O presidente Jair Bolsonaro está aproveitando a quarentena forçada, consequência da infecção pelo coronavírus confirmada na terça-feira (7), para ampliar a política de pacificação do Planalto com o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e entre as diversas alas dentro do próprio governo – algo que já vinha ocorrendo há algumas semanas.
Esse movimento foi caracterizado por duas atitudes nesses dias de isolamento de Bolsonaro. Uma deles é a decisão de promover a troca de vice-líderes na Câmara, numa jogada em que o presidente tenta agradar ao Centrão e ao STF ao mesmo tempo. A outra atitude é a prudência na escolha do nome do novo ministro da Educação – que está sendo adotada para não criar atritos políticos, inclusive dentro do próprio gooverno.
O que está por trás da troca dos vice-líderes
A troca de dois vice-líderes do governo na Câmara dos Deputados foi interpretada nos meios políticos como parte da tentativa de reaproximar o Planalto do STF.
Os deputados Otoni de Paula (PSC-RJ) e Daniel Silveira (PSL-RJ) têm feito críticas públicas a ministros do Supremo. Eles também são investigados no inquérito da Corte que apura a realização de atos antidemocráticos. Além disso, a abertura dessas duas vagas abre espaço para o governo garantir a governabilidade ao abrigar, em cargos importantes, deputados do Centrão – grupo de partidos que têm cerca de 200 dos 513 deputados.
Otoni de Paula havia chamado na segunda-feira (6) o ministro do STF Alexandre de Moraes de "lixo" e "canalha". Na quarta, anunciou que havia deixado a vice-liderança do governo na Câmara para não prejudicar Bolsonaro. Segundo ele, estaria ocorrência uma tentativa de associar sua fala com o presidente.
Já Daniel Silveira inicialmente reagiu com indignação ao ser informado, na quarta-feira (9), que seria retirado de uma das vice-lideranças do governo na Câmara. Disse que era uma manobra para dar cargos a parlamentares do Centrão. Mais tarde, Silveira atenuou suas declarações, reconhecendo a necessidade de o governo ampliar sua base no Congresso.
Prudência de Bolsonaro na escolha para o MEC é para não criar briga interna
A escolha do novo ministro da Educação também entrou na estratégia de Bolsonaro de evitar desgastes políticos. Apesar da pressão para que a definição ocorra o quanto antes, fontes do Planalto garantem que a demora acontece porque o presidente está sendo criterioso na escolha do novo ministro, a fim de evitar ser alvo de críticas e gerar uma nova crise com prejuízos políticos para o governo.
Também há o receio de que a escolha, dependendo de quem venha a ser nomeado para o ministério, provoque um racha dentro do próprio governo. Isso porque os nomes apresentados não têm tido apoio político ora da ala ideológica ou da ala militar. Ambos grupos querem comandar o MEC e não chegam a um consenso.
A todo instante surgem nomes para o Ministério da Educação e, no momento, os mais cotados para o cargo são: Anderson Correia, reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e ex-presidente da Capes, autarquia vinculada ao MEC; deputado Major Vitor Hugo, líder do governo na Câmara; Ilona Becskeházy, secretária de Educação Básica do MEC; Sérgio Sant’ana, assessor especial do MEC (aposta do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente); e Milton Ribeiro, ex-vice-reitor do Mackenzie e membro da Comissão de Ética da Presidência da República.
Fontes ligadas à Presidência informam que reuniões de Bolsonaro com os cotados têm acontecido por videoconferência, mas nem o Planalto e tampouco os indicados admitem os encontros. A ordem é discrição.
Enquanto isso, quem responde pela pasta é Antonio Paulo Vogel, secretário-executivo, atualmente ministro interino. Ele chegou a integrar a lista dos prováveis nomes para assumir o ministério. Em entrevista coletiva, Vogel admitiu ter conversado com o presidente por videoconferência, mas disse que a escolha definitiva de um nome para o MEC não foi tratada nessa reunião on-line. “Me reuni com o presidente, sim, hoje. Mas não falamos sobre o futuro ministro da Educação”, disse.
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