, para buscar suspeitos de participar da guerra entre facções, houve confronto. 

Granada e morador hospitalizado

Às 8h de sexta, um grupo ateou fogo em um ônibus na avenida Niemeyer, em São Conrado. Uma granada foi lançada em direção a um carro policial, mas o artefato não explodiu. Luciano Monteiro Marques, 41, morador da comunidade, foi baleado e hospitalizado. 

Com o agravamento da situação, o governo do Rio decidiu pedir a ajuda para as Forças Armadas cercarem a Rocinha, liberando a polícia para atuar dentro da favela. O reforço começou a chegar às 15h30, com 14 blindados. 

A Polícia Civil também decidiu entrar com pedido no plantão judiciário de mandados coletivos de busca e apreensão para regiões da favela. O objetivo é que os policiais possam entrar em casas da Rocinha com respaldo judicial. 

A medida, que é criticada por órgãos de defesa dos direitos humanos, já foi utilizada na favela do Jacarezinho, zona norte, em agosto. 

O secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, disse que a topografia da região e as armas pesadas dos criminosos dificultavam a ação policial, mas evitou demonstrar alarmismo.

“O Rio não está em guerra. O Rio tem uma situação de violência urbana difícil, como no resto do Brasil.” 

Guerra de facções

A Rocinha enfrenta guerra entre facções pelo controle do tráfico desde domingo (17). A guerra pelo controle da Rocinha envolve os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso em 2010, e seu sucessor no comando, Rogério Avelino, o Rogério 157

Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério, que passou a cobrar os moradores por serviços como água e mototáxi. Determinou a invasão de dentro de presídio federal em Rondônia, com apoio de criminosos da facção ADA (Amigo dos Amigos), a segunda maior do Rio. Rogério foi reforçado por bandidos do CV (Comando Vermelho)

Na quinta, Pezão e o ministro Jungmann haviam divulgado um acerto para retomar a ação das Forças Armadas, após divergências sobre que papel as tropas teriam. 

“Por que não mandaram toda essa gente no domingo? Agora todo mundo já se escondeu ou foi embora. Essa gente fardada aqui embaixo só serve pra televisão”, questionou um morador. 

A polícia indiciou 11 suspeitos de participar da invasão de domingo. Nesta sexta, um homem se entregou à Polícia Federal e foi levado para depor — Edson Antônio Fraga, o Dançarino, era alvo de três mandados de prisão. A atuação do Estado foi criticada pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Repercussão internacional

O confronto entre traficantes e policiais militares no Rio de Janeiro foi destaque em diversos veículos da imprensa internacional. 

O jornal inglês The Guardian destaca em sua manchete sobre o assunto o retorno do Exército à maior favela do Rio em meio ao confronto. "Após quase uma semana de intensos tiroteios entre traficantes rivais e a polícia, o Exército do Brasil foi acionado para cercar a extensa favela da Rocinha no Rio de Janeiro".

Segundo relata o Guardian, "a violência agravou uma sensação de insegurança no Rio". O jornal destaca que o governo do Estado "está quebrado e tem atrasado os salários da polícia" e que "o ex-governador Sérgio Cabral está preso e acabou de receber uma sentença de 45 anos por corrupção, lavagem de dinheiro e agressões".

O diário argentino Clarín descreve a chegada dos 950 soldados à Rocinha enviados pelo Ministério da Defesa brasileiro. "Uma longa fila de soldados, transportando metralhadoras, rifles e granadas, moveu-se com os rostos cobertos pela entrada principal da comunidade da Rocinha", seguidos por jornalistas e fotógrafos.

"Embora pareça, não é uma cena de guerra produzida para um filme. Isso acontece na noite desta sexta-feira, 22 de setembro, a cerca de 500 metros de um dos bairros mais luxuosos do Rio de Janeiro: São Corrado", relata o Clarín.

A versão brasileira do jornal espanhol El País afirma que o sexto dia de violentos confrontos na favela causa a interdição da principal via entre as zonas sul e oeste da capital fluminense. "Tiroteios semeiam caos e Exército tenta cercar Rocinha" destaca o El País no título da reportagem.

O jornal americano The New York Times reproduziu reportagens das agências de notícias Reuters e Associated Press destacando que a violência cresceu em várias áreas do Rio durante a semana, levando as autoridades brasileiras a fechar estradas, escolas e a pedir a intervenção do Exército.

"A violência na Rocinha é mais um sinal do retrocesso desde o lançamento de um programa de 'pacificação' em 2008 para reduzir a violência, pressionando traficantes de drogas e estabelecendo postos permanentes em mais de mil favelas da cidade", afirma texto da Reuters reproduzido pelo The New York Times.

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