Gravada em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a advogada Juliana Bierrenbach disse que, no encontro, relatou a existência de uma organização criminosa que agiria de dentro da Receita Federal contra desafetos.
O arquivo com a gravação da reunião foi encontrado no computador do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O conteúdo da reunião foi liberado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nesta segunda-feira (15), após a Polícia Federal deflagrar na semana passada mais uma fase da operação que alega apurar um suposto esquema de espionagem ilegal na Abin, que teria beneficiado Bolsonaro.
Participaram da reunião, além de Bolsonaro e Ramagem, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e as advogadas Juliana Bierrenbach e Luciana Pires. O encontro ocorreu em 25 de agosto de 2020.
As advogadas atuavam na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no âmbito do inquérito que apura suposta prática de “rachadinha” no gabinete do parlamentar.
“O que eu relatei foi a existência de uma organização criminosa no âmbito da Receita. Eles atuam da seguinte forma: Existe uma portaria que é de 2012 que determina que alguns funcionários da Corregedoria da Receita Federal e da área de investigação podem utilizar uma senha de acesso que torna o acesso dos funcionários indetectável”, disse Bierrenbach em entrevista concedida à CNN Brasil, nesta segunda-feira (15).
“Isso acontece ainda mais se você for inimigo deles. Eles fazem uma investigação nos seus dados, vão investigar tudo e aí ou fazem uma denúncia anônima e a Receita investiga ou faz um Relatório de Inteligência Financeira espontânea com informação que não é própria de um relatório desse tipo. E eu fui lá informar isso ao presidente”, completou a advogada.
Advogada diz que esquema estava sob investigação na Receita
De acordo com a advogada, o Sindifisco Nacional – entidade sindical representativa dos Auditores-Fiscais da Receita Federal – abriu uma investigação interna para apurar o assunto.
“Eu avisei inclusive o presidente que descobri que no Sindifisco havia uma investigação que demonstrava que esse era o modus operandi dos funcionários da Receita Federal. Essa investigação do Sindifisco que eu tive acesso demonstra cabalmente uma organização criminosa dentro da Receita”, disse Bierrenbach.
A advogada negou que tenha ido à reunião com o intuito de pedir ajuda para desmantelar o suposto esquema.
“Eu fui levar ao conhecimento das autoridades a existência de uma organização criminosa. Não se foi pedir nenhum tipo de benefício [...] Não virou nada a reunião. O que fizemos foi uma formalização dessa situação ao Serpro e à Receita. Mas não teve nenhum desdobramento”, afirmou.
Por fim, a advogada informou que deixou o caso e que o senador Flávio Bolsonaro não é mais seu cliente.
Flávio Bolsonaro se diz "vítima de criminosos"
Em nota, nesta segunda, o senador Flávio Bolsonaro disse que “um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal" com o "objetivo de prejudicar" ele e sua família”.
Na semana passada, o senador negou qualquer associação com a “Abin paralela”. Flávio disse que foi “vítima de criminosos” que atuaram na Receita Federal para acessar seus dados.
No áudio da reunião, o ex-presidente Jair Bolsonaro sugere que as advogadas conversem com os chefes do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e da Receita Federal para tentar rastrear acessos supostamente irregulares e ocultos a dados bancários de Flávio Bolsonaro que resultaram na investigação da “rachadinha”.
O que dizem a Receita e o Serpro
A Gazeta do Povo entrou em contato com a Receita Federal e com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para comentar sobre as declarações da advogada, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O jornal permanece aberto para quaisquer manifestações dos órgãos sobre o assunto.
Ramagem e Bolsonaro falam em tentativa de chantagem de Wilson Witzel
Ramagem divulgou um vídeo na rede social X dizendo que o objetivo da gravação seria registrar uma alegada tentativa de chantagem de um suposto emissário do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel.
No áudio, Bolsonaro afirmou que o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, prometeu resolver o caso de Flávio em troca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
O ex-governador negou qualquer chantagem e disse que Bolsonaro pode ter tido uma "confusão mental".
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