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Apoiador de Bolsonaro exibe camiseta do partido Aliança pelo Brasil
Apoiador de Bolsonaro exibe camiseta do Aliança pelo Brasil, novo partido do grupo político do presidente.| Foto: Evaristo Sá/AFP

Quando foi fundado em novembro do ano passado, imaginava-se que o Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores idealizaram, deslancharia em menos de seis meses. O otimismo era tanto que se acreditava, na época, que a sigla estaria apta a disputar as eleições municipais de 2020.

Hoje, nove meses após a fundação do partido, o Aliança pelo Brasil ainda tenta deslanchar. Os entraves são tantos que o presidente, então um dos principais entusiastas da ideia, não aposta todas as suas fichas na criação da sigla. Tanto que ele ensaia um retorno ao PSL, com receio de que o Aliança não consiga sair do papel.

As razões pelas quais o partido ainda não saiu do papel são várias. Entre elas, a pandemia do coronavírus; a redução do número de servidores nos cartórios eleitorais; o não reconhecimento de várias assinaturas de apoiadores e, em menor escala, disputas internas e a falta de confiança plena da militância na cúpula do novo partido. Em resumo: é a clássica teoria da tempestade perfeita.

Deputados bolsonaristas querem que Aliança saia do papel

Os deputados bolsonaristas do PSL afirmam em caráter reservado que, apesar das negociações entre o presidente e seu ex-partido, eles não têm um “Plano B” e jogam todas as suas fichas na criação do partido. Justamente por entender que eles não têm mais espaço no PSL, que é comandado pelo deputado Luciano Bivar (PE). “Voltar ao PSL seria fortalecer Bivar e sua trupe formada por Joice Hasselmann (SP) e Júnior Bozzella (SP)”, diz um deputado bolsonarista em caráter reservado à Gazeta do Povo.

Durante esses nove meses, o partido conseguiu homologar apenas 20 mil assinaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar do baixo número de assinaturas aceitas pela Corte Eleitoral até o momento, integrantes do Aliança afirmaram que 160 mil fichas estão no TSE à espera de homologação e outras 100 mil estão em posse do partido.

Para criar uma sigla, são necessárias pelo menos 492 mil assinaturas. Ou seja, caso esses cadastros em posse do partido sejam reconhecidos pelo TSE, a sigla teria em torno de 280 mil apoiadores – pouco mais da metade da meta.

Apesar de o partido ter sido lançado em novembro de 2019, o processo de registro de apoiadores começou de fato em janeiro. E, durante o processo, muitos eleitores perceberam que não poderiam apoiar o Aliança pois eram filiados a outras siglas, principalmente o PSL.

“A minha ex-assessora de imprensa, por exemplo, queria apoiar o partido mas não pôde. Quando ela apresentou sua ficha, descobriu que era filiada ao PT. Logo ela que era contra o PT”, conta a deputada Alê Silva (PSL-MG), uma das coordenadoras do processo de criação do Aliança em Minas Gerais.

Houve também casos de eleitores que assinaram a ficha de apoio à criação do partido e morreram semanas depois. Assinaturas com esse tipo de inconsistência não foram homologadas.

Além disso, com a pandemia do coronavírus, vários cartórios eleitorais não puderam homologar assinaturas pois passaram a trabalhar em regime de home office ou focaram suas ações na organização das eleições de 2020.

O vice-presidente do Aliança pelo Brasil, Luís Felipe Belmonte, afirma que possivelmente até o fim do ano o partido já terá todas as assinaturas necessárias para a sua criação.

“O trabalho continua. Passamos a estabelecer lideranças nos estados e estamos indo para a rua, onde o povo está, para intensificar esse processo de coletas de apoiadores", afirma Belmonte. "Muitos eleitores apoiam o presidente da República, mas nem sempre conseguem ir até um cartório eleitoral registrar uma ficha de apoiamento.”

A expectativa é que nas próximas três semanas, sejam criados oficialmente os diretórios estaduais de Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Bahia, Paraná e Pará.

Otimismo exagerado no Aliança pelo Brasil atrapalhou processo

Nos bastidores, os integrantes do Aliança admitem que houve um otimismo exagerado em se imaginar que a sigla estaria apta a disputar as eleições de 2020.

“O fato é que vivemos uma tempestade perfeita. Nesse período, tivemos Natal, réveillon, carnaval e, em seguida, pandemia. Isso minou a realização dos nossos eventos e inviabilizou nosso processo de coleta e de validação de assinaturas nos cartórios. Mas não vamos desistir”, diz o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), uma das lideranças envolvidas na criação do Aliança pelo Brasil no Rio de Janeiro.

Agora, a ideia é intensificar as ações da futura sigla, por meio de campanhas nas ruas com a instalação de postos de coletas de assinatura, atos nas redes sociais e lives.

Se isso não fosse o suficiente, um outro fator foi considerado decisivo para que o partido capitaneado pelo presidente não saísse do papel: a falta de uma forte liderança que pudesse se dedicar especificamente à sigla.

Desde o início, Bolsonaro emprestou apenas o nome e evitou adentrar nas articulações internas para colocar a sigla de pé. Isso, por dois motivos. É público e notório que o presidente não é afeito a questões de organização partidária. Além disso, Bolsonaro foi aconselhado por aliados a não encampar um projeto de criação de partido para evitar acusações sobre o uso indevido do Palácio do Planalto para interesses pessoais.

Disputas internas atrapalharam legenda

Sem um líder, o Aliança conviveu com uma disputa interna de lideranças e visões: os advogados Karina Kufa, tesoureira do Aliança, e Admar Gonzaga, de um lado; e o empresário Luís Felipe Belmonte, de outro.

Um exemplo: Belmonte sempre foi a favor da realização de atos de ruas para buscar assinaturas de apoiadores, para depois se buscar a homologação delas nos cartórios eleitorais. Kufa defendeu que o partido coletasse apenas as fichas homologadas. Belmonte foi voto vencido, mas, com o tempo, os integrantes do Aliança perceberam que o método defendido por Kufa tornou um processo que já eram complicado em algo extremamente moroso.

E, no meio da disputa, ainda há a militância que nunca foi afeita a Karina, Gonzaga e Belmonte. Para a militância bolsonarista, os três trabalham em busca de interesses pessoais, não necessariamente para ajudar o presidente a ter um partido para chamar de seu.

Além disso, a investigação sobre os atos antidemocráticos, expôs ainda mais essas disputas internas. No dia em que Belmonte e o empresário Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança, foram alvo de mandados de busca e apreensão em junho, acusados de financiar atos antidemocráticos, Karina Kufa aproveitou a oportunidade para criticar seu antagonista no partido.

“Se algum integrante está financiando ataques às instituições, qualquer uma que seja, obviamente não será aceito no partido e faremos a expulsão se for membro”, disse Kufa na época em uma entrevista para a CNN Brasil, fazendo referência a Belmonte. Hoje, ambos dizem que esse episódio foi superado.

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