Embora o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não tenha se pronunciado sobre o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a ser protocolado em 9 de setembro, é amplamente vista como nula a chance de ele aceitá-lo. Único com poder para acolher o pedido, Pacheco é considerado uma barreira intransponível neste momento para iniciar a medida inédita de afastar um juiz do STF, desejada por parte significativa da população e por parlamentares.
Ainda assim, líderes de direita veem na campanha pelo impeachment de Moraes, mesmo que fracasse, um novo impulso para o seu projeto de conquistar a maioria nas cadeiras do Senado após as eleições gerais de 2026. Essa meta será, inclusive, a principal bandeira de seus candidatos.
Ao todo, serão 54 das 81 cadeiras em disputa, dois terços que, a depender dos eleitos, poderão mudar o perfil ideológico da Casa da Federação e, sobretudo, influir decisivamente na escolha de seu presidente na próxima legislatura, abrindo caminho para impeachment de membros do STF.
PL, PP e Novo já estão mobilizados para essa finalidade, com a definição de nomes competitivos para concorrer a senador em 2026 e articulações já costuradas no âmbito das eleições municipais deste ano. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, já se manifestaram algumas vezes sobre essa perspectiva. Bolsonaro pretende até envolver quase todos os membros políticos de sua família para se integrarem ao objetivo de dar verniz conservador ao Senado.
A percepção do ex-presidente, construída ainda durante seu governo, e de seus aliados é de que não adianta sequer eleger o presidente da República se não houver a possibilidade de eleger maioria com folga no Senado para fazer mudanças no STF. A Corte tem hoje nove dos 11 membros escolhidos ou alinhados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro coloca família e amigos em campo para garantir maioria no Senado
O PL está mobilizado para reunir ao menos três importantes nomes da legenda e do clã Bolsonaro na próxima legislatura: a ex-primeira-dama Michelle (DF), o deputado Eduardo (SP), além do atual senador Flávio (RJ), que ocupa uma cadeira desde 2019 e terá de tentar uma nova eleição em 2026.
Há ainda a possibilidade da candidatura no Rio de Janeiro do vereador Carlos Bolsonaro, recém-filiado ao partido do ex-presidente, a depender do acerto com o governador Cláudio Castro, também pré-candidato.
O partido de Bolsonaro já está organizando um plano para que o ex-presidente apoie candidatos de sua confiança em cada estado, incluindo familiares, amigos e alternativas de centro-direita com maiores chances de vitória. O objetivo é eleger uma bancada de 50 parlamentares de direita no Senado, o suficiente para aprovar uma emenda à Constituição (49 votos) ou para um possível impeachment (53 votos), conforme a conjuntura.
Para alcançar esse alvo, nomes próximos de Bolsonaro como Michelle e os deputados do PL fluminense Hélio Lopes e Eduardo Pazuello (ex-ministro da saúde) podem mudar seus domicílios eleitorais para concorrer ao Senado por outros estados.
Segundo o senador Izalci Lucas (PL-DF), mesmo que Bolsonaro não resgate os direitos políticos para 2026, a direita deve continuar a crescer e marchar unida em torno de outra candidatura apoiada por ele. O PL, que tem hoje 13 senadores, deve liderar esse avanço a partir de 2027.
PP e PL tentam combinar estratégias para ampliar bancada da direita no Senado
Valdemar e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), estão traçando um plano ambicioso para eleger senadores em todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, metade do Norte, e mais cinco no Nordeste. Nesse contexto, Bolsonaro pode apoiar candidatos de outros partidos, como Esperidião Amin (PP-SC) e Vicentinho Alves (PP-TO), e formar chapas de direita em alianças estratégicas. No Distrito Federal, a deputada Bia Kicis (PL-DF) é considerada uma alternativa a Michelle para o Senado.
Ciro Nogueira aposta que Bolsonaro poderá até obter anistia e recuperar os direitos políticos se conseguir eleger maioria no Senado em 2026. “Dá até para discutir se Lula, Bolsonaro ou Tarcísio vão ganhar, mas que a direita terá ampla maioria no Senado a partir de 2026, isso ninguém tem dúvida”, disse o senador ao UOL. “Bolsonaro vai eleger de 38 a 41 senadores, somados aos 15 que já são aliados a ele. Imagina a força política de ter 54 senadores a partir de 2027”.
Eduardo Ribeiro, presidente do Novo, informou à Gazeta do Povo que há análises em mãos dos partidos que indicam tendências favoráveis à direita no pleito que vai renovar os mandatos de oito anos para dois terços do Senado. A sua legenda já antecipou suas apostas, como as pré-candidaturas em diversos estados. Entre os destaques estão os deputados Marcel Van Hattem (RS), Gilson Marques (SC) e Ricardo Salles (SP), que acaba de retornar à legenda com esse propósito. “Também deveremos ter o ex-deputado Deltan Dellagnol no Paraná”, adiantou.
Em luta para sobreviver à cláusula de barreira, que fixa percentual mínimo de deputados para os partidos terem acesso a recursos federais, o Novo é hoje representado no Senado apenas por Eduardo Girão (CE), candidato a prefeito de Fortaleza.
Dentre os deputados, existe a chance da candidatura do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem Bolsonaro tem conversado.
Governadores e candidatos à reeleição reforçam a "onda conservadora"
A expectativa é de que outros nomes de peso alinhados à direita também disputem vagas no Senado, como os governadores Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR).
Nessa equação voltada para o horizonte do próximo mandato presidencial, também são considerados os nove oposicionistas eleitos em 2018 que têm mandato até fevereiro de 2027, que terão de buscar votos para a reeleição, caso queiram (ou possam) continuar na Casa. São eles: Eduardo Girão (Novo-CE), Marcos do Val (Podemos-ES), Ciro Nogueira (PP-PI), Carlos Portinho (PL-RJ), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Marcos Rogério (PL-RR), Esperidião Amin (PP-SC), Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Eduardo Gomes (PL-TO).
Conforme levantamento realizado pelo deputado Mauricio Marcon (Podemos-RS) a partir do posicionamento dos senadores em diferentes matérias, publicado no portal Placarcongresso.com, dos 27 senadores titulares ou suplentes eleitos em 2022 que seguirão com seus mandatos até fevereiro de 2031, ao menos 18 mostram maior aderência à orientação da oposição ou têm posição centrista, favorável a qualquer governo, independentemente da ideologia.
Considerando que a próxima eleição para a Casa prossiga na tendência da anterior, de 2022, ao menos 27 dos 54 senadores eleitos ou reeleitos deverão ter perfil conservador. Junto com eles e os remanescentes estariam garantidos de 50 a 55 votos.
Na primeira “onda conservadora”, em 2022, das 27 cadeiras em disputa, foram eleitos 22 senadores e reeleitos cinco. Entre os eleitos, sete eram ex-ministros de Bolsonaro: Sergio Moro (União-PR), Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-TO), Marcos Pontes (PL), Rogério Marinho (PL), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Jorge Seif (PL).
Outros eleitos da direita e centro-direita foram Dorinha Rezende (União Brasil-TO), Laércio Oliveira (PP-SE), Efraim Filho (União Brasil-PB), Dr. Hiran (PP), Cleitinho (Republicanos-MG) e Alan Rick (União Brasil-RR). O PL também elegeu Magno Malta (ES), Wilder Morais (GO), Jaime Bagattoli (RO) e Romário (RJ).
Os cálculos acima são uma projeção para a eleição de 2026 e levam em conta a possibilidade de que o Senado poderá ter maioria de direita e centro-direita. Para tal hipótese se confirmar, seriam necessários dois cenários: a reeleição dos atuais representantes alinhados a esse espectro político e a adesão de novos nomes, como os governadores citados. Se isso de confirmar, a direita terá grandes chances de comandar o Senado durante o mandato do próximo Presidente da República, mesmo que seja Lula ou outro nome da esquerda.
Tendência preocupa ministros do STF e base parlamentar do governo Lula
A disputa antecipada pelas vagas no Senado nas próximas eleições gerais intensificou as tensões entre o Judiciário e o Legislativo. A possibilidade de mudança na composição do Senado a partir de 2027 preocupa ministros do STF, o governo e seus apoiadores.
Outra prova disso é a movimentação de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), virtual sucessor de Rodrigo Pacheco na presidência do Senado a partir de 2025. Com acenos à oposição, ele reforça a preocupação com uma maioria conservadora no Senado mais adiante.
Nesse contexto, Valdemar Costa Neto já confirmou o apoio do PL à volta de Alcolumbre à Presidência do Senado, evitando um isolamento similar ao que ocorreu na derrota de Rogério Marinho (PL-RN) em 2023. Enquanto isso, a oposição busca manter um canal de diálogo com Alcolumbre, que poderá ser crucial para avançar propostas como a anistia dos envolvidos nos protestos do 8 de Janeiro.
Em paralelo, deverão crescer as pressões para Alcolumbre, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), paute o projeto de resolução que compartilha com a Mesa do Senado a recepção dos pedidos de impeachment de juízes de tribunais superiores, hoje restrita ao presidente da Casa.
Relatado pelo senador Espiridião Amin (PP-SC), o PRS 11/2019 encontras-se parado na CCJ e voltou a ser lembrado diante da negativa de Pacheco em levar adiante o impedimento de Moraes.
Primeiro impulso ao plano de “ocupação” da direita veio com ida de Dino ao STF
Caso não ocorra nenhum imprevisto, a estabilidade atual na Suprema Corte só começará a mudar em abril de 2028, com a aposentadoria compulsória de Luiz Fux ao atingir 75 anos.
Em dezembro de 2023, a aprovação de Flávio Dino no Senado teve impacto na oposição, intensificando a meta de conquistar a maioria no Senado. Embora o sinal verde dado a Dino tenha sido visto como derrota imediata, ela serviu de motivação para ampliar sua base e conter o ativismo judicial no futuro. O mesmo deve ocorrer com uma eventual frustração com o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.
Segundo o cientista político Ismael Almeida, os 31 votos contrários a Dino no plenário do Senado não foram derrota absoluta para a oposição. “É um número de resistência clara e crescente, que deve evoluir para os 54 votos necessários à aprovação de impeachments de ministro do STF em contexto futuro”, aposta.
Para ele, a mobilização para barrar a ida do indicado de Lula à Suprema Corte foi o primeiro grande impulso à tendência de a direita buscar nomes e planos de “ocupação” do Senado nas próximas eleições.
Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, afirmou à Gazeta do Povo que a perspectiva de continuidade de uma “onda conservadora” no Senado, agora com mais assentos em disputa, ainda carece de definições. Para ele, a maior delas virá do ambiente econômico. A depender de como evoluírem os indicadores e sobretudo como forem percebidos pelo público, eles devem influir na eleição dos senadores. “Ainda é muito cedo para se fazer qualquer previsão relacionada à eleição de 2026”, ponderou.
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