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Bolsonaro foi a reunião informal na casa de Dias Toffoli acompanhado do desembargador Kassio Nunes Marques e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
Bolsonaro foi a reunião informal na casa de Dias Toffoli acompanhado do desembargador Kassio Nunes Marques e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.| Foto: Reprodução/CNN

A decisão de Jair Bolsonaro de indicar o desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu uma frente de críticas entre apoiadores do presidente, que esperavam a nomeação de um nome mais conservador para a vaga.

A bronca dos bolsonaristas, que já era grande na sexta-feira (2), aumentou ainda mais desde o último sábado (3), quando Bolsonaro foi a um jantar na casa do ministro Dias Toffoli, do STF, em que estavam presentes o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o indicado Kassio Nunes Marques.

A foto do abraço entre Toffoli e Bolsonaro correu as redes sociais. Uma onda de ataques fez com que a hashtag #Bolsonarotraidor permanecesse entre as mais comentadas do fim de semana.

Mesmo sem o uso da hashtag, bolsonaristas habituais lamentaram a indicação de Marques e citaram que Bolsonaro estaria descumprindo promessas de campanha. O empresário Winston Ling e o operador financeiro Leandro Ruschel, por exemplo, estiveram entre os que contestaram o presidente.

Uma postagem de outubro de 2018 do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi relembrada em tom irônico. No texto, o filho do presidente dizia que "votar em Haddad" na eleição presidencial daquele ano representaria "jogar no lixo a energia gasta no impeachment; sepultar a Lava Jato, desmerecer o trabalho/sacrifício d Sérgio Moro, PF e MPF; significa indultar Lula e permitir q sua quadrilha comande o Brasil; resgatar Marias (sic) do Rosário como ministra d Dtos.Hum".

Internautas disseram que de todos os quadros descritos por Eduardo, apenas a indicação de Maria do Rosário para o ministério ainda não aconteceu.

O dia seguinte após o sucesso da hashtag #Bolsonarotraidor, entretanto, não foi de significativas más notícias para o presidente. Bolsonaro ganhou na segunda-feira (5) uma forte sinalização de apoio de um dos grupos religiosos que mais contribui para a sua sustentação. Lideranças políticas, de diferentes correntes, pouco reverberaram a crítica dos aliados.

Malafaia sobe tom contra Bolsonaro, que recebe apoio da Universal e de Feliciano

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, divulgou um vídeo nesta segunda com duras críticas a Bolsonaro por conta da indicação de Kassio Nunes Marques. O líder religioso disse que apresentou ao presidente, ainda em setembro, uma lista com três nomes evangélicos para a Suprema Corte, que teriam a aprovação de outros pastores.

Mas, segundo Malafaia, o presidente teria dito a ele na ocasião que sua primeira indicação não seria de um jurista evangélico. O pastor diz no vídeo que não contestou Bolsonaro pela decisão e que, em um primeiro momento, também não foi contrário a Kassio Nunes Marques, por não conhecer o perfil do magistrado. Mas que passou a criticá-lo após conhecer suas posições sobre temas como aborto e "maioria conservadora".

Malafaia também disse que Bolsonaro tem se rebaixado ao se portar como "cabo eleitoral de um indicado ao STF". Nos últimos dias, Bolsonaro deu declarações em crítica a uma "autoridade do Rio de Janeiro" que havia ficado contrariada com a escolha de Marques. O presidente não citou nomes, mas a fala foi interpretada como uma indireta a Malafaia.

No vídeo, o pastor também diz que a lista com os três juristas foi construída com o apoio de "95% das lideranças evangélicas". Apesar da declaração do pastor, nesta segunda-feira (5), duas outras importantes forças do segmento evangélico se posicionaram a favor da escolha de Bolsonaro.

A Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo, publicou uma nota em seu site oficial em que diz que "a indicação do desembargador federal Kassio Nunes para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pode representar um acréscimo à nossa suprema corte, sempre no caminho do desejável equilíbrio que toda a sociedade brasileira demanda e espera do Poder Judiciário".

"Os bispos, pastores e os sete milhões de fiéis e simpatizantes da Universal no Brasil têm a expectativa de que o nome escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro, e que ainda será submetido à aprovação do Senado Federal, saberá honrar a cadeira que ocupará no STF, em benefício de um país e de uma Justiça menos desiguais, como determina a Constituição Federal", acrescenta o texto.

À Gazeta do Povo, o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), outra liderança evangélica influente, disse que "não há nada que desabone a conduta do desembargador Kassio". "Como advogado e depois como juiz, sempre teve reputação ilibada", destacou.

Sobre a frustrada expectativa de se ter um ministro evangélico, Feliciano contemporizou: "A Bíblia ensina que para tudo há um tempo e um modo. O momento da indicação de um ministro evangélico no STF chegará. Será na próxima vaga. O presidente é um homem de palavra".

"As informações que temos sobre Kassio Marques são bem negativas", diz deputado do PSL

Feliciano qualifica como "risco zero" a possibilidade de a indicação de Kassio Nunes Marques prejudicar a reputação de Bolsonaro entre os evangélicos. O líder da bancada evangélica da Câmara, Silas Câmara (Republicanos-AM), não se posicionou sobre o tema nos últimos dias.

Um deputado do PSL que conversou de forma reservada com a Gazeta do Povo avalia também que os efeitos da indicação de Nunes Marques e do abraço entre Toffoli e Bolsonaro não deve trazer impactos ao presidente no Congresso. "As críticas que estão acontecendo agora são pontuais. Acho que o impacto que isso pode trazer ao presidente é no longo prazo. Aliás, serão impactos principalmente na sociedade. Os parlamentares conhecem bem essa divisão de poderes, essas fragmentações, não serão afetados por isso", declarou.

Esse deputado, entretanto, é crítico à nomeação de Nunes Marques. E disse que isso contribui para uma espécie de divisão entre dois grupos de apoiadores do presidente: os "idólatras", que defendem todas as decisões de Bolsonaro, e os conservadores, que são alinhados com as pautas apresentadas pelo presidente durante o período eleitoral e que, segundo eles, estariam sendo deixadas de lado no momento atual.

"As informações que temos sobre ele [Nunes Marques] são bem negativas, tanto pelo fato de ele estar integrado a esquemas quanto por ter posições que não correspondem às do eleitorado de Bolsonaro. Ele se diz agora leal a valores conservadores, mas quem garante que vai permanecer assim depois que Bolsonaro deixar de ser presidente? Quando paramos para pensar que ele pode ficar no STF por 27 anos, todo mundo entra em pânico", destacou.

A indicação de Bolsonaro foi publicada no Diário Oficial da última sexta-feira (2). O presidente tem dito que a escolha de Nunes Marques é irreversível, mas apoiadores fazem pressão para que o presidente mude de ideia — o empresário Winston Ling foi um dos que citou que Bolsonaro reviu posições em algumas ocasiões.

Na avaliação do advogado Wesley Bento, sócio da Bento Muniz Advocacia, o fato de a escolha ter saído no Diário Oficial não a torna impassível de revisão. "Então até que seja publicada a nomeação em si, entendo que o presidente pode rever a indicação e submeter outro nome ao Senado, caso queira, mesmo após a aprovação do nome anterior", disse. A previsão é que a nomeação de Kassio Nunes Marques comece a tramitar no Senado após a aposentadoria do ministro Celso de Mello.

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