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Inquérito do golpe

“Era atendimento religioso”, diz defesa de padre indiciado com Bolsonaro

Segundo a PF, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva integraria o núcleo jurídico responsável por formatar decretos e a minuta para um golpe de estado no Brasil
Segundo a PF, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva integraria o núcleo jurídico responsável por formatar decretos e a minuta para um golpe de estado no Brasil (Foto: Reprodução/Vídeo Rede Social)

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A defesa do padre José Eduardo de Oliveira e Silva — um dos 37 indiciados no relatório final da Polícia Federal (PF) sobre tentativa de golpe de Estado — afirma que realizou atendimentos religiosos com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-assessor Filipe Martins. A investigação da PF envolve Bolsonaro e outras 36 pessoas, entre militares, ex-integrantes do governo e civis.

De acordo com os investigadores, o padre teria participado de reuniões em Brasília para tratar da “minuta de golpe de Estado” e integraria o núcleo jurídico que escreveu o decreto. O relatório cita também que o sacerdote teria enviado “uma espécie de ‘oração do golpe’” para Frei Gilson, padre com 5 milhões de seguidores que teve as contas nas redes sociais bloqueadas recentemente, sem explicações.

Na mensagem enviada por José Eduardo, o pároco solicitava que todos os brasileiros, católicos e evangélicos, incluíssem em suas orações os nomes do Ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e de outros dezesseis generais quatro estrelas.

O pedido seria para que Deus desse coragem a essas pessoas para “salvar o Brasil”, agindo com consciência histórica e “não apenas como funcionários públicos de farda”. O recado citava o nome dos militares que receberiam orações, e sugeria ao Frei Gilson que encaminhasse o texto “apenas para pessoas de estrita confiança”.

De acordo com o relatório da PF, o conteúdo demonstra que “Jose Eduardo, logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, já disseminava a ideia de um Golpe de Estado apoiado pelas Forças Armadas, para manter o então presidente no poder e impedir a posse do governo eleito”.

O que diz a defesa do padre José Eduardo de Oliveira

No entanto, a defesa do padre informa que o pedido de orações citado é um dos inúmeros “que ele fez, faz e fará ao longo da vida” a pessoas que confia. “Não há qualquer sugestão de golpe na mensagem e sequer há um texto de oração”, pontua o advogado Miguel Vidigal, em nota.

Segundo ele, o que ocorreu é que, “no afã de querer provar o impossível, o relatório demonstra que o sigilo sacerdotal do religioso e de fiéis foi rompido, por meio do artifício de fishing expedition, prática muitas vezes condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”.

De acordo com a defesa, a PF “incorre em quebra da jurisprudência e da Constituição Federal, e fere também o Tratado Internacional Brasil-Santa Sé, firmado pelo Brasil e transformado em decreto pelo presidente Lula”.

À Gazeta do Povo, o advogado informou ainda que o Padre José Eduardo viaja há anos atendendo espiritualmente pessoas que pedem sua ajuda e que, entre esses atendimentos, estão solicitações de Brasília.

“Inclusive esteve, a convite do então presidente da Câmara, Deputado Rodrigo Maia, no jantar para festejar a posse como ministro do STF do Ministro Alexandre de Moraes”, disse Vidigal.

“Inclusive esteve, a convite do então presidente da Câmara, Deputado Rodrigo Maia, no jantar para festejar a posse como ministro do STF do Ministro Alexandre de Moraes”

Miguel Vidigal, advogado do padre José Eduardo de Oliveira e Silva

A defesa confirma, portanto, que o padre esteve em reunião com o presidente Jair Bolsonaro e Filipe Martins, mas aponta que “era atendimento religioso”, sem qualquer relação com um núcleo jurídico relacionado a decreto de golpe.

"Até porque o padre não é advogado e, portanto, não tem conhecimento técnico nenhum para produzir um documento dessa natureza", aponta Vidigal, citando ainda que a relação do sacerdote com o ex-assessor Filipe Martins é decorrente do Movimento Pró-Vida.

Quem é José Eduardo de Oliveira e o que mais o relatório fala sobre ele?

No relatório da PF, inclusive, é apresentado um e-mail (imagem abaixo) a respeito do tema enviado pelo sacerdote a Filipe Martins. Na mensagem, de 2 de julho de 2020, o padre pede agendamento de uma reunião com o então presidente Bolsonaro para tratar dos dispositivos legais vigentes sobre o aborto no Brasil.

Segundo a defesa do pároco, desde 2013, ele tem frequentado Brasília, “não só em atendimentos espirituais, mas também em defesa da vida, lutando contra o crime do aborto”.

O relatório cita ainda que o padre José Eduardo tinha salvo em seu celular os telefones de investigados como o jurista Amauri Feres Saad — suposto autor da minuta de golpe —, e também de Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro. Um dos contatos encontrados com o nome do ex-presidente foi criado em 2013, enquanto o mais recente é de 18 de novembro de 2022.

Segundo a PF, no dia seguinte a essa data teria sido realizado um dos encontros entre Filipe Martins e Jair Bolsonaro para tratar “da minuta de golpe de Estado, onde também esteve presente o padre José Eduardo”.

Quem é José Eduardo de Oliveira e Silva?

O padre católico José Eduardo de Oliveira e Silva nasceu em Piracicaba (SP) em 1981, foi ordenado sacerdote da Diocese de Osasco em 2006 e hoje atua na Paróquia São Domingos, periferia de Osasco, na região metropolitana São Paulo.

Ele é doutor em Teologia Moral pela Universidade da Santa Cruz, em Roma, e também atua como palestrante e conferencista. Possui mais de 430 mil seguidores em seus perfis e é conhecido por tratar de temas como gênero, família, defesa da vida e educação.

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