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| Foto: Renan Olaz/CMRJ

O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), na noite desta quarta-feira (14) pode estar ligado à sua militância política. Nascida no Complexo da Maré, conjunto de favelas da zona norte do Rio, Marielle, de 38 anos, tinha sua atuação pautada pela defesa de negros e pobres e denunciava a violência contra essa população. O crime, que vitimou também o motorista que a levava, Anderson Pedro Gomes, mobilizou o governo federal: o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, telefonou para o interventor federal no Rio, general Walter Braga Netto, e colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação.

Há oito dias, Marielle, que acompanhava na condição de vereadora a intervenção federal, como forma de coibir abusos das Forças Armadas e da polícia a moradores de comunidades, recebeu denúncias envolvendo PMs que patrulham a Favela de Acari, na zona norte do Rio. Moradores contaram, na primeira reunião do Observatório da Intervenção, no Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, que dois homens foram assassinados por policiais e tiveram os corpos jogados num valão. Segundo estes moradores, a PM vem se sentindo “com licença para matar” por conta da intervenção.

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A vereadora compartilhou a notícia em seu perfil no Facebook, com a inscrição ‘Somos todos Acari, parem de nos matar”. “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, dizia a mensagem, que conclamava os internautas a reverberarem a denúncia.

Repercussão

O deputado estadual do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PSOL) disse no final da noite de quarta que o crime tem “características nítidas” de execução. Segundo o deputado, porém, nem parentes nem amigos tinham informações de que Marielle estivesse sofrendo ameaças. “As características são muito nítidas de execução. Queremos isso apurado o mais rápido possível”, disse Freixo ainda no local do crime.

A advogada criminalista Maíra Fernandes, membro do Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, também acredita na hipótese de execução. “Marielle era a nossa esperança na política”, lamentou. “Eu a conheci há quase duas décadas: sempre nas mais importantes lutas, coerente, aguerrida, corajosa. Tínhamos muitos planos para ela. Esse seria o primeiro mandato de muitos! Tinha um caminho enorme pela frente. Não consigo acreditar. Acabo de ver as fotos e vejo que isso não foi assalto. Foi execução. É preciso descobrir quem fez isso e fazer justiça à Marielle.”

O sociólogo Renato Lima, diretor presidente do Fórum Brasileira de Segurança Pública, defendeu que a PF entre imediatamente na apuração do crime. “Estou absolutamente chocado, a morte de Marielle Franco é mais um sinal da banalização da violência que toma conta do país e que nos faz reféns do medo. O mínimo que se espera do interventor é uma apuração rigorosa e transparente do episódio. Não podemos aceitar que o caso não seja rapidamente esclarecido. O interventor tem diante de si um dos seus maiores desafios desde que a medida foi adotada, não deixar esta morte impune. Tudo indica que foi uma execução.”

O cientista social Luiz Eduardo Soares afirmou que a execução foi confirmada pela polícia, e lembrou do caso da juíza Patricia Acioli, assassinada por policiais em 2011 depois de condenar à prisão policiais ligados a milícias. “Mulher, negra, lutadora contra as desigualdades e a violência. Teve uma votação surpreendente, em 2016. Ela passou esta semana denunciando violações praticadas pela PM em Acari”, lembrou em seu perfil no Facebook. “A polícia confirma que foi execução.”

Também evitando dar declarações sobre a ação criminosa, Paulo Storani, antropólogo e ex-capitão da Polícia Militar, acredita que, tendo sido execução ou não, o caso não ficará impune. “Todas as hipóteses devem ser consideradas. A assessora que sobreviveu poderá esclarecer tudo. Dificilmente a verdade, seja qual for, ficará acobertada”.

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